Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: LUCIANA PESTANO

CD: “TIGRA”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

Em 1997, a cantora gaúcha Luciana Pestano lançou o seu primeiro disco. Composto por quatorze faixas, todas elas de autoria da própria artista, o trabalho serviu para alavancar o seu nome no Sul do país, onde, na época, a canção “Vá Embora” chegou a tocar muito bem nas rádios. Em seguida, Luciana chegou ao Rio de Janeiro, tendo aberto shows de artistas como Zeca Baleiro, Cássia Eller e Antonio Villeroy. Mas foi na França, por incrível que pareça (onde participou do Brahma Brasil Festival) que conheceu Herbert Vianna. O vocalista dos Paralamas do Sucesso logo se entusiasmou com o talento de Luciana, tanto que a convidou para participar da faixa “Eu Não Sei Nada” que integrou o repertório de seu CD solo “O Som do Sim”. 

Herbert, de fato, gostou tanto do trabalho da cantora que se decidiu por produzir seu segundo CD. As gravações tiveram início no estúdio do cantor com a música “Entre Você e Eu”, uma parceria de Luciana com Gastão Villeroy, na qual Herbert, além de dividir os vocais, toca guitarra e teclado. O grave acidente ocorrido com ele em 2001, no entanto, impediu a imediata continuidade do projeto, o qual só foi retomado alguns anos depois, culminando agora com o lançamento do álbum independente “Tigra” (que, ao longo do caminho, terminou ganhando outros produtores, tais como Marcos Cunha, Rodrigo Campello, Júnior Tostoi e Mu Chebabi).

Deixando para trás a cabeleira loira, Luciana trocou também o estilo folk-rock da estreia por um som mais contemporâneo no qual se misturam elementos eletrônicos com uma música quase sempre enérgica mas que não deixa de apresentar influências brasileiras. Poder-se-ia catalogá-lo como pop-rock puxado para o pesado, mas não dá para negar que se trata de um estilo todo próprio.

Com sua voz rouca e rascante (que, em alguns momentos, chega a lembrar a Marina Lima dos bons tempos), ela está sempre à frente dos arranjos pulsantes (calcados na base teclado+guitarra+baixo+bateria com programações e efeitos pipocando aqui e ali), diferenciando-se (e muito) da média das intérpretes femininas que constantemente vêm assolando a nossa música. Como compositora (ela assina todas as dez faixas do novo trabalho, três delas são parcerias), não cria propriamente canções facilmente assimiláveis. Suas letras, via de regra, remetem a encontros e desencontros amorosos, além das preocupações e constatações do dia-a-dia da vida moderna, muitas vezes de forma debochada. Suas melodias trazem construções não muito rebuscadas, porém ela não é adepta de partes definidas nem costuma se utilizar de refrões como porto seguro.

O álbum é aberto com a faixa “Dia Zen”, que serve tanto como cartão de visitas quanto como vinheta de intenções. E se “Maciez” chega desconfortante com guitarras ásperas, “Arpoador” se transforma em um raro momento de singeleza. Há boas parcerias com os já citados Antonio Villeroy (“A Lôca”) e Mu Chebabi (“Tigragem”). Alguns dos melhores momentos ficam por conta da arrojada “Trovão” e da viajante “Leonino”.

De primeira, pode-se até estranhar os rugidos e a visceralidade de Luciana Pestano. Mas a força de seu trabalho logo conquista o ouvinte pelo arrojo e personalidade ímpares. Que a projeção nacional almejada chegue logo!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: LÚCIA MENEZES

CD: “PINTANDO E BORDANDO”

Gravadora: SOM LIVRE

 

Acaba de chegar às lojas o CD “Pintando e Bordando”, o mais recente título da discografia da cantora Lúcia Menezes. Cearense, a artista vem, já há um certo tempo, também tentando ultrapassar os limites do Estado natal para mostrar o seu trabalho ao público nacional. Já em seu disco anterior (lançado pela gravadora Kuarup em 2007), ela começou a dar pistas de que vontade para isso não lhe falta. E, embora ali o resultado não tenha soado coeso, pontos de luz acenderam-se em faixas como “O Carrité do Coroné” (de Manezinho Araújo) e “Estrada do Sertão” (de João Pernambuco e Hermínio Bello de Carvalho).

Dona de um timbre agudo que chega, por vezes, a beirar o infantil, destoando de uma aparência de respeitável senhora, Lúcia não é definitivamente o tipo de cantora que empolga à primeira audição. As sutilezas brejeiras de seu canto são descobertas devagarinho, com a certeza de que a intérprete estará sempre em um plano superior ao da cantora.

O novo álbum, um lançamento da gravadora Som Livre, recebeu tratamento sonoro privilegiado com a produção musical do competente José Milton, a assinatura de João Lyra e Cristóvão Bastos nos arranjos e a participação de vários dos melhores músicos brasileiros da atualidade, a exemplo de Jamil Joanes (baixo), Dirceu Leite (flauta), Mingo Araújo (percussão) e Carlos Bala (bateria).

Quanto ao repertório selecionado, não há como deixar de ressaltar, aqui, dois pontos a ele referentes. O primeiro diz respeito à capacidade que Lúcia possui de pinçar canções de qualidade, mas pouco conhecidas. Decerto que aí tem a mão do produtor. No entanto – a gente sabe – há sempre as sugestões do artista envolvido, a quem cabe ainda a decisão final. A segunda recai sobre a o ecletismo do mesmo. Na corda bamba entre se equilibrar num conjunto heterogêneo ou descambar para uma colcha de retalhos, Lúcia termina se saindo vitoriosa.

Quatorze canções compõem o set list e delas apenas três são bem conhecidas (“Uva de Caminhão”, de Assis Valente, “Nem Ouro, Nem Prata”, o maior sucesso da carreira de Ruy Maurity, e “Samba do Grande Amor”, inspirado samba do mago Chico Buarque). Inédita mesmo somente a faixa de abertura, a indígena “Presente de Iemanjá” (parceria do já citado João Lyra com Paulo César Pinheiro). As demais foram garimpadas durante uma pesquisa que durou cerca de dois anos. Dessa tarefa resultaram boas escolhas, todas nada óbvias. E se de Vander Lee, um dos compositores da hora, Lúcia escolheu o samba-choro “Chazinho com Biscoito”, de Noel Rosa, clássico criador do nosso cancioneiro, ela pinçou o fox “Estátua da Paciência”. Conterrâneos da artista, é claro, também se fazem presentes: é o caso de Ednardo (com a bela “Terral”) e Belchior (com o rock-country “Os Profissionais” que conta com a participação do filho da cantora, Artur Menezes, destaque com sua guitarra e seu violão slide). Alguns dos melhores momentos ficam por conta da bucólica “Os Grilos São Astros” (de Rosinha de Valença), do animado baião “Menino de Roça” (de João Bá e Dércio Marques) e da caipira “Viola Cantadora” (de Marcelo Tupynambá). E o grande nome da música nordestina também está lá! Luiz Gonzaga, nosso mestre, comparece com “Mangaratiba” (parceria com Humberto Teixeira). Completam o repertório o samba “Palavra Doce” (de Mário Travassos) e o frevo-canção “No Cordão da Saideira” (de Edu Lobo). 

De fato, Lúcia Menezes dá um upgrade em sua carreira fonográfica com esse recém-lançado CD. Quem tem bons ouvidos para escutar, que o faça!

 

 

N O V I D A D E S

 

 

·                     “Quinto Elemento” é o título do novo CD do Quinteto Violado que acaba de chegar às lojas de maneira independente. Trata-se do 32° álbum da discografia do grupo e o primeiro sem a presença de Toinho Alves, um de seus fundadores, o qual faleceu no ano passado. Todas as quinze faixas foram registradas durante apresentação realizada no Teatro Fecap, em São Paulo, e são assinadas pelos componentes atuais (é também o primeiro trabalho 100% autoral). Quatro delas são instrumentais. Entre xotes, baiões, sambas, frevos e maracatus, fica claro que os arranjos superam as canções, já que as letras não são definitivamente o ponto alto deste trabalho. Os destaques, além da canção-título, ficam por conta das músicas “Do Lado De Lá”, “Contos de Zelação”, “Mata Branca” e “Colombina”. Há as participações especiais de Guinga (ao violão) e de Toninho Ferragutti (ao acordeão).

 

·                     Dado Villa-Lobos lança o CD “Jardim de Cactus”, gravado entre março de 2000 e julho de 2004. O álbum, na verdade, foi engavetado para dar lugar a uma versão ao vivo do mesmo, registrada e lançada em 2005, nos formatos CD e DVD, dentro da série “MTV Apresenta”. Além de Paula Toller que aparece como convidada na faixa-título, há as participações especiais de Chico Buarque (em “Natureza”) Toni Platão (em “Como te Gusta?”), Fausto Fawcett (em “Faveloura & Lov”), Amanda Telles (em “Luz e Mistério”), Cecília Spyer (em “Quase Nada”), Thalma de Freitas e Humberto Effe (em “Laufunk”).

 

·                     Chegará às lojas no segundo semestre deste ano o novo CD de Nicolas Krassik, violinista francês radicado no Rio de Janeiro desde 2001. Dedicado à obra de João Bosco, o trabalho traz, dentre as treze faixas, a inédita “Depois da Penúltima”.

 

·                     “Live in Germany” é o título do novo CD que a cantora Ju Cassou acaba de lançar, fruto de registro ao vivo feito durante show realizado em 2005. A base do repertório é a mesma de seu CD de estreia, gravado em 2000 e intitulado “Muito Prazer”. Ju, que é também uma exímia pianista, apresentou-se ao lado de dois excelentes músicos: Marcio Tubino (no sax e flautas) e Gilson de Assis (na percussão). Uma verdadeira salada sonora muito bem azeitada reúne, no mesmo prato, nomes consagrados como Jorge Ben Jor (“Paz e Arroz”), Caetano Veloso (“Gente”) e Gilberto Gil (“Expresso 2222”) e compositores ainda não tão conhecidos pelo grande público, a exemplo de Paulo Bi (“Boa Noite” e “Antropofagia”), César Santana (“Juju” e “Mesmo Céu”) e Donizeth Gondim (“Uma Festa na Cachoeirinha”). Ótima cantora, Ju consegue tanto conferir tintas novas a temas sofisticados (“Bebê”, de Hermeto Pascoal, e “O Trenzinho do Caipira”, de Villa-Lobos e Ferreira Gullar) como resgatar com destreza tema folclórico (“Congo Trio”) e canto indígena guarani (“Oremã”). De quebra, ainda apresenta a inédita “Soréconvosco” (parceria dela com a poetisa e atriz Elisa Lucinda). Alguns dos melhores momentos ficam por conta de “Garota de Ipanema” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “Chorinho Pra Ele” (outra de Hermeto Pascoal, agora ao lado de Ericson Carvalho) e “Leso Doido e Mudo” (de Moska). Bem legal!

 

·                     Claudia Telles lançará em breve, através da gravadora Lua Music, o CD “Quem Sabe Você” que conta com a participação especial de Emilio Santiago na faixa “Biquininho Azul” (parceria de Ronaldo Bôscoli com o violonista Candinho, pai da artista). Há inéditas de Roberto Menescal e Abel Silva (a faixa-título) e de Johnny Alf (“Ai Saudade”). Produzido por Thiago Marques Luiz, o disco flerta com o lado B da Bossa Nova.

 

·                     A banda carioca Luisa Mandou um Beijo completa dez anos de carreira lançando um novo CD composto por quatorze faixas inéditas. Trata-se de pop rock de primeira qualidade que merece ser conhecido pelos antenados de todas as tribos. Os destaques ficam por conta das canções “A Odalisca e o Pirata”, “Borboleta Imperial” e “Mar Bravio”.

 

·                     se encontra em pré-produção o novo CD do Ultraje a Rigor que recebeu provisoriamente o título de “Música Esquisita a Troco de Nada”. As três primeiras canções prontas (“Amor”, “Vida de Bebê” e “Nossa, que Cabelo Bonito!”) já estão disponíveis na página do grupo no portal MySpace, tanto para audição como para download gratuito.

 

·                     A telenovela global “Caminho das Índias” terá quatro CD’s contendo as músicas que rolam na trama. O primeiro, recheado de sucessos nacionais, já está nas lojas. Logo em seguida, virá o referente às músicas indianas. Depois, sairá o recheado de sambas, relativo às cenas passadas no bairro carioca da Lapa. Por último, sairá a seleção contendo os hits internacionais.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

 

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