MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: ROSA PASSOS

CD: “ROMANCE”

Gravadora: UNIVERSAL

 

Rosa Passos, a próxima atração do projeto MPB Petrobrás, é mais uma baiana que vem prestando bons serviços à nossa música popular. Mas diferentemente de Gal Costa, Maria Bethânia e Simone (que são nomes conhecidos de norte a sul do nosso país) ou de Daniela Mercury e Ivete Sangalo (que baseiam suas carreiras em ritmos dançantes e apresentações apoteóticas), Rosa ainda é pouco conhecida por aqui e prefere revestir seu canto com tintas intimistas. Merecidamente valorizada no mercado europeu, ela vem sendo apontada como o João Gilberto de saias, muito pela forma suave de colocar a voz, quase que sussurrando as palavras.

De fato, trata-se de uma artista diferenciada, daquelas que certamente não passam batida aos ouvidos atentos. Rosa entende do riscado, vez que estudou piano e violão na adolescência. Como compositora, iniciou-se participando de vários festivais de música e possui várias boas criações assinadas ao lado do parceiro Fernando de Oliveira, grande parte delas priorizando sambas e boleros. Como cantora, não possui voz extensa, mas ela sabe tirar proveito disso desconstruindo as canções que escolhe para gravar e revestindo-as de personalidade própria. E isso não é para qualquer um, principalmente quando se trata de temas já revisitados à exaustão. Mesmo nestes, Rosa costuma imprimir novas tintas, comprovando ser uma artista realmente ímpar.

Depois de lançar discos voltados exclusivamente para a obra de Ary Barroso, Tom Jobim e Dorival Caymmi, Rosa põe no mercado nacional, através da gravadora Universal, o álbum “Romance”, após uma excelente recepção do mesmo lá fora. Composto por doze faixas, todas elas regravações, e produzido por ela própria, o novo e décimo quarto trabalho de sua carreira é, realmente, um ótimo cartão de visitas para quem ainda não teve o prazer de conhecer a cantora.

O clima cool predomina, transportando o ouvinte para o ambiente esfumaçado de uma boate. Nele, Rosa deita e rola, com sua divisão toda particular e sua maneira de conferir tonalidades jazzísticas às canções escolhidas, como fica evidente, por exemplo, em “Doce Presença” (de Ivan Lins e Vítor Martins) e “Álibi” (de Djavan), dois grandes momentos. Os arranjos, pautados na suavidade, são divididos entre o pianista Fábio Torres, o violonista Lula Galvão e o baixista Paulo Paulelli e possibilitam a plena entrega da intérprete a letras que falam, em sua totalidade, de amores, mesmo sem se utilizar de arroubos ou grandiloqüências vocais. É assim que pérolas como “Atrás da Porta”, “Tatuagem” e “Altos e Baixos”, todas anteriormente gravadas pela visceral Elis Regina, têm a dramaticidade impressa em seus versos contrastada pela interpretação sempre econômica de Rosa, sem, contudo, ocorrer qualquer prejuízo à beleza das mesmas.

“Romance” é, sim, um dos melhores títulos da ótima discografia de Rosa Passos e por isso mesmo merece vida longa.

 

RE S E N H A     2

 

Cantora: ROSEMARY

CD: “MULHERES DA MANGUEIRA”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

A cantora Rosemary passa ao largo das novas gerações. Mas na década de setenta, não apenas pela exuberante beleza que conserva até hoje, mas também por conta de um repertório de fácil apelo popular, era muito conhecida em todo o Brasil. Junto com o cantor Ronnie Von e devido a um quadro do programa Flávio Cavalcanti, formava o casal preferido daquela atração televisiva. Carioca, a artista nunca, contudo, conseguiu sustentar sua carreira com álbuns de peso, alcançando as paradas de sucesso de forma esporádica, como quando aconteceu em 1982 com o estouro da canção “Jóia” que ganhou de presente da dupla Roberto e Erasmo Carlos. Nesse meio tempo, participou de inúmeros shows glamourosos dirigidos por Abelardo Figueiredo, realizados em famosas casas de espetáculo do eixo Rio-São Paulo e levados, com sucesso, para os Estados Unidos e diversos países da Europa.

Afastada do mercado fonográfico há exatos doze anos (o seu último disco foi lançado em 1996), Rosemary acaba de lançar, de maneira independente, CD (gravado em estúdio) e DVD (registrado ao vivo) intitulados “Mulheres da Mangueira”, através dos quais a artista louva as mulheres da mais famosa escola de samba brasileira, a verde e rosa Mangueira. Trata-se de um CD com alma feminina em que a sensibilidade e o espírito guerreiro são ressaltados, como já se comprova desde a faixa de abertura do trabalho, o bom samba homônimo e inédito de autoria de Erasmo Carlos.

É fato que a paixão da cantora pela Mangueira não vem de hoje. De há muito, Rosemary desfila anualmente, geralmente sambando no chão, e seu nome já faz parte daquela comunidade. Muito por isso esse novo trabalho não lhe soa deslocado; muito pelo contrário, faz-se salutar e bastante apropriado.

Produzido pela própria artista ao lado de Milton Manhães, o álbum possui arranjos assinados por gente de peso como Ivan Paulo, Fernando Merlino, José Lourenço e Leandro Braga. E é fato que Rosemary, cantora associada à seara romântica, não fez feio no terreno do samba. Perfeitamente entrosada, mostra que sabe fazê-lo, embora, em alguns momentos, emposte a voz um pouco mais que o necessário. Do repertório constam canções de autores ligados à escola, como Cartola (“Sala de Recepção”, “Alvorada” e “Ao Amanhecer”), Darcy da Mangueira (o samba-enredo “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato), Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito (“Flores Secas”). Há as participações especialíssimas de Alcione e Beth Carvalho (em “Estrelas Consagradas”, de Nilton Barros), Zeca Pagodinho (em “3 Mulheres”, de Arlindo Cruz) e Chico Buarque (em “Chão de Esmeralda”, parceria dele com Hermínio Bello de Carvalho).

Um projeto honesto, bacana e que merece ser conhecido. Palmas para Rosemary!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     E continuando no terreno do samba que, diga-se de passagem, voltou com força total, um lançamento que não deve passar em branco é “Vivendo Samba”, novo CD do grupo “Samba de Rainha”, composto por oito mulheres que mostram entender do riscado. Uma ótima produção independente que, através de quinze faixas, mostra o talento inato das garotas para a música. A vocalista principal, Núbia Maciel, tem voz bonita e segura e se mostra talentosa também como compositora. O repertório tem a maioria das músicas assinadas por elas próprias, mas merece registro a regravação de “Retalhos de Cetim”, de Benito di Paula. Dentre os melhores momentos estão as deliciosas faixas “É Pomba, Mané!”, “Vertigem” e “Dona da Canção”.

 

·                     Até o final do ano estará chegando às lojas o CD que registrará o show feito, em abril de 2007 no Teatro Fecap (SP), da cantora Leila Pinheiro ao lado do compositor Eduardo Gudin que vem a ser um dos autores (ao lado de Costa Netto) da canção “Verde”, grande e primeiro sucesso nacional da excelente intérprete paraense. O repertório será todo baseado na obra de Gudin com parceiros como Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro e Sérgio Natureza e trará belas canções, a exemplo de “Sempre se Pode Sonhar”, “Boa Maré” e “Luzes da Mesma Luz”.

 

·                     Toni Garrido, ex-vocalista da banda Cidade Negra, está terminando de gravar as canções que farão parte de seu primeiro CD solo, o qual será lançado em breve. Dentre as músicas que farão parte do repertório, a curiosidade maior fica por conta da insuspeita releitura de “Me Libertei”, canção de autoria de Toni Tornado (em parceria com Frankye), que fez parte de seu LP de estréia lançado no já distante ano de 1971. Garrido promete um dos melhores lançamentos do ano!

 

·                     A gravadora Trama fará chegar às lojas até o final deste mês o novo CD de Ed Motta. Intitulado “Chapter 9”, o álbum trará onze canções inéditas, todas elas cantadas em inglês. Exótico ao extremo, o artista cesta vez resolveu radicalizar. Vamos esperar para ver como irá reagir o mercado…

 

·                     O próximo lançamento do selo Discobertas, do pesquisador musical Marcelo Fróes (que recentemente pôs nas lojas registros feitos no início das carreiras de Zé Ramalho e Renato Russo), será voltado para Jackson do Pandeiro e trará gravações feitas pelo artista conhecido como “Rei do Ritmo” na Columbia, companhia cujo acervo hoje pertence à Sony BMG e na qual ele permaneceu entre 1958 e 1960. São 24 gravações que ressaltam alguns dos grandes sucessos de Jackson, tais como: “Sebastiana”, “Cantiga do Sapo” e “Forró na Gafieira”. Imperdível!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais