Mestre Alcino abençoou o “LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE”

Objetivando prestigiarmos o lançamento do livro “Maria do Sertão” do amigo Alcino Alves Costa, em Poço Redondo, depois de visitarmos a cidade de Piranhas nas Alagoas e de lá em navegação pelo caudaloso “Velho Chico” irmos para a grota de Angico nas terras de Sergipe, mais de perto, para assistirmos mais uma vez a famosa missa campal do cangaço rezada pelas almas dos cangaceiros mortos em 28 de julho de 1938, dentre os quais, Lampião e Maria Bonita, além do soldado Adrião, em suposto combate com a tropa volante do Tenente Bezerra que praticamente pôs fim a era cangaceira no nosso querido chão nordestino, vimos o quão grandioso fora aquele dia 28 de julho de 2012, ou seja, o dia em que se comemoravam os 74 anos da morte do Rei do Cangaço.

Falando do início do dia em Piranhas, em rápidas pinceladas, é bom lembrar que essa cidade ficou nacionalmente e até internacionalmente conhecida por ser o local onde as cabeças de Lampião, da sua amada Maria Bonita e de mais nove cangaceiros ficaram expostas após decapitação feita na grota de Angico em Sergipe pela polícia volante comandada pelo então Tenente Bezerra da força alagoana no dia 28 de julho de 1938. Em Piranhas também foi rodado o filme Baile Perfumado, com o mesmo tema do cangaço e que retrata principalmente a trajetória do libanês Benjamim Abrahão Botto, responsável pelo registro iconográfico do cangaço, sendo a única pessoa a filmar ações do bando de Lampião. No museu da cidade pode ainda ser visto, dentre outros petrechos do cangaço, várias fotos do famoso bandido Lampião e seus asseclas, inclusive a famosa foto que mostra o empilhamento das cabeças na escadaria da prefeitura do município que terminou correndo o mundo.

Piranhas também foi palco do combate que pôs fim a trajetória bandida do sanguinário cangaceiro Gato. Sabedor que a sua companheira Inacinha tinha sido presa pela polícia e conduzida para a sede da cidade, Gato que era chefe de um dos subgrupos de Lampião procurou ajuda e induziu Corisco, outro grande chefe de cangaceiros, a atacar Piranhas. Entretanto, usando da sua experiência e até sensatez, Corisco achou a ação muito perigosa, vez que, além de tudo a cidade era sede de polícia volante. Desesperado e alucinado de ódio Gato não ponderou, não viu a razão, não quis ouvir as advertências do amigo, agindo somente pela emoção, e assim disse que partiria de qualquer jeito para a ação de resgate a sua querida Inacinha. Corisco, por sua vez, em solidariedade ao amigo e para não se sentir um covarde acabou aceitando a empreitada.

O momento não era propício, e com isso Lampião, ao saber dessa desastrada ação, não gostou nem pouco, porque sabia muito bem de todos os riscos que os seus amigos comandados iriam correr, mas já era tarde, não havia mais como impedi-los, não havia mais tempo de convencer Gato que ele estava errado. Assim, no dia 28 de setembro de 1936, os dois grupos partiram para o resgate. Gato também tinha como plano estratégico sequestrar a esposa do sargento João Bezerra que residia em Piranhas para posteriormente fazer uma troca com Inacinha. No caminho por onde passava os 16 cangaceiros que participaram do embate, onze pessoas foram mortas a tiros, punhaladas e golpes de facão, fazendo mais duas vítimas no combate propriamente dito dentro da cidade de Piranhas.

Na reação do povo piranhense junto com o contingente policial Gato levou um tiro que atingiu a sua coluna vertebral, ficando momentaneamente paralisado da cintura para baixo. Vendo o poder de fogo contrário, sem qualquer esperança de sucesso, os cangaceiros recuaram e fugiram levando Gato, que não resistindo ao grave ferimento, faleceu três dias depois em prova que de tudo Corisco estava certo. Fora de fato uma ação suicida.

Hoje, vimos com alegria que a parte histórica da cidade continua muito atraente e demonstra estar bastante preservada. A maior parte das construções arquitetônicas dos séculos passados permanece da sua forma original e bastante melhorada em demonstração que o poder público local se preocupa com a história do município.

No porto de Piranhas tivemos a imensa alegria de rever grandes amigos, pesquisadores do cangaço, tais como: o Professor Pereira de Cajazeiras, colecionador, editor e negociante de livros sobre o tema; o escritor Antonio Vilela de Souza (com o seu mais recente livro “A outra face do Cangaço – Vida e Morte de um Praça”); a advogada e estudiosa Juliana Ischiara; o exímio documentarista, Aderbal Nogueira, proprietário da Laser Vídeo Produções; o Secretário de Turismo do Município de Piranhas, Jairo Luiz, também escritor e turismólogo; a irreverente e alegre Lily, também mantenedora de um museu particular sobre o cangaço na sua residência em Belo Horizonte (em homenagem aos seus pais, cangaceiros Moreno e Durvinha), dentre outras não menos importantes personalidades do tema que incansavelmente continuam buscando os rastros dos cangaceiros e que também objetivavam, além de assistirem a missa do cangaço em Angico, prestigiarem o lançamento do livro “Maria do Sertão” de autoria do eterno e carinhoso Caipira de Poço Redondo, o grande escritor, sem sombra de dúvida, a maior autoridade sobre o cangaço no Estado de Sergipe, Alcino Alves Costa, que ocorreria, como de fato ocorreu, naquela linda tarde na cidade sede do maior município territorial de Sergipe. Antes, porém, todos os visitantes presentes e demais convidados puderam saborear o verdadeiro banquete fornecido pelos familiares de Alcino Alves Costa em Poço Redondo.

O livro “Maria do Sertão” que tem o prefácio do estimado amigo pesquisador, estudioso e escritor do cangaço, Paulo Gastão, cujo texto data do ano de 2006 é um antigo sonho de realização do Caipira de Poço Redondo que agora se concretiza através da determinação e da pujança dos seus familiares e da sua querida filha de consideração e do coração, Juliana Schiara. Do romance “Maria do Sertão”, desejamos todo o sucesso possível, como mais desejamos ainda (no grau máximo dos desejos) o pronto restabelecimento do seu autor que tanto enobrece a cultura sergipana e nordestina.

A festa em homenagem a Alcino, sem dúvida, coroou de êxito o nosso dia em que andamos nas terras em que o próprio Lampião tanto andou. Aquela tarde além de alegrar por demais aos seus amigos que se fizeram presentes, pois, como já disse antes, o Alcino Alves Costa é uma pessoa abençoada por Deus e apesar de ainda estar debilitado por conta da última problemática relacionada à sua saúde, irradia luz, irradia alegria, irradia paz, irradia harmonia, irradia determinação, irradia coragem, irradia vida além da vontade de continuar a viver. Sem dúvida um homem iluminado que bem ilumina a todos que o cercam e que muito engrandece o meu livro LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE com o seu lindo e irreverencioso texto de apresentação, também terminou por abençoá-lo. De Alcino só me resta eterna gratidão.

Autor: Archimedes Marques (Escritor e Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela Universidade Federal de Sergipe) archimedes-marques@bol.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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