Cantores: VÁRIOS
CD: “FRANCIS HIME – ÁLBUM MUSICAL 2”
Gravadora: BISCOITO FINO
A grande alegria de um compositor é ver suas criações sendo gravadas por intérpretes vários. Esse sentimento, multiplicado por um número de vezes impossível de calcular, certamente acometeu Francis Hime, um de nossos autores mais sensíveis, quando o mesmo viu o resultado do CD “Álbum Musical 2” que acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino.
Francis, que geralmente compõe ao lado de parceiros, é o responsável por grandes pérolas do nosso cancioneiro, como “Atrás da Porta”, “Trocando em Miúdos” e “Vai Passar”, só para ficar em três exemplos. Durante sua carreira teve composições suas gravadas pelos maiores intérpretes da MPB e trabalhou com grandes letristas: Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Paulo César Pinheiro, Ruy Guerra e Geraldinho Carneiro estão entre os mais constantes e se fazem presentes no recém-lançado trabalho.
Não é a primeira vez, no entanto, que Francis, um exímio pianista e também inspirado arranjador, lança um disco nesses moldes. O primeiro deles saiu em 1984 e recebeu o nome de “Essas Parcerias”. Embora, ali, o mote fosse outro, continha participações de Elba Ramalho, Gal Costa, Gilberto Gil e Milton Nascimento. Já o volume inicial do “Álbum Musical” chegou ao mercado em 1997, trazendo memoráveis registros feitos por Caetano Veloso, Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Djavan, Leila Pinheiro, Zé Renato e João Bosco, entre outros.
É dando seguimento a essa linha que surge o novo CD, o qual reúne, em suas quinze faixas, um time estelar de convidados que desta vez ficaram responsáveis por resgatar canções menos conhecidas de Francis, mas nem por isso de menor beleza. O repertório finca pé em músicas não tão recentes e os arranjos (caprichados, sob a responsabilidade do próprio Francis) como sempre se tornam um charme a mais. O trabalho gráfico (simples, bonito e delicado) contém espaço para que Francis faça comentários faixa a faixa, recurso sempre inteligente para facilitar a adequação do ouvinte com a obra apresentada.
Em algumas faixas, surgem intérpretes ainda não devidamente reconhecidos pelo grande público, mas de talentos inquestionáveis. É o caso de Mônica Salmaso que põe sua voz aveludada a serviço de “Mariposa”, de Renato Braz que deita e rola em “Grão de Milho” (acompanhado somente pelo piano de Francis) e de Teresa Cristina que se mostra completamente em casa no belo samba “Promessas, Promessas”. Também artistas geralmente ariscos a projetos coletivos, como Olivia Byington e Ed Motta, desta vez se fazem presentes em boas releituras de “O Tempo da Flor” e “À Meia-Luz”, respectivamente. Mas há – claro! – alguns dos nomes mais cultuados da atualidade, como Zeca Pagodinho (em “Amor Barato”), Lenine (em “Um Carro de Boi Dourado”), Moska (em “Lindalva”), Adriana Calcanhotto (em “Saudade de Amar”) e Ivete Sangalo (em “Quadrilha”).
Os melhores momentos ficam a cargo de Mart’nália (sempre surpreendente em “Pau-Brasil”), Simone (elegantíssima em “Maravilha”), Luiz Melodia (inebriante em “O Rei de Ramos”) e Joyce (competente na complexa “Coração do Brasil”). O álbum termina com chave de ouro trazendo “Viajante das Almas”, um texto adaptado de Fernanda Montenegro que homenageia o ofício do artista e que recebeu melodia de Francis. Bibi Ferreira surge na voz principal e se faz, acompanhada de um coro formado por todos os artistas que participaram do disco. Um luxo!
Corra e ouça porque vale super a pena…
Cantores: VÁRIOS
CD: “TRIBUTO A BEZERRA DA SILVA”
Gravadora: SOM LIVRE
Dono de uma ginga que o remetia à malandragem carioca, Bezerra da Silva nasceu, na realidade, no Estado de Pernambuco, mudando-se para o Rio de Janeiro aos quinze anos (escondido em um navio), tendo lá, de início, trabalhado na construção civil. Levado à Rádio Clube do Brasil, em 1950, logo começou a atuar como compositor, instrumentista e cantor, gravando o compacto de estréia em 1969 e seis anos depois o primeiro LP, inicialmente se voltando para o terreno do coco. O samba, gênero que fez com que ele conhecesse o sucesso, só passou a fazer parte de sua carreira tempos depois.
Considerado o embaixador dos morros e favelas, cantou sobre os problemas sociais encontrados dentro das comunidades, se apresentando no limite da marginalidade e da indústria musical, chegando a se notabilizar por um estilo “sambandido”, precursor do “gangsta rap” norte-americano. O repertório de seus discos geralmente era abastecido por autores anônimos e alguns deles chegavam a usar codinomes para preservar a clandestinidade.
Por muitos anos, Bezerra foi adepto do candomblé, mas em 2001 abraçou a fé evangélica, tendo chegado a gravar um CD de música gospel. Antes disso, em 1995, juntamente com Moreira da Silva e Dicró, lançou o CD “Os Três Malandros in Concert”, uma paródia ao lendário show realizado pelos tenores Pavarotti, Carreras e Plácido Domingos. E já próximo à morte, mas em plena atividade, fez participações em trabalhos das bandas O Rappa e Planet Hemp.
É em homenagem a esse artista ímpar que a gravadora Som Livre acaba de pôr no mercado o CD e DVD “Tributo a Bezerra da Silva”, nos quais vários artistas lhe prestam reverência através de interpretações personalíssimas para alguns de seus sucessos.
Torna-se incontestável constatar que os envolvidos no projeto estavam, de fato, muito contentes por homenagear o artista. Gravada ao vivo na Fundição Progresso (RJ), a apresentação vem em muito boa hora, pois um nome como o de Bezerra não pode ser esquecido. As novas gerações precisam saber de seu lugar único na nossa musica popular, juventude essa que acha, por exemplo, que “Malandragem Dá Um Tempo” foi lançada pela banda Barão Vermelho, desconhecendo ter sido de Bezerra a gravação original. Essa canção é uma das quinze que compõem o repertório do recém-lançado trabalho, ao lado de outros hits impagáveis, tais como “A Semente”, que surge em um inusitado dueto que reúne Marcelo D2 e João Gordo, “Defunto Cagüete”, em interpretação suingada de Jards Macalé, e “Minha Sogra Parece Sapatão”, com o já citado Dicró.
E se – como seria de se esperar – nomes ligados ao samba fazem-se presentes (Beth Carvalho, Leci Brandão e Elza Soares), alguns moderninhos também comparecem (Otto, Bnegão e Max de Castro). Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Transação de Malandro” (com Daúde), “Maloca o Flagrante” (com Luiz Melodia) e “Verdadeiro Canalha” (com Pedro Luís e a Parede). Há, ainda, o filho de Bezerra, Tuca da Silva, em convincente interpretação para “Se Não Fosse o Samba”.
No geral, trata-se de um ótimo lançamento que merece ser conhecido!
N O V I D A D E S
· Já está disponível nas lojas o derradeiro álbum de estúdio lançado pelo cantor/compositor Henri Salvador que faleceu em fevereiro deste ano. Intitulado “Révérence”, traz um artista que, embora já com idade avançada, mantinha emoção e técnica impressionantes. A maioria das canções é assinada por ele próprio ao lado de parceiros. Dono de um timbre belíssimo, Henri fez uma bela homenagem ao Brasil (metade das faixas foi gravada no Rio de Janeiro), contando com as participações especiais de Gilberto Gil, Rosa Passos e Caetano Veloso. Enquanto os dois primeiros optaram por registros em português, o irmão mais velho de Maria Bethânia arriscou-se, com resultado bastante satisfatório, cantando em francês, obtendo um dos mais belos momentos do disco, a faixa “Cherche La Rose”. Outros destaques ficam por conta de “La Vie C’est La Vie”, “D’abord”, “Lês Dernières Hirondelles” e “Dans Mon Ilê”.
· Atendendo a convite feito por Manoel Barenbein, a cantora Zizi Possi registrou (com tintas suaves) a bela canção “Rosa dos Ventos” (de Chico Buarque) especialmente para a trilha sonora de “Os Mutantes”, telenovela levada ao ar pela Rede Record.
· Patrocinado pela Petrobrás, chega às lojas o CD “Ciranda de Ritmos”, no qual a cultuada Lia de Itamaracá solta sua voz característica em canções populares que passeiam pelos ritmos tradicionais do seu Pernambuco. Trata-se de um oportuno trabalho de resgate da cultura do nosso povo, o qual apresenta, entre os melhores momentos, as faixas “Verde Mar de Navegar”, “Dança do Povo”, “A Vizinha”, “Moreno Dengoso” e “Mamãe Oxum”.
· A gravadora Indie Records acaba de lançar o DVD “De um Jeito Diferente”, homônimo ao último e bom álbum de estúdio de Emílio Santiago. Com imagens captadas em um show realizado no Estúdio Mega, o vídeo contém as quinze faixas apresentadas no CD e conta com as presenças de Nana Caymmi, Mart’nália e João Donato.
· A terceira ida de Beth Carvalho ao Festival de Jazz de Montreaux (em 2005) ganhou registro em DVD que acaba de chegar às lojas. Contando com as participações de Jorge Aragão e do Quinteto em Branco e Preto, a sambista revive os seus maiores sucessos.
· Utilizando-se das facilidades advindas com o formato digital, Leoni promete disponibilizar, através de seu site, uma canção inédita em formato mp3 todos os meses. Quando tiver reunido material suficiente, a idéia é lançar as músicas no mercado através do formato convencional de CD. As primeiras já estão por lá, é só conferir!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br