MEDICINA BRASILEIRA ENLUTADA COM A MORTE DE LINCOLN FREIRE

O tema não poderia ser mais desagradável no retorno de minha coluna, após um breve descanso.

Dr. Lincoln Freire

Faleceu em Belo Horizonte, dia 24 de janeiro último, Dr. Lincoln Marcelo Silveira Freire.

Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) por dois mandatos, de 1998 a 2004, vice- presidente da Associação Médica Brasileira e professor da Universidade Federal de Minas Gerais.  Ele  foi personagem grandioso de nossa história, símbolo de muitas e grandiosas virtudes humanas, colocadas a serviço das nobres causas que nos fraternizam.

     Tivemos o privilégio de conviver com ele por dez anos, na Associação Médica Brasileira. Como secretário da Comissão Nacional para a Implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos – CNI-CBHPM, da qual ele presidia, fui o seu braço direito ( como ele gostava de dizer! ). O braço esquerdo naturalmente era Eduardo Vaz, pela sua combatividade e dedicação ao movimento médico.

     Lincoln Freire lutou pela classe médica como ninguém. Sua educação refinada, seu fino trato, seu caráter irretocável, sua liderança e capacidade de comandar, foram modelos para mim. Por delegação de Eleuses Paiva, presidente da AMB, mantivemos juntos os primeiros contatos com a FIPE para a elaboração da nova tabela de procedimentos e, depois, percorremos o Brasil na luta pela sua implantação. Ele como o grande timoneiro e condutor da nau dos impacientes e desesperançosos médicos brasileiros. Durante todo o mandato como vice-presidente da AMB e Presidente da CNI-CBHPM, Lincoln manteve a mesma postura altiva, leal, sem medir esforços para atingir seus objetivos. Enfrentou com altivez as operadoras de planos de saúde que resistiam em adotar a nova lista. Foram longos dias e noites longe de casa, em intermináveis reuniões, sem alterar a postura nem levantar a voz. Foi de longe o mais destacado membro da diretoria da AMB na gestão de Eleuses Paiva, que confiava plenamente no amigo e a ele dedicava os mais elevados elogios.

     Seria naturalmente o presidente da Associação Médica Brasileira em 2005, se os interesses pessoais e os conchavos corporativos de São Paulo não mudassem o rumo dos acontecimentos de uma forma avassaladora. A AMB não foi leal com Lincoln. Com isso, os médicos brasileiros e a própria AMB perderam um grande presidente. Como perde agora a  pediatria nacional um ícone, uma referência, um baluarte, uma figura admirável.

    Naquela tumultuada e atropelada reunião do Deliberativo da AMB, onde foi forjada uma unanimidade canhestra, poucas foram as vozes que se levantaram em defesa da dignidade. A Sociedade Brasileira de Pediatria e a Associação Médica de Minas Gerais, foram vozes isoladas, bradando ao vento, na defesa de seu líder maior. Na oportunidade, lamentei publicamente o ocorrido, apesar da admiração que nutria também pelo candidato ungido e que terminou sendo eleito presidente da Associação Médica Brasileira. Foi aquele, de forma inconteste, um dos momentos mais constrangedores que presenciei em toda a minha vida associativa,o como dirigente de entidade médica.

    Lincoln, apesar disso, saiu com a cabeça erguida e a certeza do dever cumprido. Foi o amigo fraterno, o companheiro de lutas, o líder que transformou a Sociedade Brasileira de Pediatria, elevou o nome da Associação Médica Brasileira e dignificou o movimento médico associativo nacional.

     Por tudo isso, a decisão tempestiva da Sociedade Brasileira de Pediatria, através de seu presidente Dioclécio Campos Júnior, de atribuir seu nome ao monumento por ele criado para abrigar a história da pediatria brasileira – o memorial, no Cosme Velho, Rio de Janeiro, é uma justa e merecida homenagem, que contribuirá para imortalizá-lo no templo sagrado da Pediatria Brasileira: o Memorial Lincoln Freire da Pediatria Brasileira.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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