Cantora: PAULA MORELENBAUM
CD: “TELECOTECO – UM SAMBINHA CHEIO DE BOSSA…”
Gravadora: UNIVERSAL
Tudo no novo CD da cantora Paula Morelenbaum (repertório, arranjos e arte gráfica do trabalho) ressaltam um cuidado e um bom gosto extremos. A artista, casada com o extraordinário violoncelista Jaques Morelenbaum (que, durante anos, foi o responsável pela produção dos discos de Caetano Veloso), não costuma lançar álbuns com regularidade e tem uma discografia escassa (se considerado o tempo que já labuta na carreira), mas todo trabalho seu deve ser ouvido com atenção porque certamente se trata de artigo de luxo.
“Telecoteco – Um Sambinha Cheio de Bossa…”, que acaba de chegar às lojas através da gravadora Universal, traz doze canções que, em sua maioria, são anteriores ao advento à bossa nova – elas percorrem um período que vai do final da década de trinta ao início da de sessenta -, mas que não deixam dúvida de que, anos antes, já se sinalizava com o surgir daquele movimento que iria fazer com que a música brasileira ganhasse inimaginável projeção no mercado estrangeiro.
Paula possui timbre agradável e canta suave, com um rigor estilístico apreendido nos anos em fez parte, como backing vocal, da banda que acompanhava Tom Jobim. Antes, ela já havia despontado no meio musical quando integrou o grupo vocal Céu da Boca (do qual, entre outros, também faziam parte Verônica Sabino e Dalmo Medeiros). Seu primeiro disco solo data de 1992 e incluiu, no eclético repertório, canções assinadas por Rita Lee, Zé Miguel Wisnik, Chico Buarque, Gilberto Gil e Arrigo Barnabé. Entre ele e o segundo trabalho (“Berimbaum”, que saiu em 2004), a artista participou de vários outros projetos dentro e fora do Brasil.
No novo álbum, Paula reúne um time estelar de músicos. Estão lá João Donato (que com o seu piano mágico costura as passagens de “Love Is Here to Stay”, de George & Ira Gershwin, a única faixa fora da língua pátria), Ryuichi Sakamoto (em “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antônio Maria, incluída na trilha sonora da telenovela “Ciranda de Pedra”), o saxofonista Léo Gandelman (na canção de formato mais explicitamente bossanovista do disco, “Um Cantinho e Você”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim), Chico Pinheiro (e sua pegada característica ao violão em “Sei Lá Se Tá”, de Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva) e Marcos Valle (dividindo os vocais na já antológica “Ilusão à Toa”, de Johnny Alf). O grupo argentino (da moda) Bajofondo, responsável pela música de abertura da global “A Favorita” remodela “O Samba e o Tango”, canção pinçada do repertório de Carmen Miranda, preocupando-se mais em ressaltar o groove criado do que em respeitar a beleza da melodia original. É derrapada, no entanto, que não compromete o resultado de um trabalho conceitual que – como poucos – não soa engessado.
Os arranjos, em sua maioria, ganharam um tratamento contemporâneo sem, contudo, descaracterizar as bases melódicas que, no bojo dos andamentos, terminam mesmo mergulhando no velho e bom samba e suas variações.
Os melhores momentos do álbum ficam por conta da deliciosa faixa-título (de Murilo Caldas e Marino Pinto), “Não Me Diga Adeus” (de Luiz Soberano, Paquito e João Correa da Silva), “Luar e Batucada” (de Tom e Newton Mendonça) e “O Que Vier Eu Traço” (de Alvaiade e Zé Maria). Já a parte mais romântica vem representada pelas obras-primas “Você Não Sabe Amar” (de Dorival Caymmi, Carlos Guinle e Hugo Lima, com participação de Beto Villares nos vocais) e “Ternura Antiga” (de Dolores Duran e J. Ribamar), ambas adotando um andamento mais ligeiro que as gravações tradicionais.
Trata-se de um ótimo lançamento que deve ser ouvido e reouvido, de preferência muito bem acompanhado!
Cantores: VÁRIOS
CD: “UM BARZINHO, UM VIOLÃO – Novela 70”
Gravadora: UNIVERSAL
Em 12 e 13 de maio deste ano, a gravadora Universal reuniu no Morro da Urca, no Rio de Janeiro, vários artistas a fim de, ali, registrar apresentações ao vivo que se transformaram no projeto “Um Barzinho, Um Violão – Novela 70”, o qual acaba de chegar às lojas nos formatos DVD e CD (estes, em dois volumes que são vendidos separadamente).
A idéia – que não é nova – desta vez fez descambar o repertório para sucessos incluídos em trilhas sonoras de telenovelas levadas ao ar durante a década de setenta. Para facilitar a realização, optou-se por dar aos arranjos uma roupagem marcadamente acústica, o que justifica, inclusive, o título escolhido, deles fazendo parte somente instrumentos de corda, tais como violão, cavaquinho, bandolim e baixolão, com eventuais interseções de acordeom e percussão. Como exceção, apenas o trompete mágico de Jessé Sadoc que, acompanhado pelo violão de sete cordas de Carlinhos 7 Cordas, homenageia o músico Márcio Montarroyos através da pungente versão instrumental de “Carinhoso” (de Pixinguinha e João de Barro).
Num projeto desse tipo (que reúne artistas de vertentes e influências tão díspares) é claro que alguns se destacam, mostrando-se mais apropriados às canções que lhes forem confiadas, em detrimento de outros, que terminam descambando em interpretações ora despretensiosas, ora constrangedoras.
Dentre os destaques estão Paulo Toller (“Sonhos”), Diogo Nogueira (“Você Abusou”), Luiza Possi (“Teletema”), Celso Fonseca (“Enrosca”), Maurício Manieri (“Coleção”) e o grupo Casuarina (“Meu Drama”).
E enquanto a costumeira energia de Elba Ramalho soa meio podada em “Pombo Correio”, Marina Elali desperdiça sua bela voz em interpretação over de “Eu Preciso Te Esquecer”. Outros que optaram pelos excessos foram Alex Cohen em “Meu Mundo e Nada Mais” e Lobão em “Como Vovó Já Dizia”. Já Marjorie Estiano mostra inusitado viço em “Broto Legal” e Isabella Taviani ratifica sua pegada romântica em “Um Jeito Estúpido de Amar”.
Cumprem o dever de casa: Jorge Vercillo (“Fascinação”), Tunai (“Nuvem Passageira”), a banda Papas da Língua (“Pensando Nela”), Dudu Nobre (“Malandragem Dela”), Jorge Aragão (“Pecado Capital”), Margareth Menezes (“Filho da Bahia”), Zélia Duncan (“Paralelas”) e o grupo Moinho (“Meu Pai Oxalá”).
Desnecessárias, no entanto, foram as inclusões de Herbert Vianna (“Capitão de Indústria”) e Fernanda Takai (“Pavão Mysteriozo”). Essas canções – difíceis – terminaram somente por ressaltar as limitações vocais de ambos.
A única gravação de estúdio é a da faixa “Moça” (grande sucesso de Wando), devidamente revisitada por Caetano Veloso e já incluída na trilha sonora de “Três Irmãs”, recém-estreada novela global das 19 horas.
O projeto tem um pouco de tudo visando a agradar todos os gostos. O fato, todavia, é que o resultado geral soa irregular, muito pela escolha óbvia do repertório. Tivesse esse se atido a canções menos surradas (como, por exemplo, “Beijo Partido” e “Martin Cererê”, que mereceram convincentes registros de Pedro Mariano e Zeca Pagodinho, respectivamente), certamente teríamos momentos bem mais interessantes. Quem sabe na próxima edição, quando for enfocada a década de oitenta…?
N O V I D A D E S
· Enquanto a banda sergipana Maria Scombona continua percorrendo as escolas de Aracaju com a bela iniciativa de levar aos alunos workshops de música, o pessoal da NaurÊa encontra-se em processo de assinatura de contrato com a gravadora Atração para distribuição nacional de seus dois ótimos CD’s. Além dessa novidade, a banda voltará a se apresentar na Alemanha em outubro, representado Sergipe na Feira Musical Popkomm. Muito boa sorte para a galera!
· Aguardado com ansiedade pelos apreciadores de música inteligente, o novo CD do grupo Pedro Luís e a Parede (PLAP) também estará chegando às lojas no próximo mês. Intitulado “Ponto Enredo”, o disco trará as participações especiais de Zeca Pagodinho (em “Ela Tem a Beleza que Nunca Sonhei”) e de Roberta Sá (em “A Luz da Nobreza”) e parcerias de Pedro com vários nomes antenados da nossa MPB, tais como Lenine, Lula Queiroga, Suely Mesquita, Zé Renato e Rodrigo Maranhão.
· A cantora Íris Salvagnini mergulha a fundo na obra autoral de Marília Medalha no recém-lançado CD independente “Íris e a canção de Marília Medalha”, composto por treze faixas. Marília foi cantora atuante que ficou conhecida do grande público quando, ao lado de Edu Lobo, defendeu a antológica “Ponteio”, conseguindo o 1º lugar no III Festival da Música Popular Brasileira levado ao ar em 1967 pela TV Record. De lá para cá, lançou esporadicamente alguns poucos discos e atualmente vem se dedicando, ao lado de parceiros, à arte de compor. Íris possui voz delicada e desempenha com destreza a tarefa de enfrentar as complexas linhas melódicas apresentadas. Os melhores momentos do álbum ficam por conta de “Moon da Rua”, “Água Escondida”, “Tanta Voz” e “Cassorotiba”, esta uma das finalistas do último Festival de Música da TV Cultura, realizado em 2005.
· Além do CD “Navegar É Preciso”, que acaba de ser lançado no mercado nacional pela gravadora MZA, o cantor português Luis Represas também estará presente, como convidado especial (em “Um Caso a Mais”) no novo álbum que a baiana Margareth Menezes vai lançar no comecinho de outubro.
· E por falar nela, o CD (que se intitulará “Sinceramente”) trará, no eclético repertório, uma canção inédita assinada por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes, além de regravações de “Mulher de Coronel” (de Gilberto Gil), “Foi Deus Quem Fez Você” (de Luiz Ramalho) e “Os Cegos do Castelo” (de Nando Reis).
· A gravadora Universal põe nas lojas uma nova coletânea de Nara Leão (“Nara Tropicália”) que vem com uma gravação inédita em CD. Trata-se da canção “Capricho”, um poema de Castro Alves musicado por Francis Hime que fez parte da trilha sonora de telenovela “O Casarão”, veiculada pela TV Globo em 1976.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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