R E S E N H A 1
Grupo: OSQUESTRA LUNAR
Gravadora / Selo: ROB DIGITAL / RÁDIO MEC
Composta apenas por mulheres, artistas formadas nos bares e nos palcos cariocas, a Orquestra Lunar acaba de lançar, através de uma parceria entre a gravadora Rob Digital e o selo Rádio MEC, o seu primeiro CD. São oito representantes do sexo feminino que explicitam os seus talentos executando instrumentos vários, como piano, sax, flauta, trombone, violão, cavaquinho, baixo, bateria e percussão e que se juntam às belas vozes das cantoras Áurea Martins e Vika Barcellos, as quais, mesmo de gerações diferentes, se mostram uníssonas no bem fazer da boa música.
O repertório primoroso – inteiramente pinçado entre criações de compositoras, de forma que há músicas assinadas por gente do porte de Joyce, Sueli Costa, Fátima Guedes, Jovelina Pérola Negra, Marina Lima, Chiquinha Gonzaga e Rosa Passos, entre outras – apresenta um painel criativo que mistura tendências mas que revela, antes de qualquer coisa, uma sensibilidade própria para falar de temas os mais diversos.
Entre belos temas instrumentais (“Sol Carioca”, “Sete Neguinhos”, “Das Plantas” e “Corta Jaca”), o álbum conta ainda com as participações mais que especiais de Dona Ivone Lara (na inspirada faixa “Divina Missão”, parceria dela com Bruno Castro) e de Ana Costa (em “Quem Sou Eu Pra Perdoar”, resgate do grupo Quatro Ases e um Coringa).
Os arranjos são excelentes, ora suaves (“Voz de Mulher”, “Garrafas ao Mar”), ora contagiantes (“Samba da Zona”, “Água de Cachoeira”) e prendem o ouvinte mais atento pelos detalhes que, sutilmente, surge aqui e ali.
As duas intérpretes cantam muito bem e de certa forma se complementam. Vika Barcellos é gaúcha, mas trabalha há dez anos no Rio de Janeiro. Seu primeiro CD solo, intitulado “As Pedras”, foi lançado em 2000 e desde então sua voz delicada e afinadíssima vem encantando os freqüentadores de várias casas noturnas da Lapa, onde se apresenta freqüentemente cantando sambas e clássicos da MPB. Ela, de fato, sabe o que faz: basta ouvir as suas versões para as canções “Marco” e “Grávida”. Já a veterana Áurea Martins dispensa comentários. Iniciou sua carreira na década de sessenta e, embora até hoje tenha lançado apenas um único trabalho solo, é reconhecida no meio como uma das grandes vozes deste imenso Brasil. Além de um belo timbre, possui suingue e divisão característicos, conforme se pode constatar, no disco recém-lançado, através de faixas como “Samba com Dengo” e “No Rastro”.
Enfim, um trabalho de dignidade ímpar que não deve faltar em qualquer cedeteca que se preze!
Cantora: NATÁLIA MALLO
CD: “QUALQUER LUGAR”
Gravadora: INDEPENDENTE / TRATORE
Entre os vários nomes que povoam a atual cena alternativa da música nacional (todos eles ainda pouco conhecidos pelo grande público), um que vem paulatinamente ganhando dimensão é o de Natália Mallo, uma argentina de Buenos Aires que se mudou para São Paulo em 1995 e que impressiona por falar português sem nenhum sotaque.
Ainda em sua terra natal, ela, desde cedo, tomou contato, através de seu pai, com o cancioneiro tupiniquim, desenvolvendo gosto especial por Maria Bethânia, Chico Buarque, Caetano Veloso e Djavan, e aprendeu teoria e composição em conservatório de música, tendo se destacado especialmente na execução de violão e piano. A MPB mais tradicional lhe foi posta à prova quando chegou a Sampa e se deparou com influências notadamente díspares, o que concorre para que atualmente se torne tarefa complexa querer rotulá-la ou enquadrá-la. É fato que suas canções possuem um certo estranhamento, embora contenham idéias definidas e, em geral, uma suavidade que encanta os ouvintes.
O CD (recém-lançado de maneira independente, mas distribuído pela Tratore) intitulado “Qualquer Lugar” é o seu primeiro trabalho solo. No entanto, Natália já havia feito incursões anteriores no mercado fonográfico junto aos grupos Trash Pour 4 (que recria clássicos nacionais e internacionais de uma forma debochada) e Gato Negro (que só canta tangos), posto que é a vocalista de ambos.
O álbum em tela apresenta sonoridade acústica e pode, a princípio, parecer simples, mas na verdade contém arranjos bastante interessantes nos quais se destacam instrumentos como baixo acústico, violinos, clarinete, xilofone e até viola caipira.
Com músicas gravadas por Rita Ribeiro e Adriana Caparelli, a artista já possui em seu baú um monte de músicas prontas, mas optou por apresentar um disco econômico: são somente nove faixas (oito de sua própria autoria, algumas com parceiros como Alice Ruiz, Paulo Leminski e Mathilda Kovak; a exceção é a faixa-título, composta por Suely Mesquita). Dentre os melhores momentos estão “Cabeça de Vento”, “Décadas” e “Inocência”. As canções exigiram considerável período de maturação e Natália assume que demorou a chegar aos formatos definitivos, gravando-as e regravando-as algumas vezes. Mas valeu a espera pois o resultado ficou bem bacana!
N O V I D A D E S
· Já se encontra disponível “Dias Claros”, o quarto CD de Wilson Sideral, irmão de Rogério Flausino. Autor de hits como “Fácil”, o artista não conquistou ainda grande repercussão, mas se mostra compositor pop inspirado, especialmente em faixas como “Minha Garota”, “Tá Tudo Certo” e “Pra Não Complicar”. “Exagerado”, hit de Cazuza, mereceu regravação sem grandes méritos.
· A cantora Adriana Maciel lançará este ano seu quarto CD. O carro-chefe já está definido: será a canção “Fórmica Blue”, uma inédita parceria entre os gaúchos Vítor Ramil e Luciano Mello.
· Como era de se esperar depois da dissolução da banda Los Hermanos, Marcelo Camelo se prepara para lançar, em breve, o seu primeiro trabalho solo. O CD, em fase de gravação, já é aguardado com curiosidade pelos inúmeros fãs do talentoso compositor.
· Depois de Céu, o mercado fonográfico brasileiro se prepara para conhecer o trabalho de Lua, cantora nascida em Brasília. Com produção de Alê Siqueira, o seu primeiro CD vai contar com as participações especiais de Lenine e do rapper B Negão.
· Embora não mais possua a voz poderosa de outrora, Milton Nascimento continua ousando: pretende gravar ainda este ano um CD voltado para a complexa obra de Tom Jobim. Tomara que o repertório fuja das escolhas óbvias porque algumas canções do Maestro Soberano, embora incontestáveis obras-primas, já soam desgastadas por conta de incontáveis regravações.
· O filme “O Signo da Cidade”, de Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi, atualmente em cartaz em algumas praças brasileiras, conta, na sua trilha sonora, com a presença dos irmãos Maria Bethânia e Caetano Veloso. Enquanto este registrou a canção “Sozinho na Cidade”, a mana famosa pôs sua incomparável voz a serviço de “Sorte”. Ambas as canções levam a assinatura do bonito casal de atores.
· Pierre Aderne está lançando seu novo CD através do recém-inaugurado selo carioca Abacateiro. Intitulado “Alto Mar”, traz parcerias com Dadi, Seu Jorge e Domenico Lancellotti.
· O segundo CD do grupo Toque de Arte acaba de chegar às lojas com belo repertório que prioriza o samba. Intitulado “Pelos Quatro Cantos”, o álbum apresenta doze faixas, entre canções inéditas (“Escravo de Mim”, “Por Que Não Tentar Ser Feliz” e “Um Canto de Fé”) e regravações (“Fato Consumado”, “La Belle de Jour”, “Aquarela Brasileira” e “Retalhos de Cetim”). A cantora Alcione participa da faixa “Rio Antigo”, em registro mais suave que o originalmente gravado por ela própria em seu disco “Gostoso Veneno” (de 1979).
· O violonista Chico Pinheiro, ao lado do guitarrista Anthony Wilson (integrante da banda da cantora Diana Krall), acaba de pôr nas lojas o álbum “Nova”. Dori Caymmi e Ivan Lins estão presentes em participações especiais.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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