R E S E N H A 1
Cantor: FAGNER
CD: “UMA CANÇÃO NO RÁDIO”
Gravadora: SOM LIVRE
Raimundo Fagner é cearense de Orós e começou a compor ainda na adolescência. Antes de se mudar para Brasília em 1971, ele já era relativamente conhecido nos meios musicais de sua aldeia, ao lado de outros conterrâneos então emergentes como Belchior, Ednardo, Rodger Rogério e Ricardo Bezerra. Logo em seguida, transferiu-se para o Rio de Janeiro e, ato contínuo, viu uma música sua ser gravada pela maior cantora brasileira de todos os tempos e se transformar em um sucesso instantâneo: ela era Elis Regina e a canção, a bonita “Mucuripe”. Dois anos depois, o artista lançou seu primeiro disco, o qual trazia no repertório a famosa “Canteiros”, melodia por ele criada sobre poema de Cecília Meireles.
Os anos setenta marcaram o apogeu da carreira de Fágner que enfileirava um sucesso após o outro (“Noturno”, “Revelação” e “Quem Me Levará Sou Eu” estão entre eles) e seu nome era uma constante nas trilhas sonoras de novelas globais. Fágner ousava: suas composições eram sempre inspiradas e ele ainda ganhava ótimos temas inéditos de colegas, o que lhe possibilitava mostrar seu fino talento de intérprete. Nas duas décadas seguintes, no entanto, o artista se rendeu a algumas concessões, chegando a flertar com o brega quando gravou músicas como “Deslizes” e “Borbulhas de Amor”. Foram, de fato, seus últimos hits porque em seguida, embora tenha continuado a lançar bons álbuns, viu seu nome ser relegado a um segundo plano.
O novo CD dele, intitulado “Uma Canção no Rádio” e lançado com boa estratégia de marketing pela gravadora Som Livre, tem, pois, missões muito importantes: fazer com que Fagner volte a ser tocado pelas rádios e, principalmente, que seu trabalho passe a ser efetivamente conhecido pelas gerações mais novas. Embalado em caprichado encarte, o (bom) disco foi produzido a quatro mãos por ele e pelo jovem Clemente Magalhães. É composto por apenas dez faixas (três delas regravações), as quais, ao final, deixam uma impressão bem legal. No entanto, Fagner não demonstra mais a garra de tempos pretéritos. Isso fica claro através de algumas interpretações que soam apenas burocráticas. O antes arrebatador artista, que abusava de efeitos sonoros e vozes duplicadas, agora se mostra econômico, embora seja incontestável que sua inconfundível voz continue em forma.
De seu álbum de 2001, ele pinçou “Muito Amor” (de São Beto), agora regravada em ritmo de tango eletrônico. É a porta de abertura de um trabalho que alterna canções românticas com temas voltados para críticas sociais. Destas, a mais contundente se concretiza através de “Martelo” (de Oliveira do Ceará e Adamor) que conta com a intervenção bem-vinda de Gabriel O Pensador. A canção fala da violência dos tempos atuais e da inoperância e descrédito que assola o Poder Judiciário. Já os brasileiros excluídos vêm à tona em “Farinha Comer” (primeira parceria de Fagner com Chico César), um dos melhores momentos do CD. Dois outros bons momentos também resultam de parcerias do artista: uma com Zeca Baleiro (a faixa-título que conta com a participação vocal do maranhense) e outra com Fausto Nilo (a confessional “A Voz do Silêncio”).
O anteriormente citado Oliveira do Ceará comparece em mais dois momentos: “Regra do Amor” e “Amor Infinito”. Completam o repertório a bonita “Sonetos” (de Domer) e duas regravações de canções nordestinas já bastante conhecidas: “Flor do Mamulengo” (de Luiz Fidélis, pinçada do repertório da banda Mastruz com Leite, que ganha levada de reggae) e “Me Dá Meu Coração” (de Accioly Neto, recém revisitada também por Elba Ramalho em seu mais recente CD “Balaio de Amor”).
No ano em que comemora seis décadas de vida, Fagner merece reconquistar o posto de um dos maiores nomes da nossa MPB. Que os deuses da música digam: amém!
R E S E N H A 2
Cantor: DIOGO NOGUEIRA
CD: “TÔ FAZENDO A MINHA PARTE”
Gravadora: EMI
Filho de João Nogueira, um dos grandes compositores de samba da nossa música popular, Diogo Nogueira vem conseguindo um espaço invejável na mídia desde que lançou, há dois anos, o seu primeiro CD, também disponível no formato DVD. Naquela oportunidade, ele estreou no mercado fonográfico com um trabalho registrado ao vivo, no qual revisitou alguns dos grandes sucessos do pai famoso. Portelense e com pinta de galã (o que, não diminuindo o talento inato que possui, lhe ajuda e muito no quesito visibilidade), o artista se transformou em um dos novos nomes do samba mais requisitados, tanto que, nesse período, fez participações em vários projetos alheios.
Era de se supor, assim, que o seu segundo disco fosse aguardado com muita curiosidade. Essa espera acaba de chegar ao fim com o lançamento de “Tô Fazendo a Minha Parte”, o qual chega às lojas através da gravadora EMI e traz quatorze faixas produzidas com o esmero de sempre pelo cavaquinista Alceu Maia. Trata-se de um álbum que desce redondo, mostrando que Diogo realmente tem tino para a coisa. Dono de boa voz, cujo timbre se assemelha sobremaneira ao do pai (embora menos grave e encorpado), ele se mostra à vontade no universo que escolheu para fazer a sua música. Tem charme nas divisões, soa esperto e malicioso quando a canção assim lhe exige e, mais que tudo, sabe dar a força certa a certas sílabas e células melódicas, valorizando os versos cantados.
Também compositor, Diogo assina apenas três das faixas do repertório, assim mesmo ao lado de parceiros. Delas, a melhor é a pluralmente rítmica “Chegou o Amor”, mas há espaço certo também para a religiosidade, a qual aflora na espontânea “Força Maior”.
O CD deverá ter suas vendas alavancadas pelo sucesso de “Malandro É Malandro, Mané É Mané” (de Neguinho da Beija-Flor) que, incluída na trilha sonora da telenovela global “Caminho das Índias”, já toca exaustivamente nas rádios, um grande presente que Diogo recebeu da autora, Glória Perez. Mas falando em presente, não se pode esquecer da faixa “Sou Eu”, que lhe chegou às mãos quando ele já estava praticamente com o disco pronto. Trata-se da segunda parceria de Chico Buarque com Ivan Lins e que terminou envolta em celeuma porque já havia sido prometida anteriormente para a cantora Simone. É um daqueles sambas buliçosos que recebeu uma letra bastante inspirada, sem dúvida um grande momento do disco. Outros destaques ficam por conta da faixa-título (de Flavinho Silva e Gilson Bernini), de “Deus É Maior” (de Xande de Pilares, Leandro Fab e Ronaldo Barcellos) e de “Vai Saber” (outra de Barcellos, agora em parceria com André Renato). Diogo também abre espaço para ressaltar o seu amor genuíno ao samba e à arte de cantar (em “Presente de Deus”, de Fred Camacho e Alceu Maia) e para mergulhar tanto em tema mais dolente (em “Luz Pra Brilhar Meu Caminho”, de Arlindo Cruz, Jorge David e José Franco Lattari) como no chamado pagode romântico (em “Amor imperfeito”, de Leandro Fregonesi e Ciganinho).
Enfim, um CD bem legal que com certeza contribuirá para abrir novas portas no que tange à carreira de Diogo Nogueira. Vale a pena conferir!
N O V I D A D E S
· Em Sergipe, junto à Fundação Aperipê, foram inscritas 106 canções visando à seleção para o I Festival Nacional de Música da Associação das Rádios Públicas do Brasil. Destas, 19 são instrumentais. Entre os concorrentes, a grande maioria foi de gente jovem, ainda pouco conhecida, mas alguns grandes nomes do cancioneiro do nosso Estado também se inscreveram. O próximo passo será a divulgação, nesse Portal, das pré-selecionadas que ficarão sujeitas ao voto do público. Daí, sairão as dez canções que entrarão em um CD e serão apresentadas ao vivo, em outubro, para a escolha das duas que irão nos representar nacionalmente. Que sejam escolhidas as melhores!
· Produzido por Geraldo Flach, chegou recentemente às lojas o CD de estreia da cantora gaúcha Renata Adegas. Intitulado “Sambô”, o trabalho traz dez faixas, metade delas assinadas pela própria artista em parceria com Michel Dorfman (delas, as melhores são “Sambô Sambô” e “Oi Oi Oi”). Dona de belo timbre vocal (que transita entre os de Maria Rita e Fátima Guedes), Renata encontra os melhores momentos do disco na delicada faixa “Nem Depois” (de Claudio Lins) e nas apropriadas releituras de “Voz Unida” (de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro) e “Recado” (de Gonzaguinha).
· Já foram realizadas e devidamente registradas as apresentações que darão origem aos dois novos volumes do projeto “Samba Social Clube”, idealizado pela rádio carioca MPB FM e encampado pela gravadora EMI. Dentre os nomes arregimentados pelo produtor Paulão 7 cordas estão: Zeca Pagodinho, Leci Brandão, Jorge Aragão, Zélia Duncan, Teresa Cristina, Arlindo Cruz, Moraes Moreira, Beth Carvalho, Mariana Aydar, Marcelo D2 e Caetano Veloso.
· Depois de participarem do show “Festa para um Rei Negro”, realizado em comemoração aos setenta anos de Jair Rodrigues, os filhos do artista, Luciana Mello e Jair Oliveira, gravarão um novo registro em vídeo que reunirá canções dos repertórios de ambos e cujo título, “O Samba me Cantou”, já ressalta o conceito do projeto.
· O compositor Paquito ainda não foi descoberto pelo grande público, embora já possua canções gravadas por Maria Bethânia (“Brisa”) e Daniela Mercury (“Ninguém Atura”, parceria com Roberto Mendes). Baiano arretado, ele acaba de lançar o seu segundo CD intitulado “Bossa Trash”. Nele, o artista apresenta um punhado de canções que versam sobre dores de amores. Há a participação especial de Jussara Silveira no samba “Despedida”.
· Cacaso, conhecido poeta carioca, foi também o autor de várias letras de canções famosas, a exemplo de “Dentro de Mim Mora um Anjo”, “Amor Amor” e “Face a Face”, sucessos nas vozes de Fafá de Belém, Maria Bethânia e Simone, respectivamente. Falecido em 1987, ele será homenageado através de um CD tributo que deverá chegar às lojas ainda neste semestre e que trará vários bons intérpretes dando voz aos seus sempre inspirados versos. Fazem parte do seleto cast, dentre outros, Francis Hime, Fabiana Cozza, Olívia Byington, Zé Renato, Miúcha e Ná Ozzetti.
· O quarto CD da cantora Bebel Gilberto chegará em outubro às lojas européias para, somente depois, aportar nas prateleiras brasileiras. Intitulado “All in One” (canção composta pela artista ao lado do violonista Cezar Mendes), o trabalho, entre outras faixas autorais, contará com as regravações de “Acabou Chorare”, do repertório dos Novos Baianos, e de “The Real Thing”, de Stevie Wonder.
· Chegará brevemente às lojas o CD “Nego”, no qual Carlos Rennó mostrará suas versões para o português de músicas norte-americanas compostas por judeus. Com produção assinada pelo violoncelista Jaques Morelenbaum, o repertório traz, entre os artistas selecionados, nomes como Maria Rita, João Bosco, Erasmo Carlos, Carlinhos Brown e Gal Costa.
· Em plena atividade, enquanto finaliza as gravações de seu primeiro CD dedicado integralmente ao jazz (um desejo de muito tempo), Elza Soares promete para até o final do ano o lançamento do álbum intitulado “Arrepios” que gravou há dez anos com o violonista João de Aquino.
· A banda Charlie Brown Jr. está lançando um novo CD de inéditas. Produzido por Rick Bonadio, o trabalho se intitula “Camisa 10 Joga Bola até na Chuva” e marca a estreia do pessoal na gravadora Sony Music. A faixa “Me Encontra” já está tocando em algumas rádios.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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