Analisando a estrutura da Academia Sergipana de Letras, desde a sua fundação, observamos uma
grande participação de médicos em seus quadros. Nem todos se destacaram na medicina, é verdade, preferindo trilhar outros caminhos, projetando-se na vida sergipana e brasileira em outras atividades. Mas graduaram-se médicos e foram, pois, alvo do levantamento. Uma curiosidade na cadeira de número 35, do patrono, passando pelo fundador, os sucessores, todos foram médicos, sendo a tradição quebrada recentemente com a posse da professora Marlene Calumby na citada cadeira. Augusto Leite
Lourenço de Magalhães, o patrono da cadeira 35 era natural de Estancia, onde nasceu em 11 de setembro de 1831, recebendo o grau de doutor pela Faculdade de Medicina da Bahia em 15 de abril de 1856, defendendo a tese “Como reconhecermos que o cadáver morreu de afogamento”. Era oftalmologista, sendo também um profundo conhecedor em lepra, com reconhecimento internacional.
O primeiro ocupante da cadeira, sendo pois seu fundador, foi o cirurgião Augusto César Leite, pai da moderna cirurgia em Sergipe, fundador do Hospital de Cirurgia e da Casa Maternal Amélia Leite, filho de Riachuelo, onde nasceu em 30 de julho de 1886. Graduou-se em Medicina no Rio de Janeiro em 2 de janeiro de 1909, defendendo a tese “Da contra-indicação renal do emprego do salicilato de sódio”. Voltou para Sergipe onde iniciou suas atividades em Capela, Maruim e Riachuelo, transferindo-se depois para Aracaju onde, no Hospital Santa Isabel, fez a primeira laparotomia em Sergipe, em 1914. Em 1916, assumiu a cadeira de professor catedrático de Higiene Geral e História Natural do Colégio Atheneu Sergipense e a partir de
Augusto foi sucedido pelo médico pneumologista, tisiologista e radiologista Aírton Teles Barreto , nascido em 12 de agosto de 1924. Aírton Teles formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco. Foi interno do Sanatório Octavio de Freitas e do Hospital Osvaldo Cruz,
Aírton foi sucedido por outro brilhante médico: João Gilvan Rocha, nascido em 26 de agosto de 1932, em Propriá. Professor ilustre de fisiologia da Faculdade de Medicina de Sergipe, criou, com os médicos Aloysio Vieira e Gilton Rezende, o primeiro serviço de prevenção das doenças da mulher e planejamento familiar de Sergipe, o PREVAN, localizado anexo ao Hospital Santo Isabel. Artista plástico premiado, participou de inúmeras exposições no Brasil. Cartunista. Autor do painel com as caricaturas dos médicos sergipanos que decorou por anos as paredes do saudoso Clube dos Médicos de Sergipe. Foi um dos coordenadores da 1º Congresso Médico de Sergipe ocorrido em 1966. Entrou de forma inesperada e surpreendente na política ao se eleger senador por Sergipe, derrotando categoricamente nas urnas uma das maiores lideranças políticas do Estado, o ex-governador e ex-senador Leandro Maciel, sendo o primeiro sergipano a obter mais de cem mil votos (77% dos votos de Aracaju) numa eleição, fato destacado no livro do jornalista Sebastião Nery, “As 16 derrotas que abalaram o Brasil”. Orador destacado, teve um mandato profícuo, com inúmeros pronunciamentos e publicações. Presidiu a CEME – Central de Medicamentos do Ministério da Saúde. Faleceu em 28 de novembro de 2002, em Aracaju, aos 70 anos de idade.
Com a morte de Gilvan, a cadeira 35 passou a ser ocupada pela professora Marlene Alves Calumby.
Médicos e políticos, médicos e escritores, médicos e poetas, duplas freqüentes na nossa história.
Atualmente ocupam cadeiras na Academia os médicos Eduardo Garcia, cientista e poeta, ex-reitor da UFS ( cadeira 2, desde 1991), José Abud, poeta e humanista ( cadeira 9, desde 1980), Francisco Rollemberg, cirurgião de estirpe e ex-senador da República ( cadeira 15, desde 1979), Marcelo da Silva Ribeiro e mais recentemente o cardiologista ( e latinista) Marcos Almeida.
Não estão mais em nosso convívio os médicos Antonio Garcia Filho, que teve atuação destacada no sodalício, sendo seu presidente por vários mandatos, José Maria Rodrigues Santos, Ranulfo Prata, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Lapa Pinto, Renato Mazze Lucas, João Peres Garcia Moreno, Ascendino Reis, Pedro Moreira, Antonio Dias de Barros, José Olino, Walter Cardoso, Aranha Dantas, Joaquim de Oliveira e Guilherme Rabelo.
Nada pois a estranhar que haja entre os médicos um grande número de excelentes escritores e poetas, em função do esplêndido conhecimento que têm da natureza humana.