Monte Alegre de Sergipe

Os professores são como os párocos, acumulam memória da vida social dos lugares, a partir do contato pessoal, constante e íntimo. Os padres batizam, crismam, confessam e dão comunhão, casam, dão extrema unção e rezam missas de saudade. Os professores ajudam na articulação das falas, ensinam com o conhecimento universal que o tempo acumulou e formam, para a vida. Cada um destes profissionais, o professor como um sacerdote ao seu modo, o padre como um professor no púlpito e nos aconselhamentos, está na base da formação social brasileira.

Este livro, espécie de memória retalhada, na qual não falta a exaltação à terra e às suas conquistas, dá bem uma noção do papel que tem desempenhado os professores, pelos rincões sergipanos. A professora Valdete Alves Oliveira foi além da sua responsabilidade de mestra, na sala de aula, para anotar e com as suas anotações compor uma memória sobre a sua terra, que ela intitulou de História Sócio Cultural de Monte Alegre de Sergipe.

O PQD – Programa de Qualificação Docente, que a SEED e a UFS ofereceram aos professores das redes públicas, estadual e municipais, estimula a que os mestres-alunos, ao término dos cursos de licenciatura plena, nas disciplinas da escola, façam registros de temáticas locais, construindo uma bibliografia referencial, que será da maior utilidade às novas gerações.

A professora Valdete Alves Oliveira encarna a consciência de todos os professores, que desde o século XVIII ocupam cadeiras, ensinam a ler e a escrever, a fazer contas, e agora, nos últimos tempos, desenvolve todas as aptidões culturais, de acordo com a legislação que quer toda criança na escola.

A aldeia, a terra que serviu de berço, exerce uma atração irresistível. É comum, nos municípios sergipanos, motivados pelas feiras semanais, ou pelas festas de Oragos, a reunião familiar, de parentes e de amigos, no convívio que nem sempre o cotidiano permite. Uma emoção toma conta das pessoas, valorizando a origem e a formação nos cenários que ficaram guardados, na intimidade do ser.

A História Sócio Cultural de Monte Alegre é um livro que deve servir de exemplo, se não pela extensão e profundidade do seu conteúdo, mas e primordialmente pela opção da autora, de debruçar-se sobre o que conhece, o que é seu, o que lhe toca a alma, na evocação de lembranças, de fatos, pessoas, episódios da história, que muitas vezes foram deixados, sem o abrigo da documentação, tão necessária como roteiro cultural da vida social.

A partir da geografia, do estudo didático do espaço, a professora aglutina, como se estivesse na sala de aula, o conhecimento com o amor à terra, na circunstância de guardar uma admiração que pode ser partilhada, sempre, com as novas gerações, de alunos e de cidadãos.

Agora entregue ao uso público, com lançamento festivo em Monte Alegre, tal conhecimento ilustrará toda a região sertaneja de Sergipe, e servirá de guia para a compreensão de fatos que dominaram, por largo tempo, a memória social da região, como o cangaço, por exemplo, contemplado pela autora como um capítulo de coragem dos lados em disputa.

Seria muito bom que outros professores, como portadores do saber, imitando o que fizeram dois padres, que coincidentemente foram vigários de Porto da Folha e dos seus sertões – Artur Passos e Isaias Nascimento –  deixando obras fundamentais, o primeiro sobre Lampeão, a partir de 1929, o segundo sobre Dom Távora, em 2008, e como faz, agora, a professora Valdete Alves Oliveira com o seu singelo e sincero livro, editado aos seus próprios custos, contribuíssem para firmar, naquela parte do território de Sergipe, um amplo registro memorial, como base da identidade local.

O livro da professora Valdete Alves Oliveira será lançado no dia 7 de fevereiro, às 19 h, na Escola 28 de Janeiro, em Monte Alegre, perante a sua comunidade.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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