Bisonho em 1954. Na Copa de 1954 eu tinha sete anos. Também não me lembro de nada. O Brasil teve uma participação bisonha e foi esquecido. O técnico Zezé Moreira levara Castilho, Djalma Santos, Nilton Santos, Julinho, Didi, nomes que se destacariam em 1958. O Brasil foi um fracasso. Brasil Campeão! Na Copa de 1958, embora tivesse onze anos, eu dava pouca importância ao futebol. Lembro vagamente das partidas iniciais; 3×0 (Mazzola, dois e Nilton Santos) contra a Áustria, o empate de 0x0 contra a Inglaterra. Após a partida contra a Rússia de 2×0 com dois gols de Vavá, 1×0 contra o País de Gales e 1º gol de Pelé, acompanhei vivamente a Copa. Vibrei com os 5×2 contra a França (Vavá, Didi e Pelé marcando três para o Brasil, e Fontaine e Pinatone para os gauleses), com dois gols anulados em minha memória. E finalmente aconteceu o placar memorável de 5×2 contra a Suécia, com Vavá marcando dois gols, Pelé outros dois e o “formiguinha” Zagallo mais um, enquanto Liedeholm e Simonsso chutaram para os suecos. A transmissão distante, e o comentário farsante. Desta última partida, lembro que o rádio trazia de bem distante uma sequência de tiros e papoucos da torcida nórdica, nada que abafasse o fogo do nosso atleta. Lembro, inclusive, um destes comentaristas tira-prazeres reclamando de alguém nacional que na alegria da comemoração abraçara o rei Gustavo Adolfo, sem exibir a necessária polidez, tão requerida pela monarquia decadente, e pelo excesso a sua subserviência. Esquecia o locutor farsante que houvera apenas um eufórico tratamento republicano, e o republicanismo é inato à alma brasileira. A festa foi geral. Depois se seguiu a festa. “A taça do mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa. Com brasileiro não há quem possa / êta esquadrão de ouro / é bom no samba, é bom no couro / O brasileiro lá no estrangeiro / mostrou com é que é / ganhou a copa do mundo / brincando com a bola no pé. Houve também; “De Sordi, Bellini, Gilmar, que defesa espetacular”, e outras canções comemorativas. Ditos e não ditos, apagando ou ampliando heróis. A Copa de 1958 destacou uma geração notável de atletas: Gilmar, Castilho, De Sordi, Bellini, Djalma Santos, Zózimo, Zito, Didi, Mazolla, Nilton Santos, Vavá, Pelé, Garrincha, Zagallo e tantos outros comandados por Vicente Feola, sempre menosprezado pela crônica esportiva, que o acusava de dorminhoco, inclusive. Diga-se de passagem, que após a morte de Feola, falou-se que a entrada de Pelé no escrete se deu mediante imposição de alguns medalhões no time. Feola, se vivo estivesse, teria perguntado: Haveria algum medalhão em 1958, com Castilho, reserva de 50, titular em 54 e reserva de novo em 58? Seria Nilton Santos tão respeitável por sua atuação em 50 e 54? Seriam Djalma, Didi e Mauro por sua atuação na seleção bisonha de 54, tão importantes assim, ou sua importância surgiu após 1958? Vicente Feola, o modelo inédito. Como a vitória tem muitos pais, sobrou para a imprensa colocar a imagem de um Vicente Feola inerte e inexpressivo. Nas minhas lembranças vejo Feola como o grande responsável pela unidade e eficiência do time, com um futebol alegre, prendendo menos a bola e desenvolvendo a contento. Vicente Feola restou como o modelo inédito. Protótipo do que seria copiado em sucesso e em resultados por poucos. Antes dele; nenhum, apesar de maior fama. Depois dele, quatro apenas: Aimoré Moreira, Zagallo, Parreira com Zagallo e Felipão. O resto ficou na má imitação. Mas, a missão do homem é saber-se superável. E Feola foi esquecido como o serão todos os recordes batidos. A Copa fazendo torcedores. Como a muitos nacionais, a Copa de 58 me fez gostar de futebol. Acompanhei suas últimas partidas via rádio, alimentado a bateria de chumbo, na Fazenda Catete Novo em Rosário do Catete, uma vez que naquele município não existia ainda a eletrificação de Paulo Afonso. A narração me chegava retransmitida pela Rádio Liberdade, então a mais potente do Estado. Mas o campeonato não veio jejuno. À vitória no futebol se somaram outras como as de Maria Ester Bueno no campeonato mundial de Tênis, e de Eder Jofre no de Boxe, num momento de alta euforia nacional com o governo Juscelino Kubistchek. Neste regozijo relembro a grande alegria externada por Silva Lima, uma legenda do rádio sergipano, junto com os seus comandados como Jota da Silva, e tantos outros após a vitória, convocando o povo a festejar tal feito inédito em praça pública. O bicampeonato em 1962 no México também se fez inédito. Na Copa de 1962, por doença de Vicente Feola, o técnico foi Aimoré Moreira, Irmão de Zezé Moreira o retranqueiro de 1954. Mas o Brasil que fizera escola com sua vibrante artilharia, venceria de novo trazendo um bicampeonato inédito. Vencemos de 2×0 contra o México, com gols de Zagallo e Pelé, empatamos em 0x0 com a Tchecoslováquia, partida em que Pelé se contundiu e foi afastado. A contusão de Pelé foi um drama nacional, mas nós já éramos um celeiro de craques, no nível do Rei, ou próximo dele. Amarildo; uma regência no lugar do Rei. E no lugar do Rei surgiu o formidável Amarildo, regendo o ataque furando logo dois gols no 2×1 contra a Espanha, com gol de Rodriguez do lado castelhano. Vencemos depois a Inglaterra por 3×1, gols de Garrincha dois, Vavá e Hitchens para os bretãos. Derrubamos o Chile anfitrião por 4×2, com Garrincha fazendo dois gols, Vavá outros dois, Toro e Sanchez para os chilenos. Partida em que Garrincha com seus dribles indefensáveis provocara a ira dos chilenos, sendo apedrejado na cabeça e depois expulso injustamente, tudo narrado via rádio sem TV. E finalmente chegou o bicampeonato inédito por cima da Tchecoslováquia por 3×1, gols de Amarildo, Zito e Vavá para o Brasil e Masopust para os Tchecos. O Botafogo e a sua estrela solitária conduziam o ataque. Se a Copa de 58 fora o grande feito de Pelé, agora era Garrincha, “alegria do povo”, quem eletrificava a nação e o meu Botafogo com expressiva participação na seleção como Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo e Zagallo. Tempos em que eu muito vibrava com o Botafogo lá fora e com o Sergipe aqui com Jorgeval, Tomaz, Fernando e Zecarlos Oliveira, Gilton, e os irmãos Barros; Nivaldo, Nilson e Zealvino. Pena que neste tempo quem estava melhorando era o Confiança com Ruiter, Roberto, Daniel, Cocorote e Debinha. O fiasco de 1966. Já a copa de 1966 foi talvez o pior fiasco do Brasil. Fomos desclassificados na primeira fase com duas derrotas em três jogos, eliminados por Portugal e pelos gols lusos de Simões e dois de Eusébio, impiedosamente. A Copa fora a continuidade do fracasso ocorrido com a seleção pelos campos da Europa. Vicente Feola fora de novo o técnico, só para dizer que é muito difícil repetir e superar os nossos feitos. Esta segunda seleção de Feola com Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Brito, Altair, Orlando, Rildo, Pelé, Gérson, Zito e Garrincha tinha os mesmos medalhões da anterior, mas não vingou. Restou igual ao meu Sergipe que vinha perdendo para o Confiança. Melhor seria esquecê-los e adiantar o relógio e a Copa. Uma história para outro dia.
Bellini,o capitão, Vicente Feola, o técnico e Gilmar, o goleiro. Campeões em 1958 na suécia com a taça Jules Rimet.
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