Em entrevistas de rádio e declarações públicas recentes, a senadora sergipana Maria do Carmo (DEM) tem informado que pretende, em breve, deixar o Senado para se dedicar ao "trabalho social" da Prefeitura de Aracaju, que tem a frente o seu marido, João Alves Filho, também do Democratas.
Como é coisa rara ouvirmos Maria se manifestar publicamente, aproveitemos a oportunidade para discutir a sua atuação como representante de Sergipe no Congresso Nacional. É o que faço aqui, a partir de algumas perguntas simples.
Pergunta 1: Qual a novidade da “pretensão” de Maria em deixar o Senado? Ou melhor, o motivo da sua potencial saída é mesmo uma “pretensão”?
Lembremos que já no início da última campanha eleitoral, muita gente (principalmente da política e da imprensa) indicava para a existência de um acordo entre a família Alves e a família Franco, nos seguintes termos: Maria seria a candidata, por ter um capital político que lhe situava bem na disputa eleitoral, mas não demoraria muito para Ricardo Franco, seu primeiro suplente, assumir. Chega-se a comentar que a família Franco injetou mais de R$ 600 mil na campanha de Maria, como "investimento" na eleição.
Abre parênteses. A família Franco tem como principal liderança política o ex-governador, ex-deputado estadual, ex-deputado federal e ex-senador, Albano Franco. Isso, aquele mesmo que aparece cotidianamente na programação da TV Sergipe, não por coincidência, emissora de sua propriedade. Albano Franco tem uma frase célebre: "em Sergipe, todo mundo se conhece". Como as famílias Alves e Franco se conhecem de longa data, não custa perguntar: teria sido a cifra de R$ 600 mil o preço por alguns anos no Senado?
Fecha parênteses. Passemos à próxima pergunta.
Pergunta 2: E Maria ocupa mesmo a cadeira do Senado?
Levantamento do portal Congresso em Foco – especializado na cobertura jornalística do Congresso Nacional – mostrou que, durante o ano de 2013, Maria do Carmo se ausentou de 80% das votações no Senado. Com uma curiosidade: a frequência de Maria nas sessões é até alta. Por que, então, mesmo participando das sessões, Maria não vota?
Tem mais. Ainda de acordo com informações do Congresso em Foco, desde 2006, Maria fez somente quatro discursos por ano. O problema não é apenas numérico, mas político, já que a maioria das suas falas se deu em sessões solenes, como homenagens, condecorações e datas comemorativas. Nos debates dos Projetos de Lei, Propostas de Emenda à Constituição e Medidas Provisórias, ou seja, no fundamental da atividade parlamentar, não se conhece a opinião de Maria do Carmo.
Nos dois primeiros mandatos como Senadora, 16 anos, Maria apresentou 64 proposições, número considerado bastante tímido em termos de produção legislativa. E, ainda segundo o Congresso em Foco, apenas duas de suas propostas viraram lei até hoje: uma instituiu o Dia Nacional do Inventor e outra relacionada ao incentivo à apicultura.
Frente a esses dados, a pergunta 3 não poderia ser outra: deixando o Senado e se integrando à equipe da Prefeitura de Aracaju, a atuação de Maria na capital sergipana será semelhante ao seu trabalho na capital federal ou aqui ela desempenharia papel central na estratégia de privatização da cidade levada a frente por João Alves?