Banda: PLAP – PEDRO LUÍS E A PAREDE
CD: “PONTO ENREDO”
Gravadora: EMI
Não fossem as faixas “Repúdio” e “Animal” oferecidas lá pelo meio, o novo CD de Pedro Luís e a Parede (inspirada banda carioca que, no período momesco se transforma em parte do cultuado grupo Monobloco) teria tudo para ser uma obra-prima. E num mercado fonográfico aonde a inspiração e a originalidade vêm sendo postas de lado, substituídas por fórmulas já testadas e exaustivas regravações, isso soa como um verdadeiro oásis em meio ao deserto.
Capitaneado por Pedro Luís (músico, cantor e compositor), a banda é composta por cinco integrantes (ele e mais Mário Moura, Sidon Silva, C.A. Ferrari e Celso Alvin) e desde o seu surgimento, em 1997 (com o lançamento do álbum “Astronauta Tupy”, do qual constavam, entre outras, as excelentes canções “Fazê o Quê?” e “Caio no Suingue”), vem se destacando pela qualidade do repertório adotado e pela ousadia apresentada nos arranjos que, sempre calcados numa base rítmica impressionante, utilizam-se de uma forte camada percussiva para fazer o sabor da festa. Seguiram-se mais dois discos (“É Tudo 1 Real”, em 1999, e “Zona e Progresso”, em 2001), até que, em 2004, junto com Ney Matogrosso, o PLAP lançou o elogiado álbum “Vagabundo”. Ney, aliás, foi um dos primeiros nomes de ponta da nossa MPB que reconheceu o valor de Pedro Luís enquanto compositor, tanto que, tempos antes, já havia registrado canções de sua autoria. Hoje, Pedro é autor assediado e tem canções suas gravadas por vários intérpretes de peso, como Adriana Calcanhotto, Fernanda Abreu, Ed Motta, Elba Ramalho e Maria Rita. Como cantor, vem mostrando um constatável amadurecimento, tanto que sua voz que, nos primeiros trabalhos, soava meio crua, no recém-lançado CD já se mostra muito bem colocada, servindo-lhe para ressaltar as nuances das letras, em geral concebidas com doses incomuns de criatividade.
A verdade é que dificilmente seria diferente que um carioca criado na Tijuca, ao pé do Morro do Salgueiro, não tivesse a música a lhe correr nas veias. Desde cedo acostumado à batucada, Pedro vem sendo saudado como um dos inovadores do novo cenário da música popular, misturando com competência rap, funk, maracatu, rock e samba. Ligado ao underground desde o início da década de oitenta, ele foi sócio-fundador do Circo Voador (no apogeu do BRock), mantendo-se, desde então, ligado a diversos movimentos musicais.
O CD “Ponto Enredo” (que leva assinatura de Lenine na produção e vem – infelizmente – emoldurado por um trabalho gráfico de gosto duvidoso) poderia ser catalogado, sob uma análise mais superficial, como um disco de samba (embora não convencional). Todavia, essa premissa não se faz correta, uma vez que pululam, faixa a faixa, influências tantas que departamentá-lo de forma estanque seria tarefa complexa e inglória. São onze faixas (dez inéditas, apenas uma é regravação: “Cabô”, ótima parceria de Pedro com Zé Renato, o qual divide ainda os créditos de “Luz da Nobreza”, canção que recebe o brilho vocal da sensação musical do momento, a cantora Roberta Sá, esposa de Pedro) que se sustentam, na sua maioria, por si próprias. Os percalços existentes (as parcerias com Carlos Rennó e Suely Mesquita citadas na abertura da presente resenha) poderiam ser evitados, mas se justificam não apenas por questões afetivas como por uma intenção de ressaltar possibilidades de variações melódicas e temáticas.
Pedro cerca-se ainda de outros parceiros para valorizar a obra, como o já citado Lenine (que também está presente nos vocais de “4 Horizontes”), Lula Queiroga (“Tem Juízo Mas Não Usa”) e Roque Ferreira (“Mandingo”), além de musicar poema de Manuel Bandeira (“Cantiga”). Todas essas faixas merecem destaque, mas é, de fato, quando Pedro cria sozinho (a faixa título, além de “Santo Samba” e de “Ela Tem a Beleza Que Nunca Sonhei”, esta com Zeca Pagodinho como convidado) que o recém-lançado CD alcança os seus melhores momentos.
Corra e ouça porque realmente vale super a pena!
Cantora: MARGARETH MENEZES
CD: “NATURALMENTE”
Selo: MZA MUSIC
Com um bonito trabalho gráfico emoldurado pelas cores verde e prata, através do qual se destaca a negritude de sua pele misturada à natureza, acaba de chegar às lojas o novo CD da cantora baiana Margareth Menezes.
Dona de uma voz possante, de timbre grave e muito bem colocada, foi ela uma das precursoras do axé music. No entanto, mesmo reconhecendo a força que esse gênero popular tem na sua vitoriosa carreira, Margareth vem tentando diversificar-se, demonstrando nítida vontade de flertar com a MPB. E se no seu CD “Pra Você”, lançado em 2005, isso já se esboçava (embora ali ainda sob uma roupagem mais pop), no recém-lançado trabalho (intitulado “Naturalmente”) tal opção se torna mais do que clara.
Margareth canta desde a infância, tendo, anos depois, aprendido a tocar violão. Após um começo em que se apresentou em diversas casas noturnas de Salvador e chegou a participar de alguns espetáculos como atriz, descobriu o filão dos trios elétricos, o que lhe possibilitou conhecer o sucesso e gravar o primeiro disco que chegou ao mercado em 1988. Rapidinho, seu talento impressionou o norte-americano David Byrne que se tornou o grande incentivador de sua carreira internacional.
Produzido por Mazzola e composto por onze faixas, o novo CD resulta, sem qualquer dúvida, no melhor álbum da carreira de Margareth. Não obstante tal constatação, forçoso se faz reconhecer que a mão do famoso produtor, de fato, está lá para o bem e para o mal. É que tanto se nota o bom acabamento do produto, com faixas escolhidas a dedo para denotar o caminho que Margareth pretende seguir doravante, como também o fato de que um ar moderninho conferido desnecessariamente a alguns arranjos termina adulterando o sentido nascedouro de certas canções. É o que acontece, por exemplo, em faixas como o galope “Matança” (de Jatobá) e a conhecida “Foi Deus Quem Fez Você” (de Luís Ramalho), ambas boas escolhas e grandes sucessos da década de oitenta nas vozes de Elomar e Amelinha, respectivamente, as quais trazem algumas interseções que terminam soando, em determinadas passagens, um tanto inapropriadas.
Nem mesmo esses acidentes de percurso, aliados à inclusão de faixas menos interessantes, como, por exemplo, “Lua no Mar”, parceria de Robson Costa com a própria Margareth (que, em oportunidades anteriores, já se mostrou bem mais inspirada como compositora) e “Um Caso a Mais” (que conta com a participação de seu autor, o português Luis Represas, nos vocais), chegam a comprometer o resultado como um todo: é legal, sim, e muito, este novo álbum de Margareth.
A maioria das onze faixas foi pinçada dentre canções não inéditas. Destas, destacam-se “Mulher de Coronel” (faixa inexplicavelmente pouco conhecida de Gilberto Gil, posto ser muito bem concebida e que conta com a participação – cansada – do mesmo nos vocais), “Os Cegos do Castelo” (um dos temas mais legais de Nando Reis) e “O Perdão” (uma das músicas mais bonitas de todo o nosso cancioneiro nacional, resultado de uma feliz parceria entre Roberto Mendes e J. Velloso e que anteriormente já havia merecido belo registro na voz de Vânia Abreu). Não dá também para deixar de ressaltar o quanto Margareth se dá bem no terreno do samba: “Abuso de Poder” (de Marquinho PQD e Carlito Cavalcante) comprova uma intérprete realmente talhada para esse complexo gênero musical. Dentre as (poucas) inéditas há a ótima “Febre” (de Zeca Baleiro e Lúcia Santos) e a razoável “Gente” (de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Pepeu Gomes). Completa o set list a pseudo-brega “Por Que Você Não Vem Morar Comigo?”, pinçada do repertório do eclético Chico César.
Enfim, um disco que tem boas chances de emplacar alguns sucessos radiofônicos e cumprir sua (difícil) missão que é consolidar o lado emepebista da grande Margareth Menezes junto ao público em geral.
N O V I D A D E S
· Magnífico é o projeto que o cantor e compositor sergipano Jorge Ducci vem desenvolvendo no site www.sulanca.com. Nele, o criador da banda Sulanca pretende mostrar o seu trabalho de pesquisa junto à cultura popular, o qual vem acumulando ao longo de anos. Além de entrevistas com estudiosos e espaço para debates de temas de interesse social, no endereço virtual poderá ser encontrado um farto material referente ao folclore de Sergipe, à nossa afro-descendência e aos nossos povos indígenas, bem como a disponibilização sonora de instrumentos típicos de várias manifestações, tais como o reisado, a chegança, o cacumbi, o maracatu no Brejão e o São Gonçalo. Nossa Coluna o parabeniza pela inédita e brilhante iniciativa que conta com o apoio da Petrobrás e da Assembléia Legislativa.
· A banda sergipana de pop-rock Alapada (que tenta, já há algum tempo, a sorte em Sampa) anuncia com entusiasmo a sua participação no programa global “Altas Horas” que será levado ao ar no próximo dia 21. Boa sorte para a galera!
· E enquanto já se encontra em estúdio carioca gravando as canções que farão parte de seu próximo CD (nas lojas em 2009, em comemoração aos trinta anos de carreira e sob a produção de Mazzola), a cantora Elba Ramalho acaba de fazer chegar às lojas o DVD “Raízes e Antenas”, registro ao vivo de seu caprichado espetáculo “Qual o Assunto Que Mais lhe Interessa?”. Com a presença de convidados especiais (Lenine, Gabriel O Pensador, Margareth Menezes e o violonista Yamandu Costa), Elba mostra encontrar-se em plena forma, apresentado um repertório de primeira. Dentre os melhores momentos estão “Toda Dor Passa” (vinheta de abertura, de autoria de Tadeu Mathias e Bráulio Tavares), “Gaiola da Saudade” (de Jam da Silva e Maciel Salu), “Conceição dos Coqueiros” (de Lula Queiroga, Lulu Oliveira e Alexandre Bicudo), “A Natureza das Coisas” (de Accioly Neto), “Um Índio” (de Caetano Veloso) e “Palavra de Mulher” (de Chico Buarque). Integra o DVD um emocionante documentário que mostra a artista em sua cidade natal (Conceição do Piancó, no sertão paraibano) e a faz rememorar momentos marcantes de sua trajetória.
· Quem planeja lançar, ainda este ano, seu primeiro CD é o compositor Dudu Falcão. Ele que é parceiro de vários bons nomes da MPB (dentre os quais Lenine, Danilo Caymmi e Jorge Vercillo) e autor de diversos sucessos (“Verso de Bolero”, com Fágner, “Paciência”, com Simone, “O Que É o Amor”, com Selma Reis, “Deixa Eu Cantar”, com Nana Caymmi e “Cristal”, com Ithamara Koorax, por exemplo) soltará a voz em um trabalho solo que marcará sua estréia no mercado fonográfico nacional.
· Outro compositor que até agora nunca tinha gravado, mas que se encontra prestes a fazê-lo é Carlos Colla. Autor de sucessos populares, ele acabou de registrar seu repertório sentimental durante show realizado na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro, o qual irá se transformar em CD e DVD. Para quem não está associando o nome à pessoa, é Colla o responsável por hits como “Falando Sério”, “Meu Vício É Você”, “Bye Bye Tristeza” e “Meu Disfarce”, por exemplo, gravadas por Roberto Carlos, Alcione, Sandra de Sá e Fafá de Belém, respectivamente.
· E mais uma vez o prometido CD de inéditas de Roberto Carlos vai ficar para o próximo ano (quando, então, o Rei estará completando cinqüenta anos de carreira). Para 2008, os fãs vão ter que se contentar com o lançamento de CD e DVD do show que ele fez ao lado de Caetano Veloso, homenageando o meio século de Bossa Nova e mais especificamente a obra de Tom Jobim. Ambos os produtos deverão chegar às lojas ainda neste mês de novembro e enquanto o DVD trará o registro integral do encontro, o CD conterá apenas quatorze das canções apresentadas.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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