Trata-se de excelente painel que joga luzes sobre o talento de Jackson do Pandeiro, um artista verdadeiramente atemporal. N O V I D A D E S · Através de seu selo, “Saravá Discos”, Zeca Baleiro põe no mercado o CD “Cabelos de Sansão” do cearense Tiago Araripe, trabalho originalmente lançado no formato vinil em 1982, ou seja, há exatos vinte e seis anos atrás. Zeca é altamente condescendente com o artista, tecendo os maiores elogios na apresentação escrita especialmente para o encarte do álbum, devidamente remasterizado para o seu relançamento. O fato é que as dez faixas apresentadas soam muito mais como experiências de uma época em que Tiago, vivendo em São Paulo, aproximou-se do pessoal ligado à chamada Lira Paulistana (leia-se: Tetê Espíndola, Itamar Assumpção e Vânia Bastos que, aliás, participaram do disco), do que como canções bem resolvidas que possam arrebatar o ouvinte médio. Entre citação dos Beatles (“Cine Cassino”) e passagem em seara nordestina (“Fôlego de 7 Gatos”), há parcerias com Jorge Alfredo (“Coração Cometa”), Cid Campos (“Estrela do Mar”) e José Luís Penna (“Quando a Pororoca Pegar Fogo”), além de uma versão feita por Augusto de Campos para o tema “Little Wing” de Jimi Hendrix (que virou “Asa Linda”). Vale pela curiosidade! · A gravadora Biscoito Fino acaba de lançar o primeiro CD do compositor João Nabuco. Intitulado “Cine Samba”, o álbum traz treze canções nas belas vozes de Paula Santoro e Barbara Mendes (já que João não canta, revezando-se, todavia, na produção, na concepção dos arranjos e na execução de violão, piano, sampler e programações). João é compositor ao mesmo tempo inspirado e criador de melodias complexas, o que termina por valorizar os talentos das duas citadas cantoras que se saem com maestria quando postas à prova em meio às harmonias intrincadas. Destaque para as faixas “Hipnótica”, “Maracutais” e “Incendeia”. E sem qualquer demérito, é facilmente constatável as influências de Leila Pinheiro e de Elis Regina nos cantos de Paula e Barbara, respectivamente. Boa pedida! · “Estandarte” é o ótimo título do novo CD que o grupo Skank irá fazer chegar às lojas ainda este mês. Produzido por Dudu Marote, o álbum virá recheado de canções inéditas e contará com a participação especial de Negra Li na faixa “Ainda Gosto Dela”, parceria de Nando Reis e Samuel Rosa. · Também será lançado ainda em setembro o novo CD de Lenine (“Labiata”), o qual trará a reunião do artista com seus três filhos (Bernardo Pimentel, Bruno Giorgi e João Cavalcanti) na canção que encerra o trabalho (cujo sugestivo título é “Continuação”). China, cantor pernambucano projetado no grupo Sheik Tosado, participa, como convidado especial, da faixa “Excesso Exceto”. · Antonio Villeroy, mais conhecido até agora como profícuo parceiro de Ana Carolina em várias canções de sucesso, planeja, ainda para este ano, o lançamento de dois discos. Um deles trará somente canções inéditas compostas ao lado de gente como Jorge Mautner, Francisco Bosco e Jorge Vercillo. O outro será dividido com o pianista americano Don Grusin e trará algumas releituras de canções já lançadas anteriormente por Villeroy. · As últimas apresentações da banda Los Hermanos (antes de sua dissolução) foram registradas na Fundição Progresso e resultaram em CD e DVD que aportam concomitantemente no mercado. Composto por quatorze faixas, o disco traz alguns dos bons momentos colecionados durante a curta carreira do grupo, tais como “O Vento”, “Sentimental”, “Anna Júlia” e especialmente “Todo Carnaval Tem Seu Fim”. Já o DVD traz vinte e seis faixas no total, albergando canções outras como “Um Par”, “Quem Sabe”, “Casa Pré-Fabricada” e “Pierrot”. RUBENS LISBOA é compositor e cantor Cantor: TOQUINHO
CD: “PASSATEMPO – RETRATO DE UMA ÉPOCA”
Selo: CIRCUITO MUSICAL
Gravado em 2005, só agora chega às lojas, através do selo Circuito Musical, o CD “Passatempo – Retrato de Uma Época”, no qual o cantor e compositor Toquinho revisita, através de dezesseis faixas, algumas das canções que ouviu em sua adolescência e que se tornaram referências para o trabalho musical que viria a desenvolver posteriormente.
São músicas que fazem parte do cancioneiro da década de cinqüenta, época em que nossa música começava a se libertar da influência dos tangos, boleros e guarânias, passando a assumir uma brasilidade até então não aflorada. Anteriores à explosão da bossa nova, as canções apresentadas traçam um vistoso painel ao reunir, por exemplo, compositores como Billy Blanco (“Pistom de Gafieira”), Lupicínio Rodrigues (“Quem Há de Dizer”, parceria com Alcides Gonçalves) e Luiz Gonzaga (“O Xote das Meninas”, parceria com Zé Dantas).
Toquinho despontou efetivamente como um inspirado artista nos anos setenta quando, ao lado de Vinicius de Moraes (presente no repertório com “Eu Não Existo Sem Você”, parceria com Tom Jobim), criou vários sucessos que até hoje são cantados e regravados à exaustão. Grande músico, um ás em seu instrumento (o violão), Toquinho também é um compositor inspirado, tanto que viu, nos anos seguintes, seu nome ser projetado no exterior, onde chegou a desenvolver uma carreira paralela de razoável alcance. É também um cantor correto, com um timbre agradabilíssimo e uma emissão perfeita, além de possuir uma pronúncia bastante equilibrada e um balanço incontestável.
Os arranjos do recém-lançado disco ficaram sob sua responsabilidade, o que, por si só, já os credenciam como de uma qualidade acima da média, embora – é verdade – não tragam nada de revolucionário. Cercado por músicos de ponta como Laércio de Freitas (percussão), Oswaldinho do Acordeon (sanfona), Keco Brandão (cordas virtuais) e Nailor Proveta (sax), entre outros, o CD flui tranqüilamente e o resultado é muito gostoso de se ouvir. Toquinho arrasa, sozinho ao violão, ao executar “El Dia Que Me Quieras”, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, e “Lábios Que Beijei”, de J. Cascata e Leonel Azevedo (são as duas faixas instrumentais do trabalho).
Grandes momentos ficam por conta das releituras de “Nega Manhosa” e “Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda” (ambas de Herivelto Martins, a segunda em parceria com Francisco Mattoso), além de “Noche de Ronda” (de Maria Teresa Lara) e de “Coração Santo” (tema religioso, recolhido do domínio público). Há, ainda, as participações especiais das novas e boas cantoras Cristina Levine e Nalma em “Por Causa de Você” (de Tom Jobim e Dolores Duran) e “Canção de Amor” (de Elano de Paula e Chocolate), respectivamente.
Um ótimo CD que vem se somar à vasta discografia de Toquinho e que vale a pena ser conhecido!
Cantor: JACKSON DO PANDEIRO
CD: “CHICLETE COM BANANA”
Selo: DISCOBERTAS
Seguindo com seu objetivo de resgatar registros antigos e pouco conhecidos, mas de importância incontestável para a história da música popular, o pesquisador Marcelo Fróes acaba de fazer chegar às lojas, através de seu selo Discobertas, o CD intitulado “Chiclete com Banana”, o qual condensa vinte e oito gravações raras de Jackson do Pandeiro, reunindo a totalidade do acervo feito pelo artista para a antiga gravadora Columbia (depois CBS e atualmente Sony & BMG) entre os anos de 1958 e 1960. Trata-se da segunda parte da discografia de Jackson (como, aliás, apropriadamente acentuado no texto constante do encarte) que antes, entre 1953 e 1958, gravou outras cinqüenta faixas para a antiga gravadora Copacabana (hoje pertencente ao acervo da EMI), as quais, há cinco anos atrás, já foram compiladas pelo citado pesquisador em um memorável CD duplo.
Nascido José Gomes Filho, o paraibano teve origem humilde. Filho de uma cantadora de coco que também tocava zabumba e ganzá, especializou-se no pandeiro, instrumento que o fez vir a ser conhecido como o Rei do Ritmo. De Alagoa Grande, sua cidade natal, mudou-se primeiramente para João Pessoa, onde tocou em cabarés e emissoras de rádio, transferindo-se depois para Recife e posteriormente para o Rio de Janeiro, onde definitivamente viu o seu talento reconhecido. Em 1956, casou-se com Almira que se transformou em parceira nas suas famosas apresentações.
De sua discografia fazem parte vários sucessos (“O Canto da Ema”, “17 na Corrente” e “A Mulher do Aníbal” são alguns deles), os quais vêm sendo regravados ao longo dos anos por grandes nomes da MPB, como Elba Ramalho, Gilberto Gil e Gal Costa, todos eles seus fãs confessos. De fato, juntamente com Luiz Gonzaga, é Jackson o artista nordestino que mais vem influenciando as gerações que o sucederam. Muito embora grande parte das canções que ele fez eternizar não seja de sua autoria (como “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, “Como Tem Zé na Paraíba”, de Manezinho Araújo e Catulo de Paula, “Tum Tum Tum”, de Ary Monteiro e Cristóvão de Alencar, e “Forró em Limoeiro”, de Edgar Ferreira, por exemplo), ele também se destacou como autor. Como constatação disso, basta de que se tragam a lume “Valsa Neném”, “Nortista Quatrocentão” (parceria com Luiz Wanderley) e “Penerou Gavião” (parceria com Odilon Vargas), três outros bons momentos do álbum recém-lançado que, devidamente remasterizado, apresenta um resultado sonoro legal, não obstante os registros originais datarem de quase meio século atrás.
Dono de voz talhada para cantar a alegria (os cocos e baiões sempre predominaram, mas havia espaço também para sambas, rojões e marchinhas de carnaval), a maneira toda própria como fazia as divisões melódicas logo o fez se destacar ao interpretar canções deliciosas como “Chiclete com Banana” (de Gordurinha e Almira Castilho), “Cantiga do Sapo” (dele e Buco do Pandeiro), “Quadro Negro” (dele e Rosil Cavalcanti) e “Casaca de Couro” (de Rui de Morais e Silva), todas elas também presentes na coletânea ora em tela.
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