Maruim e Rosário do Catete (SE): Apogeu virou história

Rio Ganhamoroba corta Maruim

Da vital economia do ciclo do açúcar ao comércio, Maruim, distante poucos 30km de Aracaju e localizada às margens do rio Ganhamoroba, um dos principais afluentes do rio Sergipe, teve seu lugar de destaque na economia do estado no século XIX e hoje casarões e prédios antigos contam parte dessa história.

Por ser uma região cortada por rios, o transporte fluvial era um denominador a mais na economia de Maruim e a fazia um grande entreposto fluvial para a locomoção de pessoas e cargas. Muitas esperavam suas embarcações no “Porto das Redes”, antiga Alfândega de Sergipe.

Ruínas da caga grande do Engenho Pedras e capela

Em Rosário do Catete, ruínas de engenhos e casarões das zonas urbana e rural mostram o apogeu do período açucareiro colonial nas bacias dos rios Sergipe e Japaratuba, região Leste de Sergipe, chegando a ser uma mola propulsora na competição do Brasil canavieiro com o açúcar produzido nas Antilhas. O Engenho Pedras, localizado na zona rural de Maruim, hoje em ruínas, chegou a ser o principal do estado.

Maruim

O Tô no Mundo visitou algumas das preciosidades desses dois municípios sergipanos e conta parte da história como atrativo turístico e cultural.

Maruim vivenciou o apogeu do período açucareiro em meados do século XIX, devido à pujança do çúcar, já que em determinadas épocas a produção sergipana dos engenhos no Vale do Cotinguiba era quase que totalmente escoada pelo entreposto do vilarejo para os vizinhos Bahia, Pernambuco e até Rio de Janeiro, através do transporte fluvial.

O município chegou a sediar oito consulados, todos construídos graças às plantações de cana-de-açúcar e de algodão, que atraíam europeus. A grande movimentação era a efervescência em uma região pobre, mas economicamente ativa, na qual a riqueza rural ficava em mãos de poucos fazendeiros em detrimento ao crescente aumento populacional da massa mais pobre.

Igreja de Sennhor dos Passos tombada pelo Patrimônio

Conta a história que o primeiro povoamento nasceu no encontro dos rios Sergipe e Ganhamoroba, nos arredores do Porto das Redes (antiga Alfândega de Sergipe), denominado de povoado Mombaça. Mas, como havia muitos mosquitos, a povoação se mudou do local. Daí vem o nome de Maruim, palavra de origem tupi-guarani que significa mosca pequena ou mosquito.

Praça principal de Maruim

A povoação foi transferida para a localidade mais acima, às margens do rio Ganhamoroba, onde já estava situado o antigo Engenho Maruim de Baixo, do proprietário Manoel Rodrigues de Figueiredo.

A posição entre o rio e o interior permitiu a Maruim a instalação das mais importantes casas comerciais da Província. Fato este que gerou destaque como centro urbano, comercial, político e social; favorecendo, mais tarde, a sua concessão de vila precocemente. Nas proximidades do Engenho Maruim de Baixo, circunvizinho à Igreja São Vicente, foram construídas várias casas, com a permissão do fazendeiro Rodrigues de Figueiredo.

Praça principal de Maruim

No ano de 1859, a navegação a vapor começou entre Aracaju, Maruim e Laranjeiras, proporcionando mais uma ferramenta para impulsionar o comércio. A navegação possibilitou também a visita, em 14 de janeiro de 1860, do imperador Dom Pedro II, da imperatriz Tereza Cristina e sua comitiva. A comitiva do imperador visitou diversos prédios públicos em Maruim.

Casa grande Engenho Pedras

Basta ter um olhar mais atendo para a Igreja Matriz dos Passos (1862) e seu arredor que se nota o poderio de casarões ricos em detalhes e história.

Algumas construções foram instaladas à beira-rio para negociar o açúcar, a exemplo dos armazéns e trapiches construídos pelo português José Pinto de Carvalho, muitas delas contam a história até hoje, funcionando casas comerciais e um mercado.

Nosso Senhor dos Passos – A Igreja Matriz de Senhor dos Passos iniciada em 1848 e inaugurada em 17 de março de 1862 por intermédio de João Gomes de Mello, o Barão de Maruim, apresenta um estilo barroco.  É o primeiro prédio do município tombado pelo Patrimônio Nacional em 10 de setembro de 2014, por conter traços de uma época e preservar bens móveis integrados à igreja, bem como os que estão na casa paroquial.

Patrimônio em ruínas

Em Sergipe, há também bens tombados como Patrimônio Histórico e Artístico em Brejo Grande, Divina Pastora, Itaporanga D’ Ajuda, Estância, Laranjeiras, Nossa Senhora do Socorro, Riachuelo, Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão e Tomar do Geru. Esse reconhecimento leva-se em conta os aspectos arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes e das artes aplicadas.

Casa grande do Santa Bárbara

Barão de Maruim – Na sede municipal e nos arredores do município, antigos engenhos revivem o poderio dessa época. Não somente em Maruim, mas propriedades aristocratas canavieiras de outrora também resguardam a história de Sergipe nos municípios de Rosário do Catete, Siriri, Japaratuba, Riachuelo e Santo Amaro das Brotas.

Não se sabe ao certo onde nasceu João Gomes de Mello, o Barão de Maruim, proprietário rural e político com forte influência na política brasileira. Barão de Maruim foi deputado geral, vice-presidente de província e senador do Império do Brasil, chegou a ser presidente da província de Sergipe, cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo, oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro, cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa e comendador da Ordem de São Gregório Magno.

Engenho Santa Bárbara
Engenho Pati – conservado

Conta os estudiosos que o Engenho Santa Bárbara, localizado em Carmópolis, era administrado por Teothônio Correia Dantas casado com Clara Angélica de Menezes. O engenho, dividido em Santa Bárbara de Cima e Santa Barbara de Baixo, possuia duas casas grandes, uma delas, resistindo ao tempo em ruínas, encontra-se sem uso e em avançado grau de deterioração. Preconiza-se que o Barão de Maruim nasceu na casa de Santa Barbara de Cima.

Na década de 70 esse engenho era considerado como um dos mais belos e atraía as atenções de viajantes que por ali passava. Parte desse apogeu caiu por terra e o que restou da arquitetura do século XIX deteriora-se cada vez mais.

Engenho Pedras – Um outro exemplo da arquitetura dessa época, e que merece uma visita devido a imponência da construção baseada no palácio Olímpio Campos, é o Engenho Pedras.

Engenho Pati

O casarão colonial ao meio, as casas simples circundando-o, do lado esquerdo da edificação, a igrejinha em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Assim é o complexo arquitetônico com destaque para a antiga casa-grande. Localizado no munícpio de Maruim, o Engenho é de propriedade privada da família Franco e suas ruínas contam um Sergipe açucareiro, época de acúmulo de fortunas, casamentos feitos por interesses entre famílias para aumentar a quantidade de engenhos e muito poder econômico.

Mobiliário Engenho Pati

Basta chegar até lá que o visitante sente a suntuosidade da construção. Da antiga sacada em ruína, os proprietários tinham a visão de todo o engenho, além das casas dos trabalhadores, antigas instalações escravocratas.

Conta à história que o engenho Pedras foi um dos mais importantes de Sergipe, no que tange a quantidade de terras e de escravos. Datado do final do século XIX, a construção está bastante deteriorada, sem teto e com paredes em constante depreciação. Junto com ele, vai-se um pouco da história sergipana, do ciclo da cana, quando o então proprietário Gonçalo Rolemberg do Prado marcou a história canavieira do Cotinguiba. A visita é feita com autorização da família e é necessário trafegar por uma estrada de terra entre canaviais, tão logo deixa a BR 101, após o trevo de acesso `a Laranjeiras.

Engenho Pati

A arquitetura do engenho é composta pela casa grande (que foi uma imitação do palácio do governo); de pequenas casinhas de alvenaria que abrigavam os escravos e por por uma capela.Sempre alicerçados em locais estratégicos, os engenhos de Sergipe apresentam, principalmente, um denominador comum: ficam próximos de rios.

O Engenho Pedras possuía à epoca mais quatro outros engenhos agregados – Unha de Gato, Vitória, Maria teles e São Joaquim (que não existem mais). Antes de as suas moendas serem movidas a vapor, o que aconteceu nas ultimas décadas do século XIX, Pedras era um engenho “banguê”, movido a cavalo. Contam que foi o engenho que mais possuiu escravos em Sergipe, chegando a 129, no ano de 1866. Provavelmente a monumental casa grande só foi construída no final do século XIX na posse de Sr. Gonçalo Vieira Mello Prado que também estancou o seu declínio.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Engenho Pati – Na zona rural do município de Rosário do Catete (SE), um casario em estilo colonial mostra que em tempo de outrora a região teve bonança. A casa-grande do antigo engenho Pati revela um pouco do período açucareiro de Sergipe, datado do início do século XIX. Na entrada da fazenda, a sensibilidade dos proprietários fez conservar parte da chaminé do engenho antigo.

O casario está preservado e é circundado por várias histórias, a exemplo de negros fujões que atacavam viajantes da região, de personagens ilustres que moraram ali, a exemplo de Leandro Marciel, além de um poeta apaixonado pela filha do proprietário que morreu de amor.

Rosário do Catete

O mobiliário recuperado e conservado, as fotos da família,  a construção de alvenaria com madeira, o porão que outrora deva ter sido uma senzala e as áreas externas ressaltam a importância da conservação da história, configurando-se em um dos locais mais atraentes de ser visitado na região.

Paço Municipal de Rosário do Catete

Paço Imperial e ferrovia – Na sede do município de Rosário do Catete não deixe de percorrer a praça principal com os casarios ao redor da igreja de Nossa Senhora do Rosário, além de fazer uma visita a antiga estação ferroviária, que servia para transportar o açúcar para Aracaju. Em frente à igreja fica o Paço Municipal, com um sobrado de arquitetura singular que pertenceu a família de Leandro Maciel, hoje funcionando um prédio público, mas que pode ser visitado.

Foi em Rosário do Catate onde um grande feito da história de Sergipe aconteceu: a assinatura da ata de transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju, num ato do vice-presidente do Estado, Barão de Maruim, em 1854. De grande influência nacional, o Barão convocou todos os deputados para comparecer em seu engenho Unha de Gato, onde instalou a Assembleia Provincial, quando foi aprovada a transferência da capital sergipana de São Cristóvão para Aracaju.

Antiga casa de Leandro Maciel
Terminal ferroviário

Fotos: Silvio Oliveira

Contato: silviooliveira@infonet.com.br

Siga-nos: www.facebook.com.br/silviooliveira

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais