MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: JAIR RODRIGUES

CD: “EM BRANCO E PRETO”

Gravadora: TRAMA

Jair Rodrigues é cantor que sempre teve seu nome associado ao mundo do samba, muito embora a história da música popular brasileira registre ter sido dele a primeira incursão nacional junto ao rap, o grande sucesso “Deixa Isso Pra Lá” (de Alberto Paz e Edson Menezes), lançado originalmente em 1964.

Jair foi engraxate, mecânico e pedreiro até participar de um programa de calouros no qual se classificou em primeiro lugar. A partir daí passou a atuar, na capital paulista, como crooner em diversas casas noturnas e gravou alguns discos. O reconhecimento nacional, no entanto, só viria em 1965 quando passou a apresentar, ao lado de Elis Regina, o programa “O Fino da Bossa”, levado ao ar pela TV Record. Com a Pimentinha lançou três LP’s ao vivo (“Dois na Bossa”, volumes 1, 2 e 3).

No ano seguinte, a consagração definitiva viria através do primeiro lugar alcançado no Festival da Record com a interpretação da obra-prima “Disparada” (de Geraldo Vandré e Théo de Barros), empatada com “A Banda” (de Chico Buarque, defendida por Nara Leão).

Nos anos setenta, seu nome figurava freqüentemente nas paradas de sucesso. A entressafra veio a seguir e Jair permaneceu longe dos holofotes até meados da década de noventa quando, impulsionado pelo surgimento, no meio musical, de Jair Oliveira e Luciana Mello, seus filhos, viu seu nome voltar a ser comentado. Lançou alguns bons discos daí em diante e assim vem tentando redirecionar sua carreira, apoiado pela gravadora Trama, que resolveu investir nessa retomada.

Acaba de chegar às lojas mais um CD do irrequieto artista. Intitulado “Em Branco e Preto”, é nítida alusão ao excelente Quinteto em Branco e Preto, grupo paulista que produziu e arranjou o novo trabalho com qualidade inquestionável.

Jair é cantor que sempre se destacou por uma alegria contagiante. Dono de voz potente e de um timbre característico, suas interpretações sempre beiram o over. Se em alguns artistas de sua geração o peso dos anos fez amenizar os arroubos interpretativos, em seu caso isso não acontece (Jair está à beira de completar sete décadas de vida). É claro que, como tudo na vida, o que prepondera no subjetivismo da aceitação da arte é o gosto pessoal de cada um. Assim, se para alguns ouvintes os excessos de Jair podem incomodar, para outros já soa como uma característica inata que se lhe mostra um charme à parte.

O repertório do CD é composto por quatorze faixas, incluindo o medley final que une três sambas-enredo com temas históricos. Embora a predominância dos ritmos escolhidos recaia no samba, outros também se fazem presentes, como o sambaião (“Migração”, de Magnu Sousa e Maurílio Oliveira, que conta com a participação especial de Dominguinhos), a seresta (a ótima “Madrugada Sorrindo de Novo”, de Almir Guineto e Gilson de Souza) e o chorinho (a bonita “Vida em Sonho”, do filhão Jairzinho). Outro convidado é Germano Mathias, totalmente à vontade no samba de breque “Baiano Capoeira”, de Jorge Costa e Geraldo Filme.

Entre os melhores momentos estão as faixas “Toda Maria” (de Almir Santana e Azambuja), “Caridade” (de Nelson Cavaquinho e Hermínio do Vale), “E Lá Se Vão Meus Anéis” (de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro) e “Eu Vou Só” (de Faeti). Compositor esporádico, Jair ainda apresenta, tendo como parceiro Paulinho Dafilin, a boa “Quem Falou?”. Trata-se de um dos bons discos já lançados por Jair ao longo de sua extensa carreira e que merece ser conhecido por todos!   

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: GLÁUCIA NASSER

CD: “A VIDA NUM SEGUNDO”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

A cantora mineira Gláucia Nasser chega ao seu terceiro CD, arriscando-se como compositora. Depois do homônimo CD de estréia (muito bem recebido pela crítica e no qual a artista debruçou-se sobre o repertório do compositor Anísio Dias) e de um segundo álbum (“Bem Demais”) tido como morno em que mostrou o seu lado eclético de intérprete, revisitando canções de Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Ivan Lins e Antônio Villeroy, Gláucia resolveu pôr no mercado um disco composto apenas por canções suas, assinadas ao lado de alguns parceiros como Ivan Rosa, Andréa Flor, César Braga e Marta Costa.

Trata-se de uma atitude ousada. Em um país onde quase todos estão se enveredando na arte de compor mas poucos possuem, de fato, talento para a coisa, Gláucia poderia ter feito um disco banal, caso suas criações não se mostrassem de fato interessantes.

Não é, todavia, o caso. Se não chega a ser uma melodista daquelas que arrebatam o ouvinte em uma primeira audição e se os parceiros letristas não contribuem com idéias originais nem grandes sacadas, a verdade é que, no conjunto, as canções escolhidas resultam acima da média, posto que soam agradáveis e fogem de um resultado monocórdio.

Gláucia tem boa voz, de timbre claro e bonito. E se é inquestionável ecos da colega Joyce em algumas de suas emissões vocais, fica também nítida a semelhança com a emergente amazonense Eliana Printes em várias passagens. Nada, contudo, que lhe venha a desabonar.

Produzido pela própria cantora ao lado de Luiz Enrique, o álbum possui arranjos bem concebidos que, por vezes, levantam algumas faixas menos elaboradas. Dentre os melhores momentos dá para destacar, além da faixa-título, as canções “Basta Sentir” (entremeada por um sensibilíssimo piano), “Amor Fugaz” (de refrão pop pegajoso) e “Louca Aventura” (que conta com o violino mágico do conterrâneo Marcus Viana). A suave “Dois a se Amar” traz a bonita voz de Renato Motha nos vocais como convidado especial. No entanto, é quando mergulha no terreno do samba que a compositora Gláucia se mostra mais inspirada e segura. A constatação disso vem através da audição das faixas “Sambista Bom”, “Diário” e especialmente “No Tom da Terra”.

Ainda há muito a amadurecer, mas o fato é que Gláucia Nasser já mostrou que pode vir a se transformar em uma das grandes intérpretes deste nosso tão belo e contraditório país. Quem viver, verá…

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Já em excursão, Maria Bethânia e Omara Portuondo unem as músicas do Brasil e de Cuba em elogiado show que chegará a Aracaju no dia 23 deste mês e será apresentado no Espaço Emes. Com um repertório bem mais extenso que o do CD recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino, o espetáculo conta com várias novidades, dentre as quais “Doce”, canção inédita de autoria de Roque Ferreira. Outros destaques ficam por conta de “Havana-me” (de Joyce e Paulo César Pinheiro) e “O Cio da Terra” (de Milton Nascimento e Chico Buarque), música com que as cantoras, a capella, abrem o show em alto estilo.

 

·               O cantor pernambucano Fênix estará gravando, em maio próximo em Recife, o seu primeiro DVD (que estará disponível também em CD). Dono de bonita e exótica voz, o artista incluirá, no seleto repertório, canções assinadas por Zé Ramalho e Caetano Veloso.

 

·               E quem está prestes a entrar em estúdio é o pernambucano Lenine que lançará, até o meio deste ano, o seu novo e aguardado CD de inéditas.

 

·               Outra que se prepara para gravar seu próximo trabalho é a cantora Mart’nália. O repertório priorizará misturas do samba tradicional com o suingue black do soul e do charme (um tipo de funk mais melódico).

 

·               Embora tivesse convite da MTV para registrar, em formato acústico, os seus maiores sucessos, o grupo Skank optou pela gravação de um disco de inéditas que já está sendo formatado em um estúdio de Belo Horizonte. A produção ficará a cargo de Dudu Marote, o mesmo que pilotou os álbuns “Calango” (1994) e “O Samba Poconé” (1996).

 

·               Depois de treze anos longe do marcado fonográfico, Léo Jaime estará de volta com o lançamento do CD “Interlúdio” que chegará às lojas no próximo mês de junho e trará um repertório prioritariamente composto por canções inéditas. Deve vir coisa boa por aí…

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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