O presidente do Parlamento cubano, Ricardo Alarcón, propôs na semana passada que o ditador Fidel Castro seja reeleito presidente do Conselho de Estado — que corresponde a chefe de governo e de Estado naquele país. A eleição acontece em março do próximo ano. Ele “recupera-se muito bem” e estará “em perfeitas condições” de disputar a eleição, garantiu o parlamentar. Aos 80 anos de idade, 48 dos quais à frente da ditadura comunista, Fidel transferiu “provisoriamente” o poder ao irmão, Raúl, em julho passado, após sofrer uma cirurgia no intestino. Não se divulga detalhes sobre a doença. A saúde dele é segredo de Estado na ilha caribenha. Quando os cubanos de dentro (obviamente de forma contida) e os dissidentes (exilados ou nos campos de concentração) pedem aos deuses para que o pior aconteça ao ditador, vem essa ducha de água fria. O homem que o extraordinário escritor colombiano Gabriel García Márquez, um assumido esquerdista, descreve como “uma força da natureza”, é na verdade um líder ultrapassado, um sanguinário à moda maoísta e stalinista, chefe supremo da mais atroz ditadura que já se abateu sobre a América — e sabemos que foram terríveis as ditaduras de direita no Brasil, na Argentina, no Chile e outras nações cucarachas. Terríveis como são os regimes de exceção. Nos cárceres de Fidel, mais de 100 mil pessoas acabaram no paredón. E o tão sonhado fim das desigualdades propostas pelo socialismo ficou na utopia. Com a brecha política aberta nos anos 90, que transformou o turismo no setor que mais contribui para a economia do país, Cuba recupera-se lentamente da séria recessão provocada pela retirada dos subsídios da antiga União Soviética (cerca de A MISÉRIA RETRATADA NOS LIVROS — O escritor Pedro Juan Gutiérrez, autor de três livros publicados no Brasil, sendo o mais recente O insaciável homem-aranha, retrata com mordacidade o modo de vida miserável da ilha. Mas não se envolve com política, daí ser poupado pelo regime e até desfrutar do privilégio de eventualmente poder sair do país. Mesma regalia não tiveram milhares de cubanos que ousaram discordar do comunismo. O poeta Armando Valladares sofreu na carne, literalmente, o dissabor de ser contra o compañero.