Resolvi ir ao shopping assistir ao filme Justin Bieber. Não tive coragem. Mas resolvi convidá-lo a dar uma volta pelo shopping. Convite aceito , foi um sucesso. Andamos por todas as lojas e ninguém olhou de soslaio, mesmo sabendo que a qualquer momento ele podia surtar.
Rolezinho é expressão gostosa, que nos remete a termo infantil, perdido da infância . Marcar um rolezinho é dar oportunidade à vida de ser livre. Coisa de preto, periféricos, bicho-grilo, undergrounds, maloqueiros. Desqualificar o rolezinho com imagem de violência e invasão é cercear a liberdade das tribos. Os ricos também dão rolé. Fazem grupos e exibem marcas, grifes, com as mesmas revoltas dos discriminados. É lindo isso: cabelos pintados de vermelhos, botas pretas com pastilhas, saias curtas, gente diferente da gente circulando, mostrando-se no rolezinho a cara do país.
Recentemente na livraria Saraiva, o guarda olhava dois negrinhos que estavam usando um ipod. Instintivamente, o guarda também negro, portava-se atrás como se os garotos fossem suspeitos. Discretamente eu chamei o guarda e disse que se afastasse dos garotos. O que ele atendeu de pronto. Existe o nosso próprio rolezinho. Igual ao do guarda. Avaliamos o outro pela roupa, pelo dreadloks, pelo anel, pelo piercing, pela tatoo e até os vendedores da loja olham a pessoas de cima abaixo, quando fora do padrão.
O nosso rolezinho coletivo está muito mais na invasão do espaço da elite. Não sobrevivemos sem uma discriminação. Então tratamos de criar um apartheid com a justificativa da violência, da invasão, do barulho, da baderna, porque assim impedimos que a favela desça e invada os espaços que é dela. Nas igrejas , por exemplo, são poucas as tribos. Não se vê uma moça de cabelo acaju e saia curta cantando no coral e os cantores das bandas são todos cafonas, vestidos de jeans, parecendo velhos( olha a discriminação aí pela idade!) com cara sisuda e de preferência parecendo que saíram de um ensaio coletivo de santos. Não botam nem um adesivo no instrumento(ufa!)
Rolezinho é termo mais gracioso. Perfeito. Nos dá a dimensão de nossa alma esvaziada, que precisa se encontrar no cafezinho, assistir ao show junto, entrar no cinema com pipoca e suco e ver a atitude do colega, a invenção da moda de cada um, o mundo fashion que faz hoje o fashion week explodir nas passarelas. Dar um rolezinho é dar oportunidade a sermos nós mesmos, – linguagem que o mundo exige de inclusão, de participação, mesmo que seja Justin Bieber o nosso companheiro.
Recentemente, meu filho cheio de piercings e tattoos recebeu os colegas em casa. Quando os vi entrar, chamei meu filho e disse: quem são estes moços? Ele me chamou no canto e disse: se as pessoas também foram olhar pra você perguntarão: quem é este cara? Realmente , ele tem razão. O nosso rolezinho sempre pra fora. Nos delata e nos entrega. Deve ser pra dentro. De dentro pra fora. É isso.