R E S E N H A 1 
Cantor: JARDS MACALÉ
CD: “MACAO”
Gravadora: BISCOITO FINO
Como todos os seres humanos, o cantor e compositor Jards Macalé possui um apelido de infância. E este é Macao. Foi com esse nome que ele batizou o seu novo CD (o décimo solo) que acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino soando saborosamente intimista.
Macalé é artista carioca talentoso e inventivo. Embora nunca tenha chegado a ser conhecido como um dos nomes da linha de frente da nossa MPB, tem contribuído regularmente, junto a alguns deles, com preciosidades: é dele, por exemplo, a autoria de “Vapor Barato” (ao lado de Wally Salomão), gravada por Gal Costa, e de “Movimento dos Barcos” (ao lado de Capinam), bela canção que faz parte do rol de sucessos colecionados por Maria Bethânia. Inserido no rol dos “malditos” do nosso cancioneiro, Macalé, que acompanhou de perto o Tropicalismo, de uns anos para cá, vem lançando regularmente bons CD’s que comprovam a inquietude que lhe é inerente ao espírito.
Cantor de recursos vocais limitados, o artista sabe safar-se desse infortúnio com interpretações personalíssimas, seja de sua própria obra, seja de canções famosas de outros criadores, as quais, como que delas se apropriando, traz com galhardia para o seu universo particular. É o caso da releitura da clássica “Ne Me Quitte Pas”, imortalizada mundialmente por Edith Piaf e aqui no Brasil pela interpretação sofrida de Maysa, uma das onze músicas que compõem o seu recém-lançado álbum. Isso para não falar do que consegue fazer com a obra-prima “Um Favor”, de Lupicínio Rodrigues, um dos pontos altos do repertório.
No trabalho de divulgação, Macalé tem ressaltado que fez o disco que queria, da forma que queria, libertando-se das amarras do tal “conceito” (ainda bem que os artistas vêm caindo na real e pondo de lado esses dogmatismos que só servem para aprisionar as suas obras). Isso por si só justificaria a pluralidade ali contida, amenizada, é verdade, pela direção musical assinada pelo experiente Cristóvão Bastos, mas sempre muito interessante.
Trabalho calcado em seu violão, Macalé impressiona em bela regravação de “Só Assumo Só”, pérola do conterrâneo Luiz Melodia e faz homenagens explícitas a São Paulo (através de “Ronda”, de Paulo Vanzolini) e a Johnny Alf (com o registro intimista de “Corcovado”, de Tom Jobim). De sua seara, apresenta três boas inéditas: “O Engenho de Dentro”, um samba esperto letrado por Abel Silva, “Se Você Quiser”, uma parceria com Xico Chaves que revive a vivacidade típica do maxixe, e “Balada”, uma sincopada canção que conta com o apoio vocal da parceira Ana de Hollanda. As demais faixas são canções do próprio Macalé, já gravadas anteriormente (inclusive por outras vozes) e que, por um motivo ou outro, voltaram à sua memória afetiva: “Farinha do Desprezo”, “The Archaic Lonely Star Blues” e “Boneca Semiótica” (que conta com o auxílio luxuoso do pessoal do Laptop&Violão).
Um CD realmente muito legal que merece ser conhecido!
R E S E N H A 2 
Cantores: VÁRIOS
CD: “UMA NOITE…”
Gravadora: MP,B / UNIVERSAL
A idéia de rever a obra de grandes compositores da nossa música através da visão de artistas atuais é sempre muito bem-vinda! Por isso, dá gosto de ouvir o CD “Uma Noite…”, formatado pela gravadora MP,B e distribuído pela Universal, que junta as vozes de oito talentosos intérpretes revisitando canções atemporais de Noel Rosa, um dos compositores mais inspirados de todos os tempos e cujas músicas inspiraram assumidamente nomes como Chico Buarque e Gilberto Gil.
Noel nasceu no boêmio bairro carioca de Vila Isabel e foi o responsável por transformar o reduto em um ponto-chave no mapa do samba brasileiro. Faleceu precocemente aos vinte e seis anos, mas deixou mais de duzentas composições, as quais, ao longo dos anos, vêm merecendo registros de nossos nomes mais importantes.
Inicialmente, Noel pensou em ser médico, mas logo a música o absorveu inteiramente e, no final da década de vinte do século passado, passou a integrar o Bando dos Tangarás, ao lado de João de Barro, Almirante, Alvinho e Henrique Brito. Suas composições pendem para o relato do cotidiano urbano e em suas letras não são raras boas doses de humor, com alusões a desilusões amorosas. Alcançou grande sucesso durante a famosa “época de ouro do rádio”, tendo sido suas canções gravadas pelos mais famosos artistas da época, como Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida, esta considerada até hoje a sua melhor intérprete.
O recém-lançado álbum traz, como não poderia deixar de ser, alguns de seus maiores sucessos (tais como “Com Que Roupa?”, “Feitiço da Lua”, “O X do Problema” e “Último Desejo”), mas lança luzes também sobre algumas pérolas mais escondidas como “Você Vai Se Quiser”, que recebeu adequado registro do principiante Maurício Pessoa, e “Silêncio de um Minuto”, em interpretação mais-que-perfeita de Roberta Sá que também faz bonito em “Pela Décima Vez”. Além deles, estiveram presentes da apresentação ao vivo que deu origem ao presente projeto, Ney Matogrosso (sempre elegante em “Três Apitos”), Zé Renato (convincente em “Rapaz Folgado”), Rodrigo Maranhão (deliciosamente contido em “Pra Que Mentir?”) e Diogo Nogueira (mostrando desenvoltura em “Conversa de Botequim”), todos acompanhados pelo grupo Anjos da Lua que brilha no medley final. Completam o seleto time, agora em registros feitos em estúdio, Zeca Pagodinho (à vontade em “Fita Amarela”) e João Bosco (irrepreensível em “Um Gago Apaixonado”).
Uma justa e merecida homenagem ao talento incontestável de Noel Rosa!
N O V I D A D E S
· Com assumida inspiração no programa de rádio Samba Social Clube, a gravadora EMI arregimentou diversos artistas e registrou, ao vivo, em duas noites na Fundição Progresso (no RJ), apresentações que servirão de base para CD e DVD que, em breve, aportarão no mercado. Dentre os nomes que participam do projeto estão Alcione, Elza Soares, Luiz Melodia, João Bosco, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Roberta Sá, Ana Costa, Sandra de Sá e Beth Carvalho.
· Zeca Pagodinho já se encontra em fase de produção de seu próximo CD, o qual trará repertório essencialmente inédito. Mas enquanto isso, acaba de chegar às lojas a caixa “Samba, Alegria e Amigos”, editada pela pelo selo Seleções da Reader’s Digest, e que é composta por quatro discos que trazem, ao todo, cinqüenta e seis gravações do animado sambista.
· E a espevitada Ivete Sangalo não pára mesmo: confirma participação no próximo CD de Preta Gil, pensa em fazer um disco voltado para a bossa nova, planeja um registro ao vivo de show a ser realizado no Carnegie Hall de Nova York e já se encontra gravando, ao lado de Saulo Fernandes, vocalista da banda Eva, um álbum direcionado ao público infantil que será lançado até o final deste ano. Ufa!!!
· Será realizado amanhã, no Canecão (RJ), show que dará origem ao primeiro DVD da carreira de Celso Fonseca. A noite promete ser eletrizante até porque já estão confirmadas as participações especiais de Ana Carolina, Roberta Sá e Gilberto Gil. E por falar em Celso: ele gravou recentemente um disco com Marcos Valle e só está esperando o momento mais adequado para definir o lançamento do mesmo.
· Chegará às lojas, ainda este mês, o primeiro trabalho póstumo do sambista João Nogueira. Trata-se de “O Nome do Samba É João”, projeto encampado pelo selo carioca Weekend e que trará o registro ao vivo de apresentação realizada pelo artista em 1998 no Hipódromo Up (RJ). Dentre as canções que fazem parte do repertório constarão duas inéditas: “O Rei da Felicidade” e “Coração na Voz”.
· Esperado com grande curiosidade pelo público aficcionado na sua alegria e no seu talento, o novo CD de Mart’nália (intitulado “Madrugada”) estará disponível no comecinho de setembro. Veiculado à Quitanda, selo de propriedade de Maria Bethânia, o disco será distribuído pela gravadora Biscoito Fino e trará, no repertório, canções assinadas por, dentre outros, Djavan, Moska, Thiago Mocotó e Martinho da Vila, além de parcerias da própria artista com Mombaça e Arthur Maia.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br