Mataram a Esperança

No início dos tempos, quando grandes movimentos sísmicos — maremotos, terremotos e glaciações — transformaram a crosta terrestre, um grupo de pessoas ficou preso numa fenda muito grande, onde não entrava a luz do sol, o ar era muito pesado, a vegetação era diferente, não havia a separação entre o dia e a noite, predominando uma absoluta escuridão.

Esse grupo de pessoas multiplicou-se formando uma grande comunidade e lá, como em toda comuna, existiam: leis, líderes e governos. Lá, não era diferente, havia aqueles que, normalmente mais velhos, exerciam as funções de mando (chefes, pajés ou cargos de governança). Havia também rígidas normas que deveriam ser cegamente obedecidas, sob a pena de severas punições, com perdas patrimoniais, da liberdade e, até, da vida. Por exemplo, todos deviam gozar de absoluta saúde mental; qualquer desvio de conduta seria considerado próprio de alguém alienado mentalmente (ou mesmo louco) e, a penalidade para este “crime” era o sacrifício capital, a morte; e a execução obedecia a uma ritualística pública para que todos tomassem conhecimento. Crimes como traição, homicídio eram, também, severamente punidos da mesma forma.

Havia uma proibição que tratava os descumpridores com o mesmo rigor dos crimes: era terminantemente proibido ultrapassar certos limites, ir-se além de determinados lagos, fendas, despenhadeiros, pois acreditavam tratar-se de lugares encantados. Estavam convictos de que além daqueles limites, existiam animais ferozes e bravios, e quem ousasse transpor aqueles limites nunca mais retornaria.

Certo dia, dois jovens resolveram desafiar o destino e as leis e, com suas mochilas às costas, seguiram, mesmo sob os protestos de seus pais e amigos, rumo ao desconhecido. Caminharam dias, meses e anos, seguiam uma “estrela” que aparecia no horizonte. Passaram por lagos e rios profundos, correntezas violentas, fendas estreitas e despenhadeiros íngremes. Enfrentaram animais bravos e peçonhentos, além de florestas sem fim. Após muito caminhar, seguindo aquele ponto luminoso, perceberam que aquilo que imaginavam ser apenas uma solitária estrela, crescia à proporção que andavam e, por fim, perceberam tratar-se, na verdade, de uma grande abertura e, através dela havia mais claridade.

Por fim, o sol, as árvores frondosas, diferentes da vegetação conhecida lá embaixo. Ficaram extasiados pelas descobertas e se deliciando com pássaros coloridos, flores, animais, vozes e sons diferentes. Era tanta beleza que eles ficaram encantados com o que viam e sentiam-se tão deslumbrados que tinham dificuldades de entender por que viveram tanto tempo naquela absoluta escuridão, sem esse sol, sem essas cores, sem esse ar e, sobretudo, sem essas árvores?.

Chegaram a uma conclusão e disseram um para o outro: necessitamos, urgentemente, voltar aos nossos e avisá-los que o paraíso existe e é aqui. Temos de dizer-lhes que esta maravilha está logo após a zona proibida e que não há estrela solitária, e que, na verdade, aquela claridade é a saída da escuridão eterna. Resolveram, pois, voltar.
Refizeram as pegadas e novamente passaram por todas as dificuldades e perigos, fendas estreitas, rios bravios, animais ferozes, despenhadeiros e matas sem fim e, depois de vários anos, muito cansados e quase sem forças, chegaram de volta à cidade escura e úmida.

Então, mesmo esbaforidos, exaustos pela dura caminhada de volta e quase no final de suas forças, começaram, sofregamente, a contar as novidades. Falaram da beleza que era a luz, da suavidade do ar, do calor do sol, da distinção do dia e da noite, dos pássaros, das cores, das árvores diferentes, das pessoas também diferentes… E, na ânsia de mostrar tanta beleza, cada qual queria falar mais. Falavam atabalhoadamente do que viram, do que sentiram. Explicavam, até mais de uma vez, as belezas que existiam do outro lado da zona proibida.

Os líderes da comunidade foram chamados para escutar tantas novidades e as ouviram com absoluta atenção. Depois sentenciaram: — É. Ficaram loucos! Não há como acreditar no que dizem! Isto não existe. Quem já ouviu falar de luz? Sol? Cores? Pássaros? Dia e noite? Árvores e vozes diferentes? Isto não existe. Eles erraram ao ultrapassar os limites proibidos, então estão contaminados. Certamente, eles comeram algo envenenado ou foram picados por algum animal peçonhento daqueles lugares estranhos e, por isso, enlouqueceram. Pena, tão jovens… Mas, a nossa lei é clara, não há como poupar-lhes a vida. A penalidade para quem enlouquece ou ultrapassa os limites proibidos é a morte. Nós temos de seguir a norma.

Enfim, mataram os rapazes… E, com eles, toda a possibilidade de saírem daquele buraco escuro e sem ar, o que, para aqueles que não conheciam o outro lado daquele mundo, estava muito bom.

PENSE NISSO E FELIZ ANO NOVO                                                        

Texto adaptado do Vídeo
Motivando para Vencer

Prof. Luiz Almeida Marins Filho

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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