Cantora: MARIA GADÚ
CD: “MARIA GADÚ”
Gravadora: SOM LIVRE
Quem esteve recentemente no Rio de Janeiro, decerto que pôde comprovar, assim como eu, que em cada esquina musical da Cidade Maravilhosa só se fala em uma coisa, ou melhor, mais precisamente em um nome: Maria Gadú (é, com assento agudo no “u” mesmo!). Seja em estúdios de gravação e masterização, seja nas antessalas de espetáculos, seja nas rodas dos antenados, a nome da cantora e compositora paulista que, há pouco tempo, aportou em terras cariocas é uma unanimidade. Todos se desmancham em elogios que abrangem sua voz, suas composições e sua maneira descolada (e deslocada) de se portar no palco. De fato, a artista vem conquistando um espaço cada vez maior na mídia, o que termina resvalando em uma parcela crescente de público curioso por conhecê-la.
A verdade é que, desde 2007, quando a gravadora Som Livre criou o selo Slap com o objetivo de lançar novos nomes junto ao nosso combalido cenário musical, nunca antes de viu um investimento tão alto quanto o que ora se vislumbra com Gadú. O box luxuoso que embala o seu primeiro CD (que chegou recentemente às lojas) já entrega que muito se espera dela e qualquer pessoa menos avisada já deve ter notado que o disco vem ganhando também inserções diárias nos intervalos da programação da Rede Globo.
De fato, os que ouvem (sem preconceitos estabelecidos – para o bem e para o mal) o seu álbum de estreia ficam, ao final, com uma boa impressão. A garota de vinte e dois anos que cultua (propositalmente ou não) um jeito desencanado realmente canta bem. Seu timbre é bonito, entre o suave e o levemente rouco (que nada lembra o de Cássia Eller como alguns apressadinhos de plantão já teimam em espalhar), embora não soe como nada de realmente especial. Pelo contrário, há muitas cantoras por aí com tessitura bem parecida, o que não quer dizer que ela não possua seus méritos.
Das treze faixas que compõem o repertório do álbum, oito são de sua própria autoria (sem parceiros). No geral, são canções que resultam sem maiores pretensões, mas que descem redondinhas, muito por conta dos arranjos muito bem concebidos (o ponto alto do CD, aliás), arregimentados com competência e leveza pelo produtor Rodrigo Vidal, e que contam, em suas execuções, com músicos do quilate de Fernando Caneca (guitarra), Nicolas Krassik (violino), Kiko Horta (acordeão) e Marcelo Costa (percussão). As letras não possuem a pretensão de trazer grandes inovações, mas cumprem o papel de suporte para melodias que resultam fáceis de se assimilar, o que é um ponto bastante positivo.
Comparações com Marisa Monte são inevitáveis, até por conta de reais intenções, como é o caso de “Altar Particular”, uma das melhores faixas do trabalho, um samba-choro que é primo-irmão do megasucesso “De Mais Ninguém”. A canção que puxa o disco e que já toca muito em algumas rádios é “Shimbalaiê”, que Gadú informa ter composto quando tinha dez anos. Mas dentro da seara autoral, há músicas bem mais legais, como é o caso da suingante “Laranja” (que conta com a participação especial de Leandro Léo nos vocais) e de “Escudos”.
Já no campo das composições alheias, o destaque fica inevitavelmente com “Tudo Diferente” (de André Carvalho, filho do baixista Dadi), outra faixa que vem sendo bem executada. E se a releitura de Gadú para “A História de Lilly Braun” pouco acrescenta às versões anteriores, a revisita ao clássico “Ne Me Quitte Pas” (de Jacques Brel), encaminhando-o para o tango, ressalta uma intérprete criativa e segura. No final, há espaço até para um (dispensável) resgate de “Baba”, hit de Kelly Key, onde brilha o violão seguro de Eugenio Dale.
Maria Gadú é nome que surge cercado de muita expectativa. Vale a pena conhecer, mas tomara mesmo que a alardeada promessa se transforme numa definitiva realidade…
Cantora: ALCIONE
CD: “ACESA”
Gravadora: SONY MUSIC
Alcione é, das intérpretes já consolidadas da nossa música, uma das que mais vem lançando discos com frequência. Ela que começou, nos anos setenta, voltada para o samba mais tradicional e teve que, a partir dos anos noventa, voltar-se para as baladas românticas a fim de não sucumbir aos modismos do mercado, parece ter encontrado a fórmula mais fácil para continuar sendo uma boa vendedora de discos: alia as duas coisas, sambas e baladas, o que lhe permite realizar trabalhos razoáveis que alternam momentos acima da média com outros esquecíveis.
Este poderia ser também o resumo de uma resenha sobre o seu mais recente CD, intitulado “Acesa”, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Sony Music. Mas a Marrom (alcunha pela qual é conhecida há anos) merece um espaço maior, posto que é, ainda, hoje, uma das dez melhores vozes da nossa MPB, ainda que, no disco recém-lançado, já se possam detectar alguns primeiros sinais de cansaço.
Maranhense de nascimento e mangueirense de coração, Alcione teve as noções iniciais de música com o pai que era maestro de uma banda local. Aprendeu a tocar trompete com facilidade e modelou o seu canto na noite, onde se apresentou durante anos. A influência jazzística é incontestável, mas o gosto pelo samba a alçou, ao lado de Beth Carvalho e Clara Nunes, ao posto de uma das melhores sambistas que nosso país já teve. Ao longo da vitoriosa carreira, ela foi premiada com vários discos de ouro, dois de platina e um duplo de platina e não há quem não saiba cantarolar os seus maiores hits como, por exemplo, “Sufoco”, “Não Deixe o Samba Morrer”, “Gostoso Veneno”, “Garoto Maroto” e “Nem Morta”.
O 34º álbum chega às lojas alavancado pela ótima receptividade da faixa “Eu Vou Pra Lapa” (de Serginho Meriti e Claudinho Guimarães), estrategicamente incluída na trilha sonora da recém-finda telenovela global “Caminho das Índias” e faz-se justo ressaltar que ele resulta bem superior ao seu antecessor, o apenas mediano “De Tudo que Eu Gosto”, lançado em 2007. Com produção assinada por Jorge Cardoso e composto por quatorze faixas, o CD encontra os seus melhores momentos nas duas canções assinadas por Telma Tavares (a faixa-título, parceria com Roque Ferreira, e “Nair Grande”, composta ao lado de Paulo César Feital, uma homenagem à lendária integrante do Bloco dos Arengueiros).
Já na canção que abre o trabalho, a balada com ares de tango “Eu Não Domino Essa Paixão” (de Paulinho Resende e Nenéo), Alcione deixa clara a sua predileção pelos tons altos e pelas interpretações over, como se constata também, e em maior grau, através da despudoradamente romântica “Quem Dera” (de Reinaldo Arias e Paulo Sérgio Valle). Entre insuspeita toada assinada pelo ainda pouco conhecido Carlinhos Veloz (a bonita “Imperador Tocantins”) e um partido alto da melhor cepa (“A Casa da Mãe da Gente”, de Júnior Rodrigues e Gilson Nogueira), a cantora recebe com evidente alegria seus convidados especiais: Wilson Simoninha (em “Chutando o Balde”, um quase rap de autoria de Nei Lopes) e o grupo Revelação (em “O Samba Me Chamou”, de Marquinho PQD e Sombrinha).
Não é ainda o grande disco que Alcione deve ao seu público, mas ao menos comprova que a artista não se acomodou, o que, em se tratando dos tempos atuais, já é uma coisa a muito se considerar…
N O V I D A D E S
· Já está nas lojas o CD “Página Central”, um lançamento da gravadora Biscoito Fino que reúne os talentos de Celso Fonseca e Marcos Valle. Ancorado em seus instrumentos de coração (violão/guitarra e piano/teclados fender Rhodes, respectivamente), o trabalho é composto por doze faixas, cinco delas instrumentais. Destas, o destaque maior fica, sem sombra de dúvida, com a interessantíssima faixa-título. Dentre as cantadas, o melhor momento é a bela e suave “Curvas do Tempo”, mas há bons sambas (“Vim Dizer Que Sim” e “No Balanço do Meu Samba”), bossas (“Azul Cristal” e “Quase Perto”) e pop (“Pra Tocar Assim”). Patrícia Alvi é a convidada especial da boa faixa “Ela É Aquela”.
· É também a gravadora Biscoito Fino a responsável pelo lançamento do Volume II do projeto “Zoombido”, desenvolvido por Moska, a partir do programa homônimo que ele apresenta no Canal Brasil, da Globosat/Net. Dessa edição participam Zélia Duncan, George Israel, André Abujamra, Frejat, Toni Garrido, Leoni e Nando Reis. São quatorze faixas, duas apresentadas por cada um dos artistas participantes. Moska canta uma com cada um dos convidados. Como as músicas são apresentadas apenas acompanhadas por violão, em alguns momentos torna-se nítida a limitação vocal de alguns deles.
· A cantora baiana Sylvia Patrícia está em estúdio de São Paulo terminando de gravar seu sexto disco, o qual contará com a participação do bandolinista Armandinho na faixa “Samba da Janela”.
· A gravadora EMI contratou Benito Di Paula para lançar CD e DVD registrados durante show recentemente realizado. Embora haja, no repertório, a inclusão de quatro novas canções (“Pagode da Cigana”, “Ficar Ficamos”, “Quero Ser Seu Amigo” e “Unidos de Tom Jobim”), a base do trabalho será essencialmente a revisita a sucessos do passado, a exemplo de “Retalhos de Cetim”, “Mulher Brasileira” e “Tudo Está no Seu Lugar”.
· Carlinhos Brown sai de sua praia baiana no próximo CD que chegará às lojas em outubro, mergulhando de cabeça no rock, ritmo que o influenciou bastante do começo da carreira. Nas doze faixas no novo trabalho, ele se faz acompanhar pela banda Mar Revolto.
· O primeiro CD da cantora Érika Martins acaba de chegar, enfim, ao mercado, após cinco anos da dissolução da banda Penélope, da qual ela era a vocalista. É um disco de pegada pop-rock. Érika canta legal e a produção dividida entre Carlos Eduardo Miranda, Constança Scofield e Tomás Magno soa eficiente, mas esses fatores não são suficientes para esconder a superficialidade de algumas das onze faixas que compõem o repertório. A canção escolhida para puxar o trabalho é “Lento” (que conta com a participação especial de Julieta Venegas e Jorge Villamizar), mas o ponto alto do álbum é, de fato, a ótima “Sacarina” (de Pedro Veríssimo e Iuri Freiberger). Entre influências da Jovem Guarda (“Música de Amor”) e pegadas mais fortes (“Quando Sim Quer Dizer Não”), há resgate de tema obscuro de Raul Seixas em parceria com Mauro Motta (“Ainda Queima a Esperança”) e canção da lavra do cultuado moderninho Kassin (“Kung Fu”).
· Caetano Veloso, Beth Carvalho, Arlindo Cruz e a Velha Guarda do Império Serrano estiveram presentes no palco do Canecão onde foi registrado o show que se transformará no primeiro DVD de Dona Ivone Lara. A octogenária artista (ela está com exatos oitenta e sete anos) fez uma retrospectiva de sua vitoriosa carreira, interpretando com galhardia os seus maiores sucessos.
· O selo Discobertas, dentro da série “Letra & Música”, lança mais uma homenagem a um grande artista. Desta feita, o tributo é para John Lennon que ganha álbum dedicado à sua obra, o qual conta com a inclusão de fonogramas interpretados, entre outros, por Titãs (“Balada de John e Yoko”), Leila Pinheiro (“My Life”), Zé Ramalho (“Jealous Guy”), Paulo Ricardo (“Imagine”), Verônica Sabino (“Demais”) e Ronnie Von (“Meu Bem”).
· Rita Lee e Maria Rita são as estrelas confirmadas no novo CD de Ed Motta. Intitulado “Piquenique”, o trabalho contará com as vozes das citadas cantoras nas faixas “Nefertiti” e “A Turma da Pilantragem”, respectivamente.
· O quinto álbum da sambista Teresa Cristina já começa a ser formatado. Com repertório basicamente autoral, o disco contará com a participação do Grupo Semente e trará a primeira parceria da artista com Arlindo Cruz (“Oferendas”).
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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