MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: ALCIONE

CD: “DE TUDO QUE EU GOSTO”

Gravadora: INDIE RECORDS

 

Uma das grandes intérpretes femininas brasileiras, a maranhense Alcione surgiu no mercado fonográfico em 1975 com o LP intitulado “A Voz do Samba”. Daí em diante, conheceu rapidamente o sucesso, engatando um hit após o outro (como “Não Deixe o Samba Morrer”, “Sufoco” e “Gostoso Veneno”, por exemplo), chegando a ser uma das maiores vendedoras de disco do país e engatando até um programa na Rede Globo, o “Alerta Geral”.

Dos meados da década de oitenta em diante, descobriu o filão das canções popularescas (“Garoto Maroto”, “Nem Morta” e “Meu Vício É Você” estão entre elas) e a partir daí, com o objetivo de satisfazer um público que lhe é fiel há anos, vem lançando álbuns em que alterna sambas e baladas, vez por ou outra abrindo espaço para algum outro gênero em menor proporção. Ao abraçar essa opção, às vezes consegue realizar bons discos, mas em outras derrapa feio.

Infelizmente o CD “De Tudo Que Eu Gosto”,que acaba de chegar às lojas através da gravadora Indie Records, termina se enquadrando nessa segunda categoria: não é definitivamente um bom trabalho dentre os vários que já fazem parte da extensa discografia da Marrom.

Produzido por Jorge Cardoso, compõe-se de quatorze faixas que, não obstante comprovarem que a voz da artista continua em forma, denota que desta vez a escolha do repertório não foi feliz. As baladas ora resvalam para a sandice (“Perdeu, Perdeu”), ora para o lugar comum (“Quando o Amor Bateu à Porta”). Até a melhorzinha delas (“Como Da Primeira Vez”) fica bem aquém de outras já gravadas anteriormente pela cantora. Quanto aos sambas, eles tampouco chegam a empolgar (“Luz do Nosso Amor” e “300 Anos”), exceção feita somente para “Eu Te Procuro” e “Laguidibá”, o qual conta com a participação especial de Mart’nália, este um dos melhores momentos do álbum, ao lado da regravação (em clima cool) da obra-prima “Entre a Sola e o Salto” em que Alcione divide os vocais com o autor, o vocalmente alquebrado Gilberto Gil. Outros convidados são Marcelo Falcão (vocalista do Rappa) na fraquinha “Mangueira é Mãe” e Homero Ferreira na seresta “Marcas do Passado”. Alcione posiciona-se contra a violência à mulher (na razoável “Maria da Penha”) e flerta com o reggae (“Guiné, Guiné”) e com o forró (“Agarradinho”), mas esse novo trabalho termina decepcionando os seus milhares de admiradores (como eu) que sabem que ela pode mais, muito mais.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: SUELI COSTA

CD: “AMOR BLUE”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

Compositora carioca, Sueli Costa não é um nome hoje conhecido pelas novas gerações. E isso é lamentável porque ela, uma das criadoras mais inspiradas da nossa MPB, é responsável por diversas pérolas que povoam o inconsciente coletivo. O auge de sua carreira deu-se nas décadas de setenta e oitenta, época em que viu canções de sua autoria serem gravadas pelos maiores nomes do nosso cancioneiro, como Elis Regina (“Cão Sem Dono”, “Altos e Baixos”), Maria Bethânia (“Coração Ateu”, “Rosa do Viver”), Simone (“Alma”, “Jura Secreta”), Nana Caymmi (“Vale a Pena”, “Fumaça das Horas”), Fágner (“Canção Brasileira”), Nara Leão (“Por Exemplo, Você”) e Fafá de Belém (“Dentro de Mim Mora um Anjo”).

Exímia pianista, Sueli acaba de lançar o seu mais recente CD intitulado “Amor Blue”, o qual foi gravado de maneira independente.

Dentre os poucos discos já gravados por ela, não se pode afirmar ser este um dos melhores. A inspiração já não se lhe aflora próxima ao perfeito, como há vinte e tantos anos atrás, mas vale a pena conhecer a nova safra de canções inéditas pelo que mostram do momento atual da compositora.

Sueli nunca foi uma intérprete convincente. Sua voz pequena é pouco afinada. Sabedora disso, arregimentou forte time de convidados para dar vida à metade do repertório que compõe o novo trabalho. Assim, há a presença afetuosa das três cantoras que mais gravaram suas obras (Bethânia, Simone e Nana, que se mostram majestosas em “Sim, Sei Bem”, “Porque Te Amo” e “Cantiga do Vento”, respectivamente), além de Celso Fonseca (à vontade na faixa-título), de Daniel Gonzaga (convincente em “Calma”) e de sua sobrinha, a boa cantora Fernanda Cunha, também responsável pela produção do álbum (correta em “Luz da Esperança”).

Dentre as faixas cantadas pela própria Sueli, os destaques ficam por conta de “Elizeth”, “Meu Gato Que Ri” e “Outra Vez, Nunca Mais”.

Os parceiros de sempre também estão lá: Ana Terra, Abel Silva, Fausto Nilo e Paulo César Pinheiro, acompanhados desta vez de Paulo Mendonça, Luiz Sérgio Henriques, Ana Maria Baiana, Carlinhos Vergueiro e Paulo Emílio.

Compositora tida como sofisticada e hábil em harmonias complexas, Sueli pode não ter feito um disco excepcional, mas é sempre muito bom saber que continua em constante processo criativo…  

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Amanhã (terça-feira, dia 11 de setembro) vai se realizar o segundo show da nova edição do Projeto Prata da Casa. Local? Teatro Atheneu, a partir das 21 horas. Atrações? A cantora Amorosa e a banda Blair, capitaneada por Gusmão e que tem como integrantes Glau Marcel (filho da própria Amorosa) e Gabriel (filho da sempre esfuziante e maravilhosa Del Alencar). Só vai perder que for doido…

 

·               Gravado ao vivo durante apresentação realizada, no ano passado, na Sala Villa Lobos do Teatro Nacional de Brasília, merece ser conhecido por todos o CD do cantor e compositor Eduardo Rangel, que integra a 1ª Edição da Série “Orquestra Filarmônica de Brasília convida Grandes Compositores Candangos”. É um trabalho primoroso que revela um compositor inteligente e inspirado, o qual passeia por temas os mais diversos, sempre sob um olhar próprio e de maneira bastante criativa. Como cantor, Eduardo mostra uma voz bem trabalhada com uma subdivisão bastante peculiar. Das quatorze faixas que compõem o álbum, somente duas não são de sua autoria: “Carinhoso” (obra-prima de Pixinguinha e Braguinha) e “Unicórnio” (tema assinado por Silvio Rodrigues). Os maiores destaques, no entanto, ficam por conta das belas canções “Estória pros Netos”, “Boba que Nem Eu”, “Como um Deus”, “Tango do Himeneu”, “Chafariz” e “Vênnus”.

 

·               O excelente cantor Carlos Navas, dando continuidade ao seu projeto paralelo voltado para a criançada em geral, vai lançar, ainda este mês, o álbum “Canções de Faz de Conta”, o qual reúne parte da obra infantil de Chico Buarque. Dentre as faixas estão “História de uma Gata”, “Hollywood” e “Boi Voador Não Pode”. Bibi Ferreira e Vânia Bastos são as convidadas especiais das faixas “Minha Canção” e “João e Maria”, respectivamente.

 

·               Em alta no mercado fonográfico por conta de Maria Rita ter gravado algumas canções de sua autoria no seu novo e aguardado CD (que chega ainda este mês às lojas), o sambista Arlindo Cruz encontra-se em estúdio, terminando de gravar um disco de inéditas que estará disponível até o final do ano através da DeckDisc. O trabalho contará com as participações especiais das Velhas Guarda da Portela e do Império Serrano, do cantor Sereno (integrante do grupo Fundo de Quintal) e da própria Maria Rita.

 

·               Compositor baiano, Quito Ribeiro já teve composições suas gravadas por Ivete Sangalo, Jussara Silveira e Daniela Mercury. É com esse aval que o rapaz acaba de lançar o seu primeiro CD, através do qual tenta fazer uma ponte entre sua terra natal e o Rio de Janeiro, onde reside há mais de dez anos. Produzido por Chico Neves e Pedro Sá, o trabalho ressalta, entre batidas diversas, as influências advindas do reggae e do samba.

 

·               Será lançado ainda este mês o novo CD de Djavan. Intitulado “Matizes”, o álbum chegará às lojas através da Luanda Records, de propriedade do próprio artista, e trará doze canções inéditas. A faixa “Pedra” foi escolhida como carro-chefe e já começa a tocar nas rádios.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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