Cantor: RUBI
CD: “PAISAGEM HUMANA”
Gravadora: ELDORADO
Neste país de cantoras, os homens destacam-se bem mais na área da composição. Intérpretes masculinos são escassos e poucos vêm engrossando o time formado por raros como Ney Matogrosso, Emílio Santiago e Renato Braz.
É, pois, grande a satisfação quando se encontra um artista como Rubi, cantor goiano que, radicado há certo tempo em São Paulo, vem construindo sua carreira meio que na contramão.
Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Eldorado, o seu terceiro e belo CD intitulado “Paisagem Humana”. Depois de dois discos anteriores nos quais se antevia um artista antenado com o momento atual da música popular brasileira (ambos os álbuns são dificílimos de serem encontrados, mas como diz o ditado: procurando, acha!), Rubi lança agora aquele que é indubitavelmente o seu melhor trabalho.
Composto por dezessete faixas e produzido por Ricardo Mosca, o CD foi gravado ao vivo em apenas três dias e vem revestido com arranjos basicamente compostos por violões, guitarra e percussão, mas que em momento algum soam monocórdios. Pelo contrário, montados com a criatividade inerente aos bons, resvalam por viagens únicas, conferindo a cada faixa uma emoção própria, o que não impede, no entanto, que, ao final, o ouvinte tenha a sensação de um todo coerente.
Rubi possui voz personalíssima e afinada que vai do barítono ao contralto e, como também tem experiência como ator, sabe utilizar-se de recursos interpretativos característicos, dando incomum vigor às canções escolhidas. Em 2005, quando participou do 8º Prêmio Visa, obteve a 3ª colocação geral, mas terminou sendo aclamado pelo público presente como o melhor da noite.
O repertório é o grande trunfo do recém-lançado álbum pois agrega, na maioria, pérolas de compositores que vêm prestando bons serviços ao nosso cancioneiro. É o caso de José Miguel Wisnik que comparece com a contundente “Inverno”, de Marcelo Camelo com a delicada “De Onde Vem a Calma”, de Vítor Ramil e a inspirada “A Ilusão da Casa”, de Junio Barreto e a atemporal “Santana” (parceria com João Carlos) e de André Abujamra e a inteligente “Elevador”, todas elas grandes momentos. De sua turma (artistas que costumam trocar experiências musicais, participando, inclusive, uns dos discos dos outros), Rubi apresenta ótimas criações de Ceumar (“Gira de Meninos”, parceria com Sérgio Pererê), Gero Camilo (“Infinito Meu”, pinçada do disco anterior), Roseli Martins (“Tudo de Novo”) e Kleber Albuquerque (“Ai”, bela parceria com Tata Fernandes).
Até quando resgata canções já gravadas anteriormente por grandes nomes, Rubi mostra sensibilidade aguçada ao optar pelo não convencional: suas versões para “Por Tudo Que For” (de Lobão e Bernardo Vilhena), “Pra Eu Parar de me Doer” (de Milton Nascimento e Fernando Brant) e “Você me Chamou de Nego” (de Gasolina) são muito bacanas!
Enfim, um intérprete que merece todo o reconhecimento e um disco que se torna imprescindível. Corra e ouça!
Cantor: FRED MARTINS
CD: “TEMPO AFORA”
Gravadora: ELDORADO
Natural de Niterói, o cantor e compositor Fred Martins enveredou pelo campo da música desde os anos oitenta, quando, ainda adolescente, formou a sua primeira banda, a qual misturava jazz com MPB, com fortes influências do pessoal mineiro do Clube da Esquina e de Egberto Gismonti. Depois disso, passou uns anos fazendo transcrições de cifras de músicas para os songbooks lançados por Almir Chediak até que, em 1999, a amiga Lucina fez chegar às mãos de Ney Matogrosso uma fita contendo várias canções de sua autoria. Ney escolheu “Novamente” e a incluiu em seu álbum “Olhos de Farol”, dando o pontapé inicial para o reconhecimento artístico de Fred. Dois anos depois, foi a vez de Zélia Duncan registrar, no CD “Sortimento”, as canções “Flores” e “Hóspede do Tempo”.
Em 2006, Fred obteve o 1º lugar na Edição Compositores do 9º Prêmio Visa de Música e angariou, como prêmio, a gravação do CD “Tempo Afora” que acaba de chegar ao mercado através da gravadora Eldorado (também disponível em versão DVD com cinco faixas adicionais: “Além do Qualquer”, “Cores da Vida”, “Do Corpo”, “Poeta, Que Nada” e “Sem Aviso”).
Com músicas de sua autoria já gravadas por Maria Rita, Cris Dellano, Carlos Navas e Eliana Printes, Fred chega a esse terceiro disco mostrando considerável amadurecimento musical. Como ele mesmo diz: “Acho que consegui chegar a um equilíbrio entre a simplicidade da forma e a densidade do que está sendo cantado”.
E é isso que pode ser constatado através da maioria das dezesseis faixas apresentadas (há, ainda, como bônus, o videoclipe de “O Fim”), a maioria delas assinada com o parceiro Marcelo Diniz.
Produzido por Paulo Ferreira, o disco resultou de registro ao vivo de show realizado, em janeiro do ano passado, no Bourbon Street e, embora o resultado final (no que diz respeito ao som) seja bem legal, não se pode deixar de registrar o amadorismo da edição (as palmas são cortadas de forma tão abrupta que, por vezes, até assustam o ouvinte).
Mas o que vale mesmo é dizer que Fred é um músico de mão cheia. Excelente violonista, também se mostra um compositor criativo, hábil em construir melodias ao mesmo tempo bonitas e fáceis de serem assimiladas. Canta muito bem, com um timbre agradável e extensão considerável. É aquele tipo de artista que tem tudo para ser mais conhecido e só falta mesmo o tal empurrãozinho da grande mídia.
Apoiado por uma banda azeitada e revestindo as músicas com arranjos bastante inspirados, Fred apresenta um trabalho realmente acima da média e que tem, entre os seus melhores momentos, além da faixa-título, as canções “De Novo”, “Não Cabe”, “A Chave”, “Raro e Comum”, “Que se Danem, Que se Amem” (parceria com Manoel Gomes) e “Iguais e Diferentes” (ao lado de Francisco Bosco).
N O V I D A D E S
· Sambista de carteirinha, Cristina Buarque (irmã mais nova de Chico) está lançando CD ao vivo gravado junto com o grupo paulista Terreiro Grande. Disposto em quatro grandes faixas, o disco apresenta trinta e seis sambas, alguns deles de autoria de compositores pouco conhecidos do grande público, tais como: Alvaiade, Mijinha, Francisco Santana, Zé da Zilda e Aniceto da Portela. Bem legal!
· Chegará às lojas, ainda neste primeiro semestre, o novo CD de inéditas que Pedro Luís e a Parede (PLAP), grupo responsável por injetar tintas novas à carreira de Ney Matogrosso em 2004 (quando, juntos, lançaram o excelente álbum “Vagabundo”), já estão gravando em estúdio carioca. A julgar pelo incontestável talento da banda, virá coisa muito boa por aí…
· Depois do bem sucedido “Do Zero”, a cantora Anna Luisa já prepara outro trabalho que, em breve, estará chegando às lojas. A produção está a cargo de Rodrigo Vidal e o repertório vai apresentar parcerias da artista com Emerson Mardhine (“Folguedo Popular”) e com Edu Krieger (“Seu Moço”).
· Fábio Jr. se prepara para lançar o DVD gravado durante a turnê relativa ao álbum “Minhas Canções”. No repertório, sucessos como “Só Você”, “Senta Aqui”, “Alma Gêmea”, “Sangrando” e “Epitáfio”.
· Para coroar sua estréia como atriz na telenovela “Caminhos do Coração” (em exibição pela Rede Record), a cantora Fafá de Belém gravou, especialmente para a trilha sonora correlata, a música “Grande Amor” (parceria de Toni Garrido com Tiago Santiago, o autor da trama). A artista paraense também pôs sua bela voz no novo registro da pungente canção “Raça”, em dueto com Milton Nascimento.
· Cada vez mais apaixonado pela música erudita, o excelente cantor Edson Cordeiro está prestes a lançar, em terras nacionais, o CD “Klazz Meets the Voice”, já editado na Alemanha, o qual gravou ao lado dos Klazz Brothers, trio de baixo-piano-bateria que imprime textura jazzística em temas clássicos. Dentre os destaques estão as faixas “Amazing Grace”, “Joshua Fit the Battle”, “Miss Celie’s Blues” e “Creole Love Call”.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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