Morte e Doação

Faleceu em 30 de setembro último, após quinze dias de internamento na UTI do Hospital São Lucas, o médico Gilton Machado Resende, com 75 anos.  Ele deixou registrado em carta o desejo de doar o próprio corpo para servir de material de estudos para os alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe. O desejo foi atendido pela família.

Morto, Gilton não é diferente do Gilton vivo, e seu desejo, por mais inusitado que possa parecer, não é gesto surpreendente para as pessoas que conviveram com ele. Com uma vida dedicada ao ensino médico, foi excelente professor de clínica médica, do mais alto gabarito. Suas aulas práticas na enfermaria de clínica do Hospital Cirurgia eram magnificas. Com conhecimento e raciocínio clinico agudo e profundo, transmitia aos seus alunos não só conhecimentos técnicos, mas conceitos bem definidos de comportamento ético, responsabilidade e seriedade.

Nascido em Aracaju em 27 de junho de 1937, filho de João Resende e Maria de Lourdes Machado Resende, Gilton foi estudar Medicina na primeira capital do país, formando-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1962. Formado, permaneceu em Salvador, onde atuou durante dois anos  na área de ginecologia e obstetrícia, realizando partos na Maternidade Tsila Balbino. Três anos depois, com o retorno para Aracaju, tornou-se clínico geral e passou a integrar o corpo docente da recém fundada Faculdade de Medicina de Sergipe, atendendo no Hospital de Cirurgia. Foi médico do Departamento de Estradas e Rodagens, trabalhando também no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS).

De personalidade afirmativa, Gilton defendeu teses polemicas como presidente do Cremese, no cargo de 1974 a 1984 e como  Secretário de Estado da Saúde no governo de Antonio Carlos Valadares. Na disciplina de clínica médica da Faculdade de Medicina de Sergipe ele atuou por 28 anos. Na UFS exerceu cargos de comando entre eles a chefia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Foi ele que implantou as enfermarias de clínica médica do Hospital Universitário. Em 1990, aposentou-se de suas atividades médicas e passou a  se dedicar quase que em tempo integral ao Lions Clube Aracaju Centro.

Curiosamente, o menino Gilton Resende, nas estripulias da infância, sofreu uma queda ao subir num muro e teve traumatismo abdominal com rotura do baço, sendo salvo por uma tempestiva cirurgia realizada pelo Dr. Augusto Leite, que lhe retirou o órgão, contendo o grave sangramento. Quis o destino que, naquele momento, ele fosse a primeira pessoa em Sergipe a ser submetida a uma esplenectomia, como é chamada cientificamente a retirada do baço.

Por tudo isso, Gilton Resende está  intrinsicamente ligado à Medicina de Sergipe e, com esse gesto magnânimo da doação, irá permanecer vivo, como um farol a guiar os passos dos nossos futuros médicos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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