Com a influência da Eugenia a instrução pública passou a contar com os médicos em sua direção, ampliando as atividades pedagógicas e incorporando ações sanitárias, consideradas complementares e até mesmo essenciais ao processo de educação das crianças e dos jovens brasileiros. Com a presença de técnicos norte americanos no Estado de São Paulo os engenheiros passaram a ser requisitados, para emitirem opiniões técnicas sobre as construções escolares. Bom exemplo é a criação, construção e instalação do Jardim de Infância, nascido como parte da Casa da Criança. Na Interventoria de Augusto Maynard Gomes o Diretor da Instrução Pública era o médico Helvécio de Andrade, defensor da regeneração racial, experimentado clínico, com atividades de professor, e larga participação na vida pública sergipana. No processo para a construção do Jardim de Infância estavam os engenheiros, tanto os autores dos projetos apresentados ao Interventor, como os componentes da Comissão encarregada de apreciá-los. Foram 4 projetos apresentados à consideração superior, para servir de sede da primeira escola infantil em Aracaju. Um, de Armando César Leite, considerado pela Comissão como excelente, desde que para um Grupo Escolar; um de Aristides Araújo e Artur Costa; um do arquiteto Bellani; e um de Leandro Maciel. No dia 27 de abril de 1931 a Comissão, formada pelos engenheiros Josué Batista de Jesus, Diretor de Obras do Estado, Leandro Diniz de Faro Dantas, Diretor do Ateneu, e Carlos Carvalho, Chefe da Seção Técnica da Prefeitura de Aracaju promoveu reunião para apreciar os 4 projetos apresentados para a construção do Jardim de Infância, em terreno da atual rua D. José Tomás, homenagem ao primeiro Bispo de Aracaju, que na mesma rua, em 1913, construiu o Seminário Sagrado Coração de Jesus. Dos 4 projetos a Comissão escolheu o de autoria do engenheiro Leandro Maciel, como declarou no Parecer datado de 5 de maio de 1931: “Do exame procedido nos projetos que nos foram apresentados chegamos à conclusão de que o mais completo, para o fim que se tem em vista, é o de autoria do engenheiro Leandro Maynard Maciel, pelo seguinte: É um projeto capaz de receber todos os “dons” de Froebel. Obedeceu ao plano de divisões em pavilhões, porque um Jardim de Infância deve ser um centro de vida e de muita alegria, um verdadeiro mundo de encantos para as crianças que aí devem ver, observar, brincar e dizer. Deu-lhe um tipo agradável dispondo bem os pavilhões: parques, jardins, gramados, repuxos e muitos outros instrumentos de ensinança da segunda infância aí podem ser perfeitamente praticados.” Observa-se, no Parecer, que as teorias pedagógicas de Frederick Froebel (não confundir com o seu sobrinho Júlio Froebel, tantas vezes citado por Tobias Barreto) foram tratadas com certa intimidade pelos engenheiros, servindo de suporte para a aprovação. Os membros da Comissão tentaram interpretar, no projeto de Leandro Maciel, as idéias de Frobel que justificava a criação dos jardins de infância dizendo que “A criança começa ali a conhecer a natureza, as plantas, as cores, os insetos, etc. O fim principal dos Jardins (nas cidades) é integrar a criança à natureza.” E complementa o pedagogo: “O que Deus juntou o homem não deve separar.”, na paráfrase ao casamento católico. A idéia de um Jardim de Infância estava alicerçada na constatação de Froebel, de que as crianças têm duas grandes necessidades a satisfazer: a atividade e a curiosidade. O uso de brinquedos ganhou relevo, fortalecendo a elaboração das escolas infantis como espaços especialmente construídos, inovando as práticas pedagógicas. A Comissão de engenheiros cumpriu um papel que a rigor deveria ser dos especialistas em educação, ou mesmo das pessoas que tiveram contato oficial, em nome do Estado, com os técnicos paulistas e com os teóricos do movimento da Escola Nova, atuante durante a construção do Jardim de Infância Augusto Maynard. De algum modo, o que se viu no Brasil foi a construção civil dominar a técnica das edificações pedagogicamente corretas, aplicando-as como modelos nos Grupos Escolares, o primeiro dos estabelecimentos concebidos pelos renovadores dos processos educacionais., no Jardim de Infância, nas Escolas Rurais, noutras escolas. Ainda hoje as salas de aula obedecem a determinada metragem em sua disposição retangular, aeração, luminosidade, cor das paredes, e outras exigências que surgiram há séculos, como modelos aperfeiçoados em favor do melhor ensino e da melhor aprendizagem. Estranha-se, ainda, a ausência da professora Penélope Magalhães, enviada a São Paulo pela Interventoria Maynard Gomes, encarregada da organização do Jardim e sua primeira diretora, nos preparativos que definiram a construção da unidade de educação infantil. Tal fato acentua ainda mais o papel dos engenheiros, como intérpretes das teorias novas da educação, criando os ambientes físicos para praticá-las. Depois de aproximadamente 6 meses de construção o prédio do Jardim de Infância foi solenemente inaugurado em 17 de março de 1932. Mais do que princípios pedagógicos aplicados em sua construção e funcionamento, o Jardim de Infância ganhava característica de obra revolucionária, politicamente um troféu a ser apresentado ao povo, como o disse o então major Juarez Távora, presente ao ato de inauguração. Outros militares exultaram com a obra, ligando-a aos ideais da revolução de 1930. A euforia dos assistentes e visitantes, após a festa inauguratória, demonstra um sentimento unânime em favor da obra da Casa da Criança, especialmente do Jardim de Infância. Dom Adalberto Sobral, Bispo da Barra, na Bahia, superando as divergências religiosas elogiou a Diretora Penélope Magalhães, que era um dos mais qualificados quadros do protestantismo em Sergipe, com formação nos Estados Unidos. O ânimo geral deu ao Jardim de Infância o impulso para que ele sobrevivesse e cumprisse seu papel com professores, jogos, prendas, música, e um jardim em torno das edificações, na tentativa de reproduzir, em Aracaju, a idéia original de Froebel para a educação infantil. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”