MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: CHICO BUARQUE

CD: “CARIOCA – AO VIVO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Quando Chico Buarque se for (e eu espero que demore muito ainda), certamente deixará o seu nome marcado como o maior compositor da música popular brasileira. É claro que alguns lembrarão também de Caetano Veloso, Tom Jobim, Roberto Carlos, Noel Rosa ou Lupicínio Rodrigues, todos eles verdadeiros gênios na arte de criar canções, mas Chico é unanimidade nacional há tempos, menos por seu incontestável talento e mais pela capacidade única de saber se fazer ouvido por todas as classes deste imenso e complexo Brasil.

Um show de Chico, que costuma se ausentar do meio musical por períodos consideráveis para gerar crias literárias, torna-se, então, um acontecimento ímpar. Foi com aura de espera e curiosidade que o compositor de olhos cor de ardósia voltou aos palcos, no ano passado, depois de lançar o CD “Carioca”, o qual não foi muito bem recebido pela crítica especializada.

O espetáculo, no entanto, lotou todas as casas por onde passou, inicialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, e depois em várias cidades país afora. Como era de se esperar, esse show foi devidamente registrado ao vivo pela gravadora Biscoito Fino que acaba de lançá-lo nos formatos CD duplo e DVD (uma curiosidade: o CD traz áudio diferente do DVD. A gravação do vídeo foi feita em São Paulo, em 11 de outubro de 2006. Já o CD teve seu áudio captado na temporada carioca do show, realizada no Canecão em janeiro deste ano. No entanto, como as interpretações do artista exibem poucas nuances, as diferenças são quase imperceptíveis).

Chico nunca foi um grande cantor, mas seu timbre agradável amenizava-lhe a deficiência vocal. Os anos de estrada, cigarro e bebida arranharam-lhe a voz que agora soa cansada, o que não o impede, contudo, de levantar a platéia em números que já fazem parte do inconsciente coletivo, como “Quem Te Viu, Quem Te Vê”, “Eu Te Amo” e “João e Maria”, por exemplo.

A base do repertório é o supracitado álbum: toda a dúzia de canções que o integram estão lá com inevitáveis destaques para “Renata Maria”, “Outros Sonhos” e “Ode aos Ratos”. Fugindo da escolhas de hits óbvios, Chico pinçou verdadeiras obras-primas de sua autoria (“Mil Perdões”, “A Bela e a Fera” e “As Vitrines” são algumas delas), enfileirando-as com outras canções pouco conhecidas mas nem por isso menos inspiradas (“Mambembe”, “Palavra de Mulher” e “Na Carreira” fazem parte deste grupo) e voltou aos palcos com nítida vontade de matar a saudade de seus incontáveis admiradores.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: ISABELLA TAVIANI

CD: “DIGO SIM”

Gravadora: UNIVERSAL

 

A carioca Isabella Taviani iniciou-se na carreira musical em 1992 e de lá para cá vem tentando garantir (com talento e persistência) o seu lugar ao sol. Já tendo dividido o palco com gente do porte de Cássia Eller, Paralamas do Sucesso e Léo Gandelman, somente em 2003 lançou o seu primeiro CD que, de cara, arregimentou uma fiel e boa quantidade de fãs.

Compositora inspirada e intérprete possuidora de uma voz potente (é contralto, formada em canto lírico), ela vem sendo apontada por alguns (de forma simplista) como imitadora de Ana Carolina. De fato, suas canções lembram as de Ana e seu timbre vocal guarda enorme semelhança com o da colega mineira. É também incontestável que as duas cantam de uma maneira que, por vezes, soa passionalmente over. No entanto, Isabella não exagera nos vícios que Ana teima em ressaltar e, se a verve criativa desta já começa a dar sinais de cansaço (vide o seu último trabalhão, o morno “Dois Quartos”), a niteroiense encontra-se em fase inspirada no que tange à composição.

É o que se pode constatar através do seu novo CD, intitulado “Diga Sim”, o qual chega às lojas através da gravadora Universal. Produzido pelos competentes Torcuato Mariano e Nilo Romero, é composto de treze faixas, onze delas assinadas pela própria Isabella. Embora os arranjos teimem em dar uma desnecessária unicidade à obra, conferindo uma padronização excessiva, fica claro a ótima qualidade de várias faixas, dentre as quais merecem destaque a belíssima “O Último Anjo”, a assumida “Iguais” e a latina “La Luna”, todas elas possuidoras de melodias contagiantes. Aliás, uma das característica de Isabela enquanto autora é saber dividir as suas criações em duas ou três partes bastante delimitadas, mas ao mesmo tempo integradas entre si. Conhecedora da alma de suas canções, sabe conferir-lhes uma arquitetura que poucos hoje em dia conseguem.

Entre momentos mais suaves (“Letra Sem Melodia” e “Sinal de Adeus”), a artista apresenta leituras pessoais para “Outro Mar” (gravada anteriormente por Luísa Possi) e “Ternura” (versão de Rossini Pinto que foi grande sucesso da Jovem Guarda na voz de Wanderléia) e emplaca “Luxúria” na trilha sonora da telenovela global “Sete Pecados”.

É! Que me desculpem os puristas de plantão, mas acho que desta vez eu vou preferir ficar com o genérico…

 

 

N O V I D A D E S

 

·               O novo CD do grupo mineiro Patu Fu está prestes a chegar às lojas. Intitulado “Daqui Pro Futuro”, o trabalho conta com a participação especial da cantora colombiana Andrea Echeverri, vocalista do grupo Aterciopelados. Em tempo: a vocalista da banda, Fernanda Takai, prepara ainda para este ano o lançamento de seu primeiro disco solo no qual, sob a produção de Nelson Motta, revisitará o repertório de Nara Leão.

 

·               Marina Lima, enfim de volta à boa forma vocal e ao sucesso, prepara para lançar até o final deste ano um CD e um DVD. Enquanto o CD vai trazer a apresentação de show realizado em 2004 no Bar Barretto, em São Paulo, o DVD é o registro integral do show “Primórdios”, levado a diversas cidades no ano passado.

 

·               A parte mais conhecida da obra do exímio violonista Baden Powell reside nos belos afro-sambas que ele compôs com Vinicius de Moraes. Mas suas parcerias com Paulo César Pinheiro também são ótimas e servem agora de base para o repertório do CD intitulado “Cai Dentro”, que o ótimo cantor Marcelo Vianna está lançando através da gravadora Lua Music. Marcelo estreou no mercado fonográfico em 2002 com um excelente disco em que revisitava a obra do avô, o famoso Pixinguinha. O novo e bom trabalho traz canções mais conhecidas (caso da faixa-título e de “Aviso aos Navegantes”, ambas gravadas originalmente por Elis Regina, e de “Refém da Solidão”, que anteriormente mereceu registros por parte de Elizeth Cardoso e de Miúcha), resgata outras quase esquecidas (“Eu Sei Que Vou Chorar”, “Paciência” e “Mesa Redonda”) e ainda apresenta duas inspiradas inéditas (“Pai” e “Encosta Pra Ver Se Dá”). O filho de Baden, Phillipe Baden Powell, participa do álbum em algumas faixas, como pianista e arranjador.

 

·               O primeiro CD de Solange Sá, produzido por Mário Manga e que chega ao mercado através da Tratore, apresenta uma cantora com bela voz de mezzo-soprano que também assina onze das doze faixas. Talvez isso prejudique um pouco um trabalho que poderia mostrar uma intérprete bem mais interessante se o repertório não patinasse em tolices como “Preconceito” e “Farol Vermelho”. Em compensação, há as boas “O Grande Passo” e “Viagem”. A faixa “Eu Vou Pra Farra” (de Hélio Sá Pinto) comprova o quanto isso faz sentido!

 

·               O pianista Gilson Peranzetta sempre teve sua carreira associada aos diversos artistas com quem trabalhou, dentre eles, Ivan Lins. Recentemente, fez chegar às lojas um novo disco solo, intitulado “Bandeira do Divino” (conhecida parceria de Ivan com Vítor Martins), no qual, através de onze faixas escolhidas a dedo, ratifica o seu incontestável talento. Dentre os melhores momentos estão “Domingo no Parque” (de Gilberto Gil), “Ponteio” (de Edu Lobo e Capinam) e “Luz do Sol” (de Caetano Veloso).

 

·               Deverá chegar às lojas em outubro próximo, através da DeckDisc, o novo CD da Nação Zumbi que, inclusive, já se encontra em estúdio finalizando as gravações do repertório. A produção fica a cargo de Mario Caldato Jr. E por falar na banda: seu guitarrista, Lúcio Maia, acaba de lançar o seu primeiro trabalho solo sob o pseudônimo de Maquinado. Intitulado “Homem Binário”, o disco tenta equilibrar timbres orgânicos e eletrônicos e é um presente para os fãs do grupo.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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