Cantor: FREJAT
CD: “INTIMIDADE ENTRE ESTRANHOS”
Gravadora: WARNER
“Intimidade Entre Estranhos” é o título do terceiro CD solo de Frejat (que acaba de chegar às lojas através da gravadora Warner), cantor e compositor que indiscutivelmente teve a sua melhor fase ao dividir parcerias famosas com Cazuza, ainda na primeira formação da banda Barão Vermelho, quando da explosão do rock nacional durante os anos oitenta. De lá para cá, ele vem alternando boas criações com outras medianas e batalhando para manter seu nome em alta no mercado fonográfico.
O novo CD é o primeiro lançado desde que a supracitada banda resolveu, pela segunda vez (e agora parece que de forma definitiva), dar um tempo. Mas Frejat é daquele tipo de artista que rende melhor quando trabalha em grupo. Motivos vários, no entanto, alguns de cunho pessoal, fizeram com que ele escolhesse seguir sozinho e isso tem até de ser louvado pelo tanto de corajoso que a opção enseja.
A produção do recém-lançado álbum leva a assinatura de Maurício Barros, tecladista que integrou a formação original do Barão Vermelho, e o repertório do trabalho é composto por onze faixas, das quais dez são inéditas. A outra delas, a boa “Dois Lados”, já é conhecida do público por ter feito parte da trilha sonora da recém-finda telenovela global “Beleza Pura”.
Seguindo a linha adotada desde o início da carreira, Frejat passeia por um repertório que, em geral, pode ser classificado como pop rock. E embora fique clara a esmerada qualidade técnica do produto, torna-se cada vez mais nítido que esse tipo de canção já deu o que tinha de dar e começa a soar repetitiva. Não que o resultado geral deste disco seja ruim. Pelo contrário, ao se findar a audição, tem-se uma impressão legal. Mas é que, como não há como se reinventar a roda, o formato engendrando esse tipo de música vem tendo suas limitações realçadas com o passar do tempo, tanto que se torna de fato difícil prever se alguma das faixas apresentadas terá fôlego para chegar às paradas de sucesso.
No quesito cantor, Frejat vem se mostrando em constante evolução. Dono de uma voz grave e característica, as desafinações de antes agora são poeira do passado. Como compositor, é incontestável a falta que o parceiro Cazuza lhe faz. Frejat tenta minimizar isso abrindo o seu leque de colaboradores. Algumas tentativas resultam bem felizes. É o caso, por exemplo, de “Nada Além”, feita com Zeca Baleiro que, se não possui arroubos de originalidade nem na parte melódica nem na letra, termina soando acima da média, e de “Tua Laçada”, insuspeita criação dividida com Zé Ramalho que tem muito a cara deste. Alguns parceiros costumeiros também se fazem presentes: Leoni na interessante faixa-título, Alvin L. em “Fragmento”, Ezequiel Neves e Mauro Sta. Cecília em “O Céu Não Acaba”.
E como a bola da vez na nossa música é destacar o politicamente correto e realçar mensagens de paz e esperança (e isso também já começa a cansar), não poderiam ficar de fora canções como “Controle Remoto” (parceria com Paulo Ricardo) e “Tudo de Bom” (parceria com o já citado Maurício Barros e Bruno Levinson).
Entre percalços comuns a toda caminhada, o importante é que Frejat vai seguindo em frente…
Cantor: MARCELO QUINTANILHA
CD: “QUINTO”
Gravadora: INDEPENDENTE
O pai e a mãe tocavam acordeom e foram os principais incentivadores para que Marcelo Quintanilha, ou simplesmente Quinta, enveredasse pelos caminhos da música. Formado em publicidade, lá no início ele chegou a participar de festivais de música e integrou algumas bandas semiprofissionais, as quais se apresentavam geralmente em circuitos universitários. O primeiro CD (intitulado “Metamorfosicamente”) saiu em 1995 e o segundo (“Quinta”) foi lançado três anos depois. Em 1999, Quinta conheceu a cantora Vânia Abreu, com quem permanece casado até hoje. Vânia foi a segunda cantora que gravou uma música de Quinta (“Quando Eu Estava Só”). Antes dela, somente Ana Flávia tinha registrado “Além da Brincadeira” e “Sem Palavras” no CD “Morada”. O terceiro disco de Quinta (“Sala de Estar”) foi lançado em 2003 e o seguinte (o excelente “Mosaico”) chegou ao mercado em 2005. Anteriormente ao atual lançamento, o artista ainda gravou “Pierrot e Colombina”, trabalho dividido com Vânia através do qual foram resgatadas diversas canções cujo mote era a saudação ao Carnaval.
Essa pequena biografia foi trazida a lume para ressaltar que o artista, embora ainda não seja reconhecido pelo grande público, já possui algum tempo de estrada. Talentoso, Quinta é daqueles que indiscutivelmente vêm amadurecendo musicalmente ao longo do tempo, tornando-se também facilmente constatável o quanto ele é atento aos detalhes. E isso é, de fato, o que diferencia o bom artista dos demais. Intérprete corajoso, no sentido de que se permite arriscar nas canções que escolhe para o seu repertório (muito mais que Vânia que, nos últimos anos, vem mostrando uma lamentável acomodação), possui um timbre vocal claro e bonito (que chega a lembrar, em algumas passagens, o de Moska) e sabe tirar a emoção apropriada dos versos que canta. Como compositor, tem se mostrado geralmente inspirado, conforme se pode observar através da maioria das doze faixas que assina sozinho e que compõem o novo CD (sugestivamente intitulado “Quinto”), o qual tem Serginho Resende como produtor e chega às lojas com distribuição da Tratore. O primeiro terço do álbum é particularmente primoroso, mostrando canções melodicamente muito bem acabadas e temas desenvolvidos de maneira bastante criativa. Neles, o artista se debruça sobre o momento pelo qual passa o homem moderno, através de constatações e críticas (daí o clima por vezes soturno que é, inclusive, realçado no escurecido e aparentemente monocórdio trabalho gráfico do encarte). São realmente ótimas as faixas “Última Esperança”, “Quanto Tempo Mais?”, “Uma Fresta” e mais ainda “Money, Money, Money” e “É”. No finalzinho do CD, surge outro momento de destaque com a bem sacada “Só na Multidão”. As duas únicas regravações ficam por conta de obras de autores de épocas bem distintas e apresentam um resultado bastante díspar: enquanto “O Tempo Não Pára” (de Cazuza e Arnaldo Brandão) torna-se desnecessária por pouco acrescentar às várias releituras já feitas, “Porta-Estandarte” resulta em um achado, posto que é um grande (e insuspeito) momento otimista na obra de Geraldo Vandré (em parceria com Fernando Luna).
“Quinto” é, de fato, um álbum que deve ser conhecido, já que faz jus ao talento de Marcelo Quintanilha!
N O V I D A D E S
· E como todos querem mesmo pegar carona nas comemorações dos 50 anos da Bossa Nova, a gravadora Sony & BMG não podia ficar de fora. Por isso, repõe em catálogo, com o som devidamente remasterizado, o CD originalmente lançado em 1990 no qual Tim Maia põe o seu vozeirão a serviço de canções como “Minha Namorada”, “Eu e a Brisa” e “Meditação”. Músicos de ponta como Chiquito Braga (violão), Antônio Adolfo (piano), Luizão Maia (baixo) e Wilson das Neves (bateria) fazem a cama perfeita para Tim brilhar.
· A paulistana Aline Duran acaba de lançar o seu segundo CD (intitulado “Novo Dia”), escorada na praia do reggae. Boa cantora e compositora mediana, a artista conta, no novo trabalho, com as participações de Black Alien (voz em “Pra Quem Jah Olha”), Bi Ribeiro (baixo em “Olhar por Sol” e “Depois de Amanhã”) e Marcelinho da Lua (dubs de “Bem-Vindo à Selva”).
· A carioca Cristina Cascardo fez chegar recentemente às lojas o seu bom CD de estréia intitulado “Contemplação” e produzido por Roberto Bahal. São doze canções, das quais a própria artista assina sozinha a autoria de onze. A única regravação é “Berimbau” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes) que, numa versão com um andamento mais ligeiro que os registros convencionais, transforma-se em um dos melhores momentos desse bem-vindo álbum. Morena de beleza fora de série, Cristina canta muito bem. Possui timbre claro, pronúncia perfeita, emissão sem vícios e considerável extensão vocal. É uma intérprete talhada ao sucesso, não fosse este um país tão contraditório no que diz respeito à valorização das artes em geral. Como compositora, Cristina se mostra acima da média quando comparada às colegas cantantes que se arriscam na arte de criar. A primeira metade do disco é um primor, merecendo destaque a bonita “Sobre a Tristeza” (samba tão elegante quanto os de Paulinho da Viola), a contagiante”Maria”, a inteligentemente delicada “Desarmado” e a malemolente “Máscaras”. Cristina ainda denota versatilidade ao cantar em línguas outras: francês (em “Dix Seps Ans” e “Voyage”) e inglês (“Seasons”). Legal!
· Para festejar os vinte e cinco anos do estouro do grupo infantil A Turma do Balão Mágico, a cantora Simony acaba de lançar o CD “Simony Superfantástica”. Do repertório constam temas como “Ursinho Pimpão”, “Mãe-iê” e “Lindo Balão Azul”.
· Em clima se surdina, Bebel Gilberto (filha de João Gilberto e Miúcha e sobrinha de Chico Buarque) reuniu-se em estúdio do Rio de Janeiro com Davi Moraes (filho de Moraes Moreira) e Pedro Baby (filho de Pepeu Gomes e Baby Consuelo) e realizou algumas gravações que servirão de base para o repertório que comporá o seu próximo CD, o qual, como de costume, será lançado primeiramente na Europa para somente depois aportar no mercado nacional.
· Inquieta e trabalhando a todo vapor, a baiana Ivete Sangalo já tem dois novos projetos engatilhados: o primeiro, voltado para o público infantil, chegará às lojas ainda este mês e se intitula “A Casa Amarela”. Trata-se de um disco gravado por ela ao lado de Saulo Fernandes, vocalista da banda Eva, e que conta com a participação especial de Xuxa. A dupla assina o projeto como Veveta e Saulinho, apelidos pelos quais eram e ainda são chamados por seus amigos. O outro, que ficará para 2009, será um projeto de duetos (que já tem até nome: “Pode Entrar”) e que conta, até o momento, com as participações já confirmadas de Maria Bethânia, Lulu Santos, Vanessa da Mata, Marcelo Camelo e Carlinhos Brown.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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