Musiqualidade

R E S E N H A     1

 

Banda: SKANK

CD: “ESTANDARTE”

Gravadora: SONY & BMG

 

Com um trabalho gráfico no mínimo excêntrico, a banda mineira Skank, formada por Samuel Rosa (guitarra e voz), Haroldo Ferreti (bateria), Lelo Zanetti (baixo) e Henrique Portugal (teclados), põe nas lojas, através da gravadora Sony & BMG, o seu novo CD. Intitulado “Estandarte” e produzido por Dudu Marote, o álbum apresenta uma dúzia de canções inéditas, consolidando a banda, dentre as surgidas na década de noventa, como a mais criativa e a que melhor soube aproveitar as oportunidades.

O Skank nasceu em 1991 em Belo Horizonte movido pelo interesse em transportar o clima do dancehall jamaicano para a tradição pop brasileira. O primeiro disco saiu de forma independente, mas o sucesso underground logo despertou o interesse da multinacional Sony Music que tratou de contratar os rapazes. Já no segundo trabalho, lançado em 1994 (“Calango”), a banda vendeu mais de 1 milhão de cópias, transformando em sucessos imediatos as faixas “Jackie Tequila” e “Te Ver”. Em seguida veio “O Samba Poconé” que abriu as portas para o mercado externo, catapultado pela enorme receptividade obtida especialmente com a canção “Garota Nacional”, chegando à expressiva vendagem de quase 2 milhões de cópias.

Mas a banda não se acomodou com o sucesso e alargou o repertório além das batidas do reggae: aliando programações eletrônicas com influências psicodélicas e acústicas, seguiram-se os álbuns “Siderado”, “Maquinarama” e “Cosmotron” e mais hits que não paravam de ser executados pelas rádios, tais como “Balada do Amor Inabalável”, “Saideira”, “Resposta”, “Acima do Sol”, “Dois Rios”, “Vou Deixar” e “Até o Amor Virar Poeira”.

É de se esperar, assim, que o recém-lançado CD emplaque também alguns sucessos, até porque se trata de uma das grandes apostas da gravadora para este final de ano. De fato, se trata de um dos melhores trabalhos da já considerável discografia do Skank, bem superior, inclusive, ao último lançado, o morno “Carrossel”. A banda continua afiada e a predileção por um azeitado naipe de metais continua intacta, o que confere um toque especial a várias das canções. Samuel Rosa, o líder da banda, mostra-se inspirado como compositor, assinando a autoria de todas as faixas, sempre ao lado dos já costumeiros parceiros Nando Reis, Chico Amaral e César Maurício. Como vocalista, ele cumpre com destreza o papel que lhe cabe: dono de um timbre peculiar, tem ótima extensão e um carisma que faz com que conduza, sem maiores esforços, a galera durante as geralmente explosivas apresentações ao vivo.

O bom título do recém-lançado CD foi retirado da faixa “Chão”, decerto a mais moderninha da nova safra de composições apresentadas, mas há outros momentos bem melhores, como é o caso de “Ainda Gosto Dela”, deliciosa canção escolhida como a primeira faixa de trabalho e que conta com a participação especial de Negra Li nos vocais. É um dos destaques do CD, ao lado de “Escravo”, de pegada forte, e de “Assim Sem Fim”, de letra inteligente.

E se aqui e ali pipocam influências melódicas dos Beatles, “Pára-Raio” faz, de maneira mais explícita, alusão a Roberto Carlos em sua fase soul. Já “Sutilmente”, como o próprio nome dá a pista, é o momento mais suave do disco, faixa talhada para inclusão em trilha sonora de novela.

Um lançamento bem legal do Skank que certamente cairá nas graças de seu vasto e cativo público.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: NETINHO

CD: “MINHA PRAIA”

Gravadora: SOM LIVRE

 

Quando ocorreu o estouro do axé music, os nomes que imediatamente se destacaram foram os de Daniela Mercury e de Netinho. Daniela foi burilando suas escolhas musicais ao longo do tempo e embora nunca tenha, de fato, largado os baticuns que a lançaram para o reconhecimento como a grande cantora que de fato é, vez ou outra vem enveredando por alguns trabalhos paralelos nos quais flerta ra com a MPB tradicional, ora com as programações eletrônicas. Já Netinho, que começou como vocalista da Banda Beijo, foi talvez, durante anos, o artista mais disputado dentre todos os que se apresentavam mas micaretas e prévias de carnaval pelo país afora. Por opção, no entanto, devido a problemas emocionais causados por um incidente pessoal, afastou-se da música por um tempo razoável, resolvendo voltar à ativa em 2005 quando, então, tentou dar uma virada e emplacar na seara do pop. Mas a verdade é que o CD “Outra Versão” não obteve a receptividade esperada e o baiano viu que seu destino estava mesmo ligado à música alegre de sua terra.

Após lançar um disco ao vivo no qual revisitou alguns de seus grandes sucessos de outrora, Netinho acaba de pôr no mercado, através da gravadora Som Livre, o CD intitulado “Minha Praia”. Produzido por ele próprio e com arranjos concebidos para arrastar foliões (ou seja, com uma camada percussiva pesada, metais esfuziantes e vocais que pululam aos borbotões), o álbum tem tudo para fazê-lo voltar ao papel de protagonista das folias. É claro que os tempos agora são outros. A própria citada Daniela já não obtém a resposta calorosa de antes e mesmo havendo algumas poucas exceções que se mantêm aparentemente inatingíveis (Ivete Sangalo e Cláudia Leitte, ambas amparadas por uma tremenda estratégia de marketing), faz-se claro que, mesmo entre os seus fãs mais entusiasmados, o axé já não arrebata da maneira histérica como se viu outrora.

Mas o fato é que, dentro de sua praia (com o perdão pelo infame trocadilho) Netinho se sai muito bem. Seu timbre agradável é talhado para animar a festa e, mesmo em um trabalho de estúdio como o atual, o cara passa uma energia que contagia todos os que lhe ouvem. Decerto que o repertório, composto por quatorze faixas, não é um primor de criatividade. E, a bem da verdade, nem pode sê-lo. Com o objetivo a que se destinam, as canções possuem letras com pouca profundidade e os lugares-comuns se repetem. Mas há bons momentos, sim, e seria de profunda injustiça não reconhecer isso. A faixa de abertura, por exemplo, “Muito Bom” (que surge também em registro ao vivo) é uma dessas músicas que tem tudo para pegar. E enquanto “Holiday” vem com clima meio disco music, “Gabriela”, mesmo com construção simples, mostra-se eficiente.

Outras que deverão ser bem executadas são “Caça e Caçador” (dispensável versão ligeirinha para o hit piegas de Fábio Jr.) e as agitadas “Beco Sem Saída” e “Comendo Água”. Fechando o disco, um Netinho corajoso (recentemente ele assumiu que gosta de meninos e meninas) explicita a liberdade de escolha na deliciosa “Tá Bom?” (do mago Carlinhos Brown).

O artista aporta com um CD que tem os ingredientes adequados para fazê-lo retornar ao local de destaque dentre os intérpretes que fazem a galera pular até cansar. Vontade e carisma para isso ele tem de sobra!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                    Efetivamente lançado há quatro anos, o primeiro CD solo do cantor e ator paranaense Fabiano Medeiros (“Achado”) se mostra uma grande pedida. O artista foi um dos destaques do elogiado espetáculo “Tambores de Minas” com o qual Milton Nascimento excursionou o país nos últimos anos do século passado, começando como backing vocal e chegando a solar um número inteiro. Composto por onze faixas, o álbum leva a assinatura de Paulo Brandão na produção e mostra um intérprete seguro que passeia com desenvoltura por temas díspares assinados, entre outros, por Mu Chebabi, Luís Capucho e Pedro Ayres Magalhães. Dentre os melhores momentos encontra-se uma insuperável leitura para a delicada pérola “Olho de Boi”, de Rodrigo Maranhão (acompanhado tão somente pela harpa mágica de Cristina Braga), e a faixa-título, inspirada parceria entre Carlos Careqa e Chico Mello. 

 

·                     “Cubo” é mais uma trilha sonora composta por Zeca Baleiro para um espetáculo de dança, desta vez para o Núcleo Lúdica Dança, e traz a assinatura do cineasta Fernando Meirelles na direção. Com resultado inferior a “Geraldas e Avencas” (também recentemente lançado e composto especialmente para o Grupo 1º Ato, de Belo Horizonte), o álbum em tela apresenta dezessete temas, dos quais somente quatro possuem letra (“Samba do Balacobaco”, “Nome de Amor”, “I Like Banana” e “Jararaca no Asfalto”). Dentre os demais, todos instrumentais, os destaques ficam por conta de “Estátuas”, “Três de Espadas” e “Mad Trip”.

 

·                     Percussionista famoso, Ovídio estará lançando em breve o seu primeiro CD como cantor. Trata-se de um tributo à obra de Martinho da Vila que está sendo produzido pela cantora Ana Costa para o selo Zambo Discos. Haverá as participações especiais das filhas do homenageado, Mart’nália e Analimar, além de Arlindo Cruz, Sandra de Sá, Zeca Pagodinho, Almir Guineto e o grupo Toque de Prima.

 

·                     A cantora Alaíde Costa lança esta semana, através da gravadora Lua Music, o CD “Alaíde canta Milton – Amor Amigo”. Produzido por Thiago Marques Luiz, o álbum conta com a participação especial do homenageado na faixa “Viola Violar” (parceria do mineiro com Márcio Borges) e trará, no primoroso repertório, canções como “Bodas”, “Outubro” e “Travessia”.

 

·                     O encontro das cantoras Rita Ribeiro, Teresa Cristina e Jussara Silveira, já gravado, vai gerar CD e DVD ao vivo. O projeto foi encampado pela gravadora Biscoito Fino e se intitula “Três Meninas do Brasil”, título de uma antiga e bonita parceria de Moraes Moreira e Fausto Nilo. No repertório, canções assinadas por Carlinhos Brown, Zé Ramalho, Roque Ferreira e Dominguinhos, entre outros.

 

·                     O grupo Paralamas do Sucesso terminou de gravar, no Rio de Janeiro, as canções que farão parte de seu próximo álbum. As bases foram registradas em Salvador (BA), no estúdio de Carlinhos Brown (Ilha dos Sapos), parceiro de Herbert em uma das várias canções inéditas do CD que deverá chegar ao mercado no comecinho de novembro.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

 

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