Musiqualidade

R E S E N H A     1

 

Cantor: LUIZ MELODIA

CD: “ESPECIAL MTV – ESTAÇÃO MELODIA AO VIVO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Luiz Melodia nasceu no Estácio, no Rio de Janeiro, e foi em homenagem ao seu bairro que ele compôs duas de suas músicas mais conhecidas: “Estácio Eu e Você” e “Estácio Holly Estácio”, esta última uma das canções que fez com que ele começasse a ganhar o reconhecimento nacional ao ser gravada, em 1973, por Maria Bethânia. Ambas as canções fazem parte do repertório do novo trabalho que Melodia acaba de fazer chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o CD “Estação Melodia ao Vivo”, registro ao vivo do especial gravado para a MTV e que também se encontra disponível no formato DVD.

A base do repertório é o álbum anterior de estúdio do artista no qual ele mergulhou em sambas das décadas de trinta, quarenta e cinqüenta (tanto que, das dezoito faixas constantes, dez foram dali pinçadas). Aí, Melodia é essencialmente intérprete, um intérprete que – diga-se de passagem – continua vigoroso. Os anos de estrada felizmente ainda não parecem lhe pesar, tanto que a voz do negro gato continua em plena forma. Dono de um suingue único e de recurso estilístico próprio, Melodia possui um timbre agradabilíssimo que o permite passear pelos diversos estilos que caracterizam o samba. Afinada e com uma extensão considerável, sua voz sabe apresentar novas nuances até mesmo quando ele cai em repertório óbvio, ao revisitar canções de inatacável valor, mas que já foram regravadas à exaustão, caso de, por exemplo, “Gente Humilde” (de Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque) e “Diz Que Fui Por Aí” (de Zé Keti). Quanto ao lado compositor, além das duas canções citadas no início desta resenha, o mesmo só se faz refletir no novo trabalho através da releitura de “Fadas” (inspirado tema que, anos atrás, encontrou em Elza Soares a sua intérprete definitiva e que surge agora com roupagem de gafieira) e da boa inédita “Sem Hora Pra Voltar”.

Filho do sambista Oswaldo Melodia, o artista aproveita a oportunidade para homenagear também o pai através de uma criação dele, a filosófica “Não Me Quebro à Toa”. Mas, inteligente, passeia ainda por grandes nomes que ajudaram a sedimentar o gênero mais representativo da nossa cultura popular: Geraldo Pereira (“Chegou a Bonitona”), Cartola (“Tive Sim”), Jamelão (“Eu Agora Sou Feliz”), Wilson Batista (“Recado que Maria Mandou”), Monarco (“Amor de Malandro”) e Ismael Silva (“Contrastes”). Dois dos melhores momentos surgem com a instrumental “Maxixe da Família” (de Silvério Pontes e Chico Nacarati) e com a inspirada “Choro de Passarinho” (de Renato Piau, Euclides Amaral e Rubens Cardoso) que conta, nos vocais, com a participação especial de Jane Reis, esposa e atual empresária de Melodia.

Para quem gosta de música de qualidade, trata-se de uma ótima pedida que serve também para animar os corações e as mentes!    

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: OLIVIA BYINGTON

CD: “PERTO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Depois de lançar, no ano passado, um ótimo álbum no qual expunha com inteireza o seu lado de compositora, a carioca Olivia Byington pôs recentemente no mercado, através da gravadora Biscoito Fino, o DVD intitulado “A Vida É Perto”. Trata-se de um belo registro de show intimista realizado na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, o qual teve como base o repertório do mencionado disco autoral (como as ótimas músicas “Areias do Leblon”, “Guarda Minha Alma”, “Na Ponta dos Pés” e “Por Dentro das Canções”, todas em parceria com o poeta português Tiago Torres da Silva), mas avançava também para temas já gravados anteriormente pela própria Olivia (“Corra o Risco”, dela e Geraldo Carneiro, e “Clarão”, dela e Cacaso) e apresentava releituras para peças clássicas (“Fotografia”, de Tom Jobim, “De Que Callada Manera”, de Pablo Milanés e Nicolas Guillén, e “Uva de Caminhão”, de Assis Valente). Munida somente de seu violão e de um notebook, ela mostrou-se super à vontade, contando histórias e transformando o recital em uma verdadeira sala de visitas.

Ali, ela rememorou, em tom confessional, o começo da carreira ao lado de um grupo do qual fazia parte o famoso violoncelista Jaques Morenlembaum, assumiu que seu filho mais velho (ela possui quatro, dois casais) nasceu com uma síndrome bastante rara, relatou o encontro com o atual marido (o saxofonista Edgar Duvivier) e falou de suas predileções musicais. Reconheceu ainda que estava fazendo um show sozinha porque sentiu inveja dos atores que representavam monólogos. Altamente afinada, Olivia fez um DVD de altíssimo nível que serve para embalar com requinte qualquer reunião de amigos.

Entusiasmada pela receptividade que seu vídeo alcançou, ela resolveu, então, entrar em estúdio para registrar, no mesmo formato (violão e voz), quinze canções, as quais resultaram em um novo CD (sugestivamente intitulado “Perto”, numa alusão à vontade literal de estar cada vez mais próxima de seu público) que acaba de chegar às lojas.

O álbum vem emoldurado por um trabalho gráfico simples, mas muito legal. No encarte, podem-se ver vários desenhos feitos pela própria artista, os quais se esboçam igualmente na contracapa, resumindo a idéia do trabalho: estão ali, de forma representativa, um violão, uma cadeira, uma estante para partitura e dois microfones (voz e instrumento). No set list, Olivia reincluiu alguns números que fazem parte do DVD, mas nota-se aqui a opção por uma interpretação bem mais contida. De maneira suave e se utilizando de uma dosagem perfeita entre técnica e emoção, ela reuniu, logo na abertura, duas obras-primas de Caetano Veloso (“Alguém Cantando” e “Muito Romântico”), jogando novas luzes, mais adiante, sobre bela e pouco conhecida canção de Gilberto Gil (“Mãe da Manhã”, gravada originalmente por Gal Costa em seu disco “O Sorriso do Gato de Alice”). De Tom Jobim, um seu fã confesso, ela escolheu “Por Toda a Minha Vida” (parceria com Vinicius de Moraes) e “Anos Dourados” (composta com Chico Buarque) e, esperta, resgatou duas canções de safra mais antiga: “Com Que Roupa” (de Noel Rosa) e “Menina Fricote” (de Marília Batista e Henrique Batista). Não por acaso enfileira a esta (que, em seus versos irônicos, arremata seu titular que não entende de língua estrangeira) a francesa “Feuilles Mortes”, não sem antes ter passeado pelo idioma inglês (em “New World”, de Björk).

No diversificado repertório, há espaço ainda para uma parceria boa e inédita dela com o já citado Tiago Torres da Silva (“Entre a Voz e o Oceano”), para a brega “Pense em Mim” (hit de Leandro e Leonardo) e para a pungente “Anjo Vadio” (dela e Geraldo Carneiro), pérola pinçada lá do comecinho da carreira.

É mesmo muito legal este novo álbum de Olivia Byington. Corra e ouça!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Mais uma edição do Projeto MPB Petrobrás aportará no palco do Teatro Tobias Barreto. Terça e quarta-feira (dias 25 e 26), a partir das 21 horas, os apreciadores do trabalho multifacetado de Tom Zé poderão conferir in loco o que o irrequieto artista anda aprontando. Ele se apresentará acompanhado por grande banda na qual se destaca o talentosíssimo Jarbas Mariz. O show de abertura ficará por conta de Alex Sant’anna, um dos baianos mais sergipanos que conheço. A gente se vê por lá!

 

·                     A dupla Antônio Rogério & Chiko Queiroga e a cantora Patrícia Polayne foram os artistas selecionados por Sergipe pela triagem do Projeto Pixinguinha que, este ano, contemplará os escolhidos com uma ajuda de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) para a gravação de um CD e a realização de três apresentações dentro do Estado. Daqui os nossos sinceros parabéns e que os discos não demorem muito a chegar, dignificando (como, aliás, estão acostumados a fazer) a nossa arte com seus incontestáveis talentos.

 

·                     O produtor José Milton teve a idéia e esta foi imediatamente encampada pela gravadora Biscoito Fino: dentro em breve estará chegando às lojas o CD que vai unir quatro nomes ligados à Bossa Nova, mas que nunca haviam antes trabalhado juntos: João Donato, Marcos Valle, Carlos Lyra e Roberto Menescal.

 

·                     Um dos nomes que começa a despontar no cenário musical com força total é o da carioca Sílvia Machete. Editado em 2006 de forma independente, o seu primeiro CD (“Bomb of Love – Música Safada para Corações Românticos”) despertou curiosidade em torno de um trabalho criativo que vem lotando os palcos por onde se apresenta. O segundo CD, que sairá concomitantemente em formato DVD, se intitulará “Eu Não Sou Nenhuma Santa” e estará chegando em breve às melhores lojas através da gravadora EMI.

 

·                     Afastada há cinco anos do mercado fonográfico, a cantora Wanderléa está lançando, através da gravadora Lua Music, um novo CD. Produzido por Thiago Marques Luiz, o trabalho traz, no insuspeito repertório, canções assinadas por Geraldo Azevedo, Johnny Alf, Arnaldo Antunes, Jackson do Pandeiro, Roberto e Erasmo Carlos.

 

·                     Já está disponível o novo DVD da cultuada Marisa Monte. Intitulado “Infinito ao Meu Redor” (alusão explícita aos dois últimos álbuns lançados simultaneamente pela cantora: “Infinito Particular” e “Universo ao Meu Redor”), o produto tem caráter documental, registrando o processo criativo da artista e imagens colhidas durante sua última turnê (“Universo Particular”). Acompanha o DVD um CD-bônus contendo nove faixas, dentre elas a inédita “Não É Proibido” (devidamente incluída na trilha sonora da novela global “Três Irmãs” e que já toca exaustivamente em algumas rádios) e as leituras da cantora para as canções “Pedindo pra Voltar” (de Carlinhos Brown e que faz parte do repertório da Timbalada) e “Mais uma Vez” (de sua própria autoria e que foi lançada originalmente por Milena Monteiro).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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