Tenho atravessado um denso processo de modificação. E esse caminho tem afetado a minha relação com o mundo, sobretudo com o que priorizo. Hoje, boa parte das minhas escolhas e omissões, decorrem do sentimento da fragilidade de todas as coisas e da efêmera materialidade da vida. Todo esse movimento interno, tem me feito adquirir, no decorrer do tempo, novos anseios. Que vantagem nos conhecermos bem e sabermos das nossas qualidades e defeitos!
É verdade, talvez a fragmentação dos meus interesses tenha me tornado uma pessoa mais egoísta. Trago tanta compreensão, interesse e ternura quando o tema em questão envolve um animal e tantas outras vezes, sou rala de emoção e tão pobre em generosidade quando o assunto não faz eco com a minha essência.
Percebo como é inevitável aceitarmos que o olhar de cada um de nós possui diferenças. E sempre, sempre que dirigimos o nosso olhar estamos cheios de intencionalidade e significações. É inútil negar. Nunca, nesse mundo tumultuado, globalizado e tão fascinante houveram tantos desatinos egoístas na compreensão desse modelo capitalista que vivemos.
Em cada diálogo interno que travo, fica claro que não existe nenhuma isenção dos meus momentos vividos, todo o repertório das minhas vivências e sentimentos é partilhado entre as minhas prioridades, tudo está interligado. E nesse processo da vida, descubro que na maioria das vezes, as coisas tangíveis, as menos duráveis são as que ficam guardadas.
Enredada nas minhas contradições e equívocos, ando buscando dar forma a essas minhas reflexões. Talvez, seja apenas uma maneira de estar buscando a minha identidade existencial. Provavelmente minhas interrogações não têm resposta adequada. Como a maior parte das coisas da nossa vida.
Porém, fico pensando em tudo isso e na tentativa vã de entender o fio que tece as nossas escolhas. Sinto como se cada um de nós tivéssemos o nosso próprio relicário. É lá que guardamos e protegemos nossas “coisas” preciosas, as nossas motivações internas, a nossa artificialidade, o nosso espaço vazio onde podemos simplesmente ser. Rompendo, nem que seja de modo silencioso e individual com a quebra dos modelos e paradigmas que aprendemos ao longo da vida. Afinal, somos ou não somos todos seres humanos iguais, como nos ensinaram? Como somos contraditórios, nós seres humanos…
Nesta intimidade, inacessível e misteriosa que teço comigo mesma, venho buscando romper a rigidez e a intolerância com a qual faço certos julgamentos, favorecendo assim o meu fluir com a vida pois ela, ao contrário do que se supõe é extremamente vulnerável.
Termino esse artigo e desligo o computador. Num próximo texto quem sabe, escreverei de maneira menos questionadora e serena. Me concedo o espaço de me reinventar. Me aquieto.
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Foto : Luciana Aguilar |