MAROIM, A CIDADE E SEU CRONISTA

A emancipação política de Sergipe fez nascer e crescer vilas e cidades, ocupando estrategicamente o território, como suporte das atividades econômicas. A crescente produção açucareira nas terras pretas e gordas do massapê fez de Laranjeiras e de Maroim dois centros urbanos destacados na Província, para onde convergiam as atenções. Estância, ao sul, Vila Nova , hoje Neópolis, e Propriá, ao norte, Itabaiana e Lagarto, ao oeste, juntamente com a capital, São Cristóvão, davam a Sergipe os ares do progresso. Saveiros e Sumacas entrando e saindo dos rios atestavam o grau de riqueza da pequena Província, servindo para o intercâmbio social e cultural com os portos mais importantes do Império e alguns portos do mundo, destino e ao mesmo tempo origem de mercadorias. A exportação de açúcar e de outros produtos da terra correspondia a importação dos bens que a insipiente sociedade consumia. Maroim, vila em 11 de agosto de 1835 e cidade em 5 de maio de 1854 retratava, com fidelidade, a situação próspera de Sergipe. E o melhor testemunho está na visita que fez a Maroim o Imperador Pedro II, a Imperatriz e comitiva, em janeiro de 1860. Todas as ruas estavam calçadas e limpas, as casas pintadas ou caiadas, e as obras, em conclusão, da Igreja Matriz, com recursos do Barão de Maroim confiados ao vigário José Joaquim de Vasconcelos, encantavam os ilustres visitantes. Maroim tinha, em todos os seus limites territoriais, cerca de 4 mil habitantes, sendo mais de 2 mil deles moradores da cidade, onde conviviam com negociantes estrangeiros, como os Sharhamm, de refinado gosto, que organizaram um pequeno Museu de História Natural, com Eduardo Wien (mais tarde Wynne, com descendência sergipana), então Vice Cônsul da Suécia e da Noruega, dentre outros. Os historiadores atribuem grande importância no surgimento e no progresso de Maroim ao proprietário rural José Pinto de Carvalho, que integrou a primeira Assembléia Provincial e o Conselho da Província que a antecedeu, e sua mulher Ana Aguiar Pinto, pais do bacharel Sebastião Pinto de Carvalho, um dos mais ilustres sergipanos, nascido no território maroinense em 1827, estudante de direito em Coimbra, Portugal, deputado provincial em Sergipe, professor de Filosofia no Liceu da Bahia. José Pinto de Carvalho era, também, o distribuidor dos principais jornais editados em Sergipe, a começar pelo Recopilador Sergipano, editado em Estância, em 1832, dando à população de Maroim a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento da imprensa e da própria Província. Maroim deu a Sergipe e ao Brasil figuras ilustres como o Barão de Maroim – João Gomes de Melo, o poeta Cleômenes Campos, Deodato Maia e Alberto Deodato, ambos escritores e políticos, o artista plástico e professor Oséas Santos, dentre muitos outros nomes. Coube ao filho de Maroim Joel Macieira Aguiar, nascido em 11 de agosto de 1905, no dia da celebração dos 70 anos da criação da Vila, ser a um tempo o historiador e o cronista da cidade que, agora, completa exatos 150 anos. Seu primeiro objeto de estudo foi o Gabinete de Leitura, fundado em 1877 e que representa o melhor exemplo da grandeza intelectual daquela cidade. Na lista dos fundadores, entre eles João Rodrigues da Cruz, que além dos negócios em Maroim foi o fundador da fábrica Sergipe Industrial, de tecidos, instalada em Aracaju em 1884. O funcionamento do Gabinete de leitura, tanto como biblioteca, quanto como centro cultural, atraiu visitantes ilustres, como Tobias Barreto, conferencistas de vários temas, oradores, e assistentes. Em 1927 Joel Macieira Aguiar publica a 1ª edição do Escorço Histórico do Gabinete de Leitura de Maroim, evocando 50 anos de atividades, salvando uma memória que o tempo e o descaso, fatalmente, destruiria. O pequeno livro de Joel Macieira Aguiar é um roteiro de informações, básico para a compreensão do fenômeno cultural no interior sergipano, e que tem no velho Gabinete a expressão maior daquele tempo. Joel Macieira Aguiar, cirurgião dentista formado na Bahia em 1926, trocou de profissão, passando a estudar direito e ainda acadêmico, também na Bahia, já exercia o cargo de Promotor em Capela e em Neópolis. Formado em 8 de dezembro de 1936 voltou a Sergipe e algum tempo depois é nomeado Delegado em Aracaju, na Interventoria de Eronídes Carvalho. Foi nessa condição que Joel Macieira Aguiar, segundo registro de Manoel Cabral Machado no seu Brava Gente Sergipana e outros bravos, coordenou o levantamento cadavérico de Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampeão, e os homens e mulheres assassinados na gruta do Angico, em Poço Redondo, em julho de 1938. Mais tarde Joel Macieira Aguiar entrou para a magistratura, sendo juiz em Maroim, em Estancia, e em Aracaju, assumindo na capital o Juizado de Menores. Foi nomeado desembargador, aposentando-se, aos 70 anos, em 1975. Aposentado voltou a advogar, comparecendo com regularidade ao seu escritório por cerca de dez anos. Em 1986 Joel Macieira Aguiar prestou homenagem a Maroim, fazendo a crônica da cidade e a história do Gabinete de leitura, num só volume, que vai agora reeditado, como forma de homenagear os 150 anos de elevação da Vila à categoria de Cidade. O escritor revisita os tempos áureos, registra presenças importantes de novas empresas e empresários, elaborando uma moldura para sua velha paixão, o Gabinete de Leitura. Maroim da fábrica de tecidos, de Dantas & Cia (Josias Dantas e Alcebíades Dantas), antes Dantas, Leal & Cia, da fábrica de bebidas Hanequim, da Casa de Crédito Popular, de Aurélio Barreto e de Bráulio Barreto, da Igreja da Boa Hora, do Seminário Menor, do Preventório São José, do Abrigo Santo Antonio, do Hospital de Caridade, do Maroim Hotel e do Hotel Santa Terezinha, do Cine Cacique, da banda de música Euterpe Maroinense, do Cine Tobias Barreto, que também foi teatro, do jornal O Comércio, semanário literário ativo na década de 1930, honrando as folhas oitocentistas, desde A Justiça, editada por A N. Aires de Souza, (1862), O Maroinense, de propriedade de Antonio Augusto Gentil Fortes, (1886-1891), O Clarim, de propriedade de uma Associação, O Lavrador (1889) e a própria Revista Literária, do Gabinete de Leitura (1890-1891), dos times de futebol, Ipiranga, Maroinense, Brasiliense, dos blocos de micareme Chic e Paladinos e Santa Cruz, das Usina Pedras, do coronel Gonçalo Rollemberg do Prado, Mato Grosso, dos herdeiros de Gonçalo do Faro Rollemberg, Jordão, de Simeão M. Aguiar Menezes e Caraíbas, de Sabino Ribeiro & Cia, depois pelos seus herdeiros (ainda que estivesse em território de Santo Amaro), não parece a mesma cidade nos anos de 1960, quando técnicos norte americanos e sondadores da Petrobras procuravam petróleo na região, ou quando os bares de Nouzinho, de Belo e de Paulo perdem movimento com a estrada federal e a retirada dos ônibus e dos caminhões de vários municípios, com destino a Aracaju. Maroim passou a ser uma espécie de cidade – dormitório, sem o trem de passageiros, sem os saveiros que tomavam o leito do Guahamoroba, sem as ancorêtas fabricadas, artesanalmente, no Lachez, sem os armazens de Soares & Prado, Manoel Corumba, Maynart & Companhia, e sem o próprio Gabinete de Leitura, praticamente fechado, ou tendo seu grande salão transformado em clube social. Joel Macieira Aguiar é, com seus livros, o melhor guardião da memória da sua terra, da cidade dos seus encantos, e viveu para assistir a decadência econômica do município. Aos 89 anos, Joel Macieira Aguiar morreu em Aracaju, em fevereiro de 1995, sendo enterrado, por vontade expressa aos seus familiares, na sua sempre querida Maroim. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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