Mea Culpa, Nostra culpa

Em Sergipe só se fala em lockdown, economia ruim, aumento dos leitos em hospitais. A culpa é do governador, do prefeito, do presidente, da polícia, de todos que fazem parte do poder público e que, segundo muitos, não estão fiscalizando adequadamente ou tomando as devidas providências, a culpa só não é do povo. Mas o povo é uma coisa engraçada, todo mundo hoje entende de tudo, é economista, jornalista, cientista, médico, de tudo se sabe um pouco, mas, responsabilizar-se por seus atos que é bom, aí não pode, porque a culpa é sempre do outro, menos minha.

Há um ano estamos em pandemia, os números de mortos e infectados só crescem, o papel do Estado é o de conter o avanço com medidas sanitárias; o papel do povo é o de respeitar essas medidas. Ou seja, o óbvio, não aglomerar, usar máscaras, cumprir com o isolamento, sobretudo se apresentar algum sintoma que caracterize o vírus da COVID-19. O Governo Federal foi negacionista e descrente durante muitos momentos, aliás, durante toda a pandemia, praticamente, incentivando a população a não seguir  as regras, as medidas sanitárias e a descumprir decretos. Lembrando que, o mesmo Governo Federal retirou a autonomia dos Estados atrapalhando e atrasando muitas decisões importantes no que diz respeito à pandemia e à aquisição de vacinas.

O povo fez o quê? Reclamou por estar em casa, mesmo podendo ficar nela, ao contrário de tantos e tantas trabalhadoras que não tiveram essa opção, se arriscando nos transportes públicos, nos serviços essenciais, pois não tinham alternativa. Bradou por mais leitos hospitalares, em vez de garantir que as pessoas não precisassem de mais leitos. Para muitos, é melhor se arriscar, sair, arejar a mente, do que salvar a si e ao outro. Não temos uma consciência sobre medicina preventiva, tanto não temos, que inventaram até um kit de tratamento precoce, que já comprovou a sua ineficácia. Inúmeras pessoas tratando um vírus com um vermífugo, além de desacreditar das vacinas, por acharem que irão virar jacarés.

Aí vem a economia, empresários que precisam vender para pagar as contas, funcionários etc. Governo que não facilita em relação aos impostos, linhas de crédito etc. E o povo quer sair, quer beber em bar, quer festa, para comemorar o que, não sei. Comemorar a fome? O alto índice de desemprego? A morte de mais de 280 mil pessoas? A alta dos preços? O que temos para comemorar? Precisamos salvar a economia!! Quando escuto ou leio esse tipo de frase, tenho a certeza de que, enquanto humanidade, o Brasil falhou e acredito não mais ter solução, porque uma vez que a empatia e a humanidade se perdem, pessoas são só cifras, força de trabalho, é cada um por si, e cada um que garanta o seu.

Enquanto brigamos para saber quem entende mais do que, enquanto empresários bradam por seus negócios, profissionais de saúde surtam por não dar conta de tanta morte, pessoas morrem também de fome, de desespero por serem despejadas de suas casas por não terem como pagar o aluguel, comprar um botijão de gás, comida. Enquanto tentamos salvar a economia e brigamos para ver quem merece o primeiro lugar da fila, esquecemos de olhar para as urgências, para a dor do outro que é muito maior, para as famílias que choram. Se ao menos as pessoas que podem, tivessem cumprido com o isolamento, nossa situação seria menos pior, mesmo com toda a responsabilidade que o poder público tem, enquanto cidadãos, precisamos aprender de uma vez por todas a viver em sociedade e a nos responsabilizar também pelo caos coletivo em que estamos imersos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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