Sergipe, no dizer de Pinheiro Machado, político gaúcho, líder do Partido Republicano Conservador, general honorário do Exército, (1852-1915) Sergipe era “Pátria da Filosofia e do Direito.” O conceito elevado de Sergipe, que corria à boca solta em todo o País, decorria da ação de um grupo de intelectuais sergipanos – militares, bacharéis, médicos – que se tornaram, com suas obras, pilares da cultura brasileira. Muitos deles viveram, exerceram suas profissões e publicaram suas obras em outros lugares, muito embora sem perderem, jamais, o vínculo sentimental e lúdico com a terra berço. O melhor atestado é conferir obras de Tobias Barreto, Silvio Romero, João Ribeiro, e outros grandes. Alguns desses intelectuais notáveis, como José Calasans, Mário Cabral, Nelson de Araújo, Lauro Fontes, para citar aqueles que alojaram seus ideais na Bahia, e Aloysio Sampaio, instalado em São Paulo, de onde expede, para todo o Brasil, a sua Revistada Literatura Brasileira, mantiveram, sempre, uma intimidade permanente com Sergipe e com os sergipanos. O tempo, que injuria o cotidiano das pessoas, tem castigado com a velhice e com a morte, muitos dos sergipanos arribados nas várias diásporas. Morreram, no Rio de Janeiro, Armindo Pereira, romancista e crítico literário, filho do saudoso professor Manoel Cândido Santos Pereira, autor de Açoite e de Flagelo, dois modernos romances brasileiros, e Paulo Carvalho-Neto, ensaísta do folclore, romancista, autor de Suomi, Meu Tio Ataualpa, Praça Mauá, e outros livros, incluindo as homenagens feitas ao seu pai, Antonio Manoel de Carvalho Neto, um dos grandes homens públicos e intelectual de Sergipe. Morreram em Salvador Nelson de Araújo, professor da Universidade Federal da Bahia, autor de uma história do teatro e de livros de contos e novelas, José Calasans, mestre com todas as grandezas, especialista em Canudos e no Conselheiro, intérprete da história do Brasil, com parte destacada para os fatos sergipanos, Junot Silveira, jornalista, biógrafo de Tobias Barreto, Jenner Augusto, irmão de Junot Silveira, artista plástico universalizado pelo reconhecimento de sua arte fixando alagados. Sobrevivem, Joel Silveira, jornalista, cronista e contista, no Rio de Janeiro, Arivaldo Fontes, militar, professor, historiador, também no Rio de Janeiro, onde presta relevantes serviços à causa da cultura, secretariando o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Na Bahia continuam firmes Lauro Fontes e Mário Cabral, da mesma idade, beirando os 93 anos, com o mesmo espírito e a mesma devoção a Sergipe e especialmente a Aracaju. Lauro Fontes tem publicado livros de lembranças dos seus velhos guardados, enquanto Mário Cabral continua fazendo sonetos, evocando Aracaju, notadamente na década de 1940, republicando parte dos seus grandes livros, como Roteiro de Aracaju, um clássico, uma introdução lírica à cidade e capital. Mário Cabral é, além de poeta, de romancista, um crítico da melhor qualidade, que teve sempre a capacidade de entender obras universais, fossem dos seus patrícios sergipanos, fossem brasileiras, ou tivessem a assinatura de escritores estrangeiros. Mário Cabral vive a solidão e o isolamento. Morreu há poucos dias sua companheira, amiga, cúmplice, platéia de suas leituras, D. Scyla Cabral, deixando mais que a ausência e a falta, levando um pedaço da alma do escritor, devotado amante, na partilha dos bens do coração. Mário Cabral já recebeu, é certo, alguma homenagem de Sergipe, mas é pouco, pois seu crédito é muito maior do que possa caber numa medalha ou num título. Sergipe deve a Mário Cabral tudo aquilo que possa significar reconhecimento, admiração, respeito, justiça. É preciso que os livros de Mário Cabral circulem nas cátedras das escolas de todos os níveis, pois ele escreveu para a pluralidade dos leitores, e que suscitem estudos, debates, monografias, dissertações, teses, pela qualidade e atualidade de sua contribuição de intelectual. Basta conferir, em qualquer dos seus textos, a grandiosidade de uma obra perene, assinada por este homem de incrível crença na literatura, que atende pelo nome ilustre de Mário Cabral.
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