O erro pode acontecer em qualquer atividade humana. As pessoas que erram devem ser punidas de acordo as normas vigentes. Os médicos, como seres humanos, também cometem erros, que no exercício da profissão se caracterizam por uma das três principais condições: imprudência, negligência ou imperícia. Compete ao Conselho Regional de Medicina, à luz do Código de Ética Médica, avaliar a situação a partir de uma denúncia formulada, abrir sindicância e aplicar as sanções previstas de acordo com a gravidade de cada caso. E isso o Conselho vem fazendo, com isenção e equilíbrio. Não se pode, entretanto, é fazer pré-julgamentos, condenando pessoas de forma antecipada, baseado apenas em denúncias da imprensa.
O Jornal Cinform, de forma grotesca e sensacionalista, com direito a chamada de primeira página, publicou em sua última edição (15.01.2006), uma matéria com graves acusações à classe médica, com foco dirigido ao seu órgão fiscalizador, o Conselho Regional de Medicina. Confundiu a eterna crise da saúde pública com a prática médica, sem a devida isenção que um bom jornalismo persegue, generalizando o problema na tentativa de desmoralizar a Medicina de Sergipe
Considerar, como está na reportagem, que os médicos erram na mesma proporção que acertam é antes de tudo uma acusação não respaldada em levantamentos estatísticos e somente denota o interesse da matéria em denegrir o conjunto da categoria que, em análise mais acurada, é também mais uma vítima desse malfadado sistema de saúde pública.
Todos sabem que o profissional médico vem sendo historicamente massacrado na sua labuta diária, pelas péssimas condições de trabalho, baixa remuneração, ritmo frenético que tem que empreender ao longo do dia, com plantões sobrecarregados e excesso de carga horária que pode induzir a erros, sim.
Segundo dados do Conselho Federal de Medicina 65% dos médicos brasileiros têm mais de três empregos e são notórias as dificuldades para estudar, ler, participar de eventos de atualização. Percebe-se a falta de médicos nos cursos, seminários, palestras que são promovidas no período da noite. É o cansaço que atinge o profissional e não o deixa sair de casa para participar desses eventos, na maioria gratuitos. Porém, não há outra alternativa. A despeito da rotina massacrante, o médico ainda deve encontrar tempo para a reciclagem, visto que o conhecimento científico dobra a cada três ou quatro anos. Numa circunstância dessa, quem não se dedica ao aprendizado permanente fica completamente defasado. O médico sabe disso. Sabe que é pré-requisito de consciência para assumir a profissão. Está contida na vocação do latim “vocare” ou, traduzindo, “chamar”. Vocação é, assim, um constante chamamento da alma à responsabilidade.
Dessa forma, como em outras profissões e talvez mais ainda no exercício da Medicina, o erro está ao alcance da mão e pode ocorrer, devendo cada caso ser analisado criteriosamente pelas partes envolvidas e pelas instancias oficiais, identificando de fato os fatores que contribuíram para o seu surgimento, aplicando as sanções devidas, se for o caso, para que sirva de exemplo para que outros erros semelhantes não venham a acontecer.
Independentemente das providencias que as entidades médicas locais tomarão para responder às acusações, espero que o semanário abra as suas páginas para revelar a verdadeira face da saúde pública, mostrando quem são realmente os responsáveis pelo caos que se instalou neste Estado, que deixa crianças com problemas cardíacos morrendo em fila, que não resolve nunca o problema do Hospital João Alves e que joga no lixo milhares de medicamentos com prazo de validade vencido.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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