Melódica Percussiva

Luiz D’Anunciação, o Pinduca  
O nome de Luiz (Almeida) D’Anunciação pode passar desapercebido entre os sergipanos da contemporaneidade. O nome de Pinduca, com o qual marcou a década de 1950, regendo uma orquestra, este sim, é lembrado pela geração boêmia e romântica de João Melo, Carlos Tirso, e de Murillo Mellins, que faz o competente registro daquela época áurea para a música, e da qual já perdemos Carnera, Argolo, João Moreira, dentre outros. Muitos outros, entre amigos, parentes e admiradores, acompanharam a explosão do talento do jovem músico, nascido em Propriá e lá iniciado no piano, artista aplaudido em Aracaju, antes de fazer estudos musicais na Bahia e de lá seguir para glorificar-se no Rio de Janeiro, como instrumentista, como maestro e, mais recentemente, como estudioso dos instrumentos populares e da melódica percussiva, internacionalizando sua obra.

         É extensa a lista de trabalhos de Luiz D’Anunciação como compositor, como arranjador, como intérprete e como maestro, como já é, também, a lista avolumada as publicações feitas sobre os instrumentos musicais populares, notadamente o pandeiro brasileiro, o agogô, o reco-reco, o triângulo, a zabumba, o camisão, o tambor, o tamborim, o berimbau, localizados entre grupos folclóricos brasileiros e nordestinos. Dois dos seus últimos livros chamam a atenção pela originalidade das abordagens, abrindo um novo caminho para o estudo da rítmica, da técnica e da escrita musical folclórica e popular. São bons exemplos: Os instrumentos típicos brasileiros na obra de Vila-Lobos (Rio de Janeiro: ABM, 2006) e Melódica Percussiva, volume V do Manual de Percussão (Rio de Janeiro: sem indicação de editora, 2008).

         Luiz D’Anunciação trabalha, em seus exemplos, com a Zabumba de Simão Dias, o São Gonçalo de Laranjeiras, e outros grupos folclóricos sergipanos, tanto aqueles que povoaram a sua infância de beradeiro sanfranciscano, como aqueles que assistiu apresentações nos Encontros Culturais de Laranjeiras e nos Festivais de Arte de São Cristóvão, que hoje são duas lembranças. O músico manteve-se fiel as coisas da terra, valorizando-as com seus estudos inovadores e repletos de exemplos. A aprendizagem a dimensão universalizada de uma arte exigente, que impõe pauta própria, escrita própria, leitura própria. Os instrumentos populares ganham seu intérprete, seu mestre, e com isto a cultura brasileira pode ser revisitada, em sua riqueza e singularidades.

         Artur Bispo do Rosário, nascido há um século em Japaratuba, certamente guardou no mais fundo do olhar de menino, os grandes e coloridos estandartes que nas procissões de São Benedito, nas Festas dos Santos Reis, tingiam de fé e devoção as ruas aladeiradas da cidade, molhadas com as cabacinhas, conhecidas como limões de cheiro nos entrudos do Rio de Janeiro. Na maturidade, artista do seu próprio inconsciente, Artur Bispo do Rosário expôs seus mantos, como invólucros de uma cultura que ele levou da terra onde nasceu e por algum tempo viveu.

         Antonio Maia, outro artista plástico de Sergipe, nascido em Carmópolis e falecido, há poucos meses, no Rio de Janeiro, fez das promessas de Santa Cruz, espalhadas por muitos caminhos, o objeto inspirador de sua reconhecida e aplaudida obra de arte. Os Ex-votos de Antonio Maia, tão sergipanos quanto nordestinos, tão brasileiros quando universais, tão sobreviventes quanto antigos, fixaram pedaços de corpos, olhos fixos, cabeças, como promessas crédulas e honradas. A linguagem do artista avivou, nas galerias do Brasil, o quanto este mundo velho em que nascemos guarda do passado, da vida e dos símbolos que marcaram a história existencial da humanidade.

         Luiz Americano, saxofonista e compositor nascido em Aracaju, foi outro que levou para o Rio de Janeiro, fazendo ecoar por todo o Brasil, o som do choro, das valsas, que animaram, no seu tempo, as retretas de Aracaju, pontificando ao lado das liras e filarmônicas, a banda militar que tinha seu pai Jorge Americano Rego como regente do 26º Batalhão.

         Luiz D’Anunciação percorre o mesmo caminho dos outros artistas e recolhe, com a sensibilidade dos sábios, tudo aquilo que inspira a arte musical brasileira. Os livros, os CDs, a obra enfim do Maestro Pinduca é um pedaço musical de Sergipe e um pouco da alma sergipana.

 


Ouça “Dança para Pandeiro estilo brasileiro e Oboé”, de Luiz D’Anunciação
  

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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