MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: ALAÍDE COSTA

CD: “CANTA MILTON – AMOR AMIGO”

Gravadora: LUA MUSIC

 

Atende pelo nome de Alaíde Costa uma grande cantora brasileira com anos e anos de estrada e que ainda não teve a sorte de ver reconhecido o enorme talento que, de fato, possui. Ela começou sua carreira cantando em programas de calouros infantis nas diversas emissoras de rádio da época, sendo em seguida contratada (1957) pela Odeon, gravadora por onde lançou o seu primeiro disco intitulado “Tarde Demais”. 

A voz, ao mesmo tempo delicada e afinada, lhe conferiu de imediato um séquito de admiradores. João Gilberto foi um deles que logo a procurou para que viesse a participar de shows ligados à bossa nova. Após o grande sucesso alcançado com a canção “Onde Está Você” (de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorino), a cantora teve, contudo, que se afastar por um tempo da carreira devido a problemas de saúde. Foi Milton Nascimento o responsável pelo seu retorno quando a convidou para cantar com ele a faixa “Me Deixa em Paz” (de Monsueto e Ayrton Amorim) que integrou o lendário álbum “Clube da Esquina”. Aliás, convém frisar que Alaíde foi o único nome feminino a constar da extensa lista de participações especiais daquele trabalho memorável.

É o mesmo Bituca (apelido pelo qual Milton é conhecido) o mote do novo CD que Alaíde acaba de lançar através da gravadora Lua Music. Produzido por Thiago Marques Luiz (nome que começa a despontar, no meio artístico nacional, como um entusiasta da nossa boa música), o disco traz várias canções de autoria de Milton, assinadas ao lado de alguns de seus parceiros mais constantes, como Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Márcio Borges e Ruy Guerra. O repertório do álbum surge entremeado por duas canções apresentadas em forma de vinheta: “Bodas” e “Amor Amigo” e traz, como licença poética, a inclusão de “Beijo Partido”, canção de autoria de Toninho Horta, mas que ganhou registro tão arrebatador de Bituca que muitos pensam ser ela de sua autoria.

Dona de uma discografia que se baseia na qualidade musical e que vem se intensificando nos últimos anos, com lançamentos regulares de novos discos, Alaíde continua com sua voz em boa forma, não obstante as mais de sete décadas de vida. É claro que, em alguns momentos, o peso dos anos já se faz sentir a um ouvinte mais atento. No entanto, a forma como ela se entrega a cada uma das canções que interpreta supera qualquer suposto limite. A respiração e a dicção perfeitas são seus pontos fortes e o timbre único (que pode até não agradar a todos, pois – é verdade – gosto não se discute) se adapta perfeitamente às harmonias complexas construídas por Milton, marca registrada de um artista que conseguiu incluir seu nome entre os maiores da MPB de todos os tempos.

Alguns dos grandes sucessos estão lá como, por exemplo, “Cais” (que surge engatada com a obra-prima “Um Gosto de Sol”), “Sentinela” e “Travessia”, esta emoldurada por um arranjo minimalístico no qual a voz de Alaíde tem como base apenas o cello de Jonas Moncaio. Outras faixas em que a intérprete se faz acompanhar por apenas um instrumento e mesmo assim consegue um resultado acima da média são “E a Gente Sonhando” (com o acordeom de Iuri Savagnini) e “Morro Velho” (com o violão de Ronaldo Rayol). Alguns dos melhores momentos do disco são “River Phoenix” e “Milagre dos Peixes”. E o homenageado, como não poderia deixar de ser, além de escrever o texto de abertura (no qual reconhece, admirado, que “o tempo para Alaíde não passa”), faz-se presente nos vocais da faixa “Viola Violar”.

É muito legal constatar que Alaíde Costa continua em pleno vigor. Que ela sirva, então, de exemplo aos colegas acomodados (que não são poucos)…

  

R E S E N H A     2

 

Cantor: TONI PLATÃO

CD: “PROS QUE ESTÃO EM CASA”

Gravadora: EMI

 

Quando, em 2006, Toni Platão lançou o seu ótimo terceiro CD solo (“Negro Amor”, via gravadora Som Livre), na verdade estava dando um salto e tanto em sua carreira. Muito embora o álbum não tenha conseguido o êxito de vendas esperado, serviu de forma incontestável para aumentar o prestígio do artista junto à crítica especializada e a uma parcela mais atenta do público. Antes restrito a um pop meio que rasteiro, Toni mostrou um saudável amadurecimento artístico, alçando vôo a um repertório eclético e inteligente.

Talvez a ciência de que aquele trabalho representou, de fato, uma guinada em sua carreira tenha sido o fator decisivo pela reinclusão de sete das onze canções ali apresentadas no set list que compõe o seu novo CD de estúdio, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora EMI (em breve, também disponível em formato DVD, mas em registro ao vivo). Intitulado “Pros Que Estão em Casa” (boa canção assinada por Flávio Murrah e Rômulo Portella), o disco leva a assinatura de Sérgio Diab na produção e é composto por quinze faixas. As arrasadoras releituras de “Mares da Espanha” (de Ângela Ro Ro) e “Negro Amor” (de Bob Dylan, em versão assinada por Péricles Cavalcanti e Caetano Veloso) surgem novamente, ao lado também do oportuno resgate de “Movimento dos Barcos” (de Jards Macalé e Capinam), das espertas escolhas “Louras Geladas” (de Paulo Ricardo e Luiz Schiavon) e “Mammy Blue” (de Giraud) e das roupagens elegantes dadas às pseudo-bregas “Impossível Acreditar que Perdi Você” (de Márcio Greyck e Cobel) e “E Eu Não Vou Mais Deixar Você Tão Só” (de Antônio Marcos). Em todas elas se revelam novas nuances adquiridas com a execução dessas músicas pela banda durante os vários shows promocionais relativos ao CD anterior. Aliás, os quatro rapazes que acompanham Toni (Bruno Wanderley na bateria, Wald no baixo, Rodrigo Ramalho no acordeom e o já citado Sérgio Diab no violão e guitarra) merecem uma ressalva especial, posto que se mostram músicos bem criativos, apresentando arranjos variados que ressaltam idéias bastante interessantes. Trata-se de uma banda coesa, porém muito competente.

Toni, por sua vez, mostra-se um intérprete seguro. De timbre de voz forte (alguns lhe ouvem ecos operísticos), despe-se cada vez mais de vícios americanóides, entregando-se às canções com a emoção que cada uma lhe exige. Ex-estudante de jornalismo e de física, ele integrou a banda de rock Hojerizah que alcançou relativo sucesso no início dos anos oitenta. De seu álbum “Caligula Freejack” (lançado em 2000), Toni pinçou para compor o repertório do recém-lançado trabalho a boa faixa homônima (de sua autoria em parceria com Fausto Fawcett e Dado Villa-Lobos), “Tudo Que Vai” (dele ao lado de Villa-Lobos e de Alvin L.) e “Carne e Osso” (de Humberto Effe, Luiz Gustavo, Abílio e Caíca, esta um antigo sucesso dos Picassos Falsos) que conta com a participação especial de Zélia Duncan nos vocais. Além de “O Moço Velho” (de Silvio César, já devidamente incluída na trilha sonora da telenovela global “Negócio da China”), completam o repertório uma impagável releitura de “Come Together” (de John Lennon e Paul McCartney), “Nasci Para Chorar” (versão de Erasmo Carlos para música de Dion Di Mucci) e “Amor, Meu Grande Amor” (outra de Ro Ro, agora em parceria com Ana Terra).

Um CD que – é verdade – poderia ser mais ousado, mas que sem dúvida alguma credencia Toni Platão como um dos nossos melhores intérpretes masculinos. Quem ainda não o conhece, está na hora de fazê-lo!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Está chegando às lojas, com vistas às vendas de final-de-ano, o CD “Natal Bem Brasileiro” que reúne grandes nomes da nossa MPB em quatorze faixas (treze delas registradas especialmente para o projeto). Dentre outros, estão presentes: Maria Bethânia (“Boas Festas”, de Assis Valente), Elba Ramalho (“Cartão de Natal”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas), Zezé Motta (“Feliz Natal, Papai Noel”, de Martinho da Vila), Maria Alcina (“E Nasceu Jesus”, de Orlandivo e Roberto Jorge) e Célia (“Meu Menino Jesus”, de Roberto e Erasmo Carlos). O único fonograma já pré-existente é “Poema de Natal”, ouvido na voz do autor Vinicius de Moraes com Toquinho acompanhando-o ao violão.

 

·                     Outro CD que visa ao público afoito pelas trocas de presentes é “Estrelas do Natal”. Relançamento da gravadora MZA Music, a compilação traz no repertório nomes como Alcione (“Noite Feliz”), Ivan Lins (“Um Feliz Natal”), Fernanda Takai (“O Velhinho”), Jorge Vercillo (“Natal Branco”) e Margareth Menezes (“Depende de Nós”).

 

·                     Está chegando ao mercado o novo CD de Marcelo D2. Intitulado “A Arte do Barulho”, o trabalho marca a estréia do artista na gravadora EMI e traz, em participações especiais, Roberta Sá, Marcos Valle, Mariana Aydar, Seu Jorge, o grupo Jongo da Serrinha e Stephan (filho do cantor). A faixa escolhida como carro-chefe é “Desabafo” que contém, em seu refrão, sample do samba “Deixa Eu Dizer” (parceria de Ivan Lins com Ronaldo Monteiro de Souza), em gravação da cantora Cláudia datada de 1973. O disco, no entanto, não pôde contar com Pitty como convidada. É que a gravadora da roqueira, a Deckdisc, vetou a participação da mesma e a faixa “Feriado” teve que ser limada, na última hora, do repertório.

 

·                     Já chegou às lojas a trilha sonora original do filme “Os Desafinados”, de Walter Lima Jr, que traz, entre outros, Rodrigo Santoro e Cláudia Abreu no elenco. O repertório é composto por uma mescla entre canções inéditas e alguns clássicos da Bossa Nova. Boa pedida!

 

·                     O corretíssimo cantor Zé Renato, mais associado ao samba e à MPB tradicional, preparou um projeto no mínimo peculiar para a sua carreira: acaba de pôr no mercado o CD “É Tempo de Amar” em que ele revive o romantismo de músicas lançadas por artistas associados à Jovem Guarda. O trabalho, que leva a assinatura de Dé Palmeira na produção, visa aproximá-lo de uma camada mais popular do público consumidor e conta com a participação de Marcos Valle, ao piano, em duas faixas. No repertório estão temas como “Nossa Canção” (de Luiz Ayrão), “Não Há Dinheiro que Pague” (de Renato Barros) e “O Tempo Vai Apagar” (de Getúlio Cortes e Paulo César Barros), sendo que esta última faz parte da trilha sonora da ótima telenovela global “A Favorita”.

 

·                     Com o primeiro volume de seu projeto “O Coração do Homem-Bomba” ainda fresquinho nas lojas, Zeca Baleiro já disponibilizou, em sua página oficial na internet, três canções que farão parte do volume dois (“Débora”, “Tacape” e “Como Diria Odair”), o qual deverá ser lançado – se cumprida a agenda inicialmente traçada – até o final deste ano.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

 

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais