R E S E N H A 1 Cantora: ANA CAROLINA CD: “ANA CAR9LINA + UM” (Multishow Registro) Gravadora: SONY MUSIC A mineira Ana Carolina é, sem sombra de dúvida, uma das artistas mais populares da atualidade no Brasil. Vende discos pra caramba e seus shows são sempre superlotados. No segundo semestre do ano passado, ela lançou um CD intitulado “N9ve” com produção grandiosa e que trazia as participações especiais dos artistas internacionais John Legend e Esperanza Spalding. Pouquíssimo tempo depois, ainda para aproveitar as vendas de Natal, a artista pôs nas lojas um novo projeto: CD e DVD oriundos de registro ao vivo feito em belo ambiente campestre onde ela recebeu vários nomes da nossa MPB como convidados especiais. Embora muitos não tenham entendido de pronto o que possa ter feito a cantora lançar dois trabalhos consecutivos tão próximos um do outro, a resposta parece bastante simples. É que Ana é esperta e sabe que tudo no mundo é cíclico, ainda mais no plano das artes, terreno dos mais subjetivos em todos os aspectos. Assim, tenta sabiamente aproveitar o mais que pode do ótimo momento pelo qual passa a sua carreira. Carreira essa, aliás, que chegou à primeira década de existência. Talvez por conta disso é que o título do novo produto seja “Ana Car9lina + Um”. Ele chegou às lojas através da gravadora Sony Music e integra também a série “Multishow Registro”. Composto por apenas dez faixas, o CD poderia ter tido o seu repertório formatado com canções que se transformaram em sucesso durante esses dez anos, caso o objetivo fosse dar ao trabalho um caráter retrospectivo. Ana, no entanto, resolveu fugir dessa obviedade e concentrou as canções escolhidas naquelas gravadas em seus dois últimos discos. Produzido por Alê Siqueira e com imagens registradas com esmero por Monique Gardenberg, o projeto desce redondinho. Os arranjos das músicas tiveram a pegada amenizada, o que lhes conferiu uma roupagem em que os detalhes podem ser detectados com maior facilidade. Ancorada por uma banda base formada por músicos de ponta (Pedro Baby na guitarra, André Rodrigues no baixo, Marcelo Costa na bateria, Danilo Andrade nos teclados e Leonardo Reis na percussão), Ana se mostra uma perfeita anfitriã, controlando, inclusive, seus costumeiros arroubos interpretativos para dividir os holofotes com seus convidados. Estes, em geral, se mostram adequados às canções que lhes foram conferidas. E se Maria Bethânia faz-se presente em nova versão da bela guarânia “Eu Que Não Sei Quase Nada do Mar”, parceria de Ana com Jorge Vercillo (incluída no CD “Pirata”, lançado pela baiana em 2006), a cantora do momento Maria Gadú põe sua voz rouca a serviço da inédita “Mais Que a Mim”, pseudo-blues que resultou de sobra do repertório do álbum anterior. Nomes que já tiveram suas trajetórias entrelaçadas com a de Ana também estão lá, como é o caso de Antonio Villeroy (autor de “Garganta”, o primeiro grande sucesso da cantora) em “Heroína e Vilã”, dele próprio (aliás, a única faixa que não conta, nos créditos, com o nome de Ana como autora), e Seu Jorge (que, em 2005, já dividiu um disco com ela) no interessantíssimo samba “Tá Rindo, É?”. Os sambas, diga-se de passagem, compõem a maior parte do repertório e trazem Luiz Melodia em nova roupagem de “Cabide” (já eternizada na gravação original de Mart’nália), Gilberto Gil em “Torpedo” (arriscando-se em improvisos no final, mesmo com a voz ainda não completamente em forma) e Roberta Sá (conferindo interessantes tintas a “Milhares de Sambas”, boa canção que, de certa forma, havia passado batida quando do seu lançamento no CD duplo “Dois Quartos”, lançado por Ana em 2006). Dois dos melhores momentos ficam por conta da suavidade emprestada por Zizi Possi a “Ruas de Outono”, que ilumina o tema com sua abençoada voz, e “Homens e Mulheres”, um hino à diversidade sexual que ganha a apropriada presença de Ângela Ro Ro. Completa o repertório a faixa “8 Estórias”, única que Ana interpreta sozinha. Trata-se de um trabalho bem legal e que certamente venderá muito bem. Palmas para a antenada Ana Carolina! Cantor: CAUBY PEIXOTO CD: “CAUBY INTERPRETA ROBERTO” Gravadora: LUA MUSIC No apagar das luzes de 2009, chegou às lojas, através da gravadora Lua Music, o CD “Cauby Interpreta Roberto”, no qual o famoso cantor de voz grave, sob a produção de Thiago Marques Luiz, homenageia o cancioneiro do Rei através de uma dúzia de canções, todas elas parcerias com o amigo de todas as horas Erasmo Carlos (tanto que soaria mais justo se o título do trabalho fosse “Cauby Interpreta Roberto & Erasmo”). Cauby é intérprete de incontestável talento, possuidor de um timbre peculiaríssimo e dono de uma voz de grande extensão. Às vésperas de completar inacreditáveis setenta e nove anos (no próximo dia dois de fevereiro), é lógico que o peso do tempo já se faz sentir em sua potência vocal. Os grandes arroubos interpretativos já se tornaram raros e, neste novo trabalho, os tons foram abaixados. Nada que macule, no entanto, esse agradável disco que tem como missão principal revelar às novas gerações o talento inato de Cauby. Nascido numa família de músicos (ele é sobrinho do grande pianista Nonô e primo do também cantor Ciro Monteiro, um dos ases do samba sincopado), ele sempre soube que havia nascido para as artes. Na juventudade, chegou a trabalhar no comércio até começar a participar de programas de calouros no rádio em 1949, no Rio de Janeiro. O primeiro disco saiu em 1951, mas o primeiro grande sucesso só viria tempos depois, com o estouro de “Blue Gardenia”, versão brasileira da música cantada por Nat King Cole. Não foi preciso muita coisa para que Cauby se transformasse em ídolo, atuando especialmente na Rádio Nacional e colecionando hits como, por exemplo, “Conceição” (de Jair Amorim e Dunga), “Molambo” (de Jayme Florence e Augusto Mesquita) e “New York, New York” (do repertório de Frank Sinatra). Mas os movimentos musicais da Tropicália, da Jovem Guarda e da Bossa Nova surgiram com força total na década de sessenta e relegaram, por tempos, os grandes cantores de outrora a um segundo plano. Cauby sentiu na pele essa bordoada até que, em 1980, ganhou de presente de Chico Buarque a pérola “Bastidores”, integrante do disco “Cauby! Cauby!”, comemorativo, à época, dos vinte e cinco anos de sua carreira. Voltou a ser comentado e, de lá para cá, tem gravado de maneira esporádica, chegando a realizar álbuns memoráveis, como o que dividiu com a cantora Selma Reis (“Vozes”) e o que mergulhou de cabeça no samba (“Meu Coração É um Pandeiro”). Para o CD ora em resenha foram pinçadas canções bastante conhecidas gravadas por Roberto. Os arranjos são o ponto alto do trabalho, feitos sob medida para que Cauby possa mostrar aquilo que sabe fazer com destreza: cantar e cantar e cantar. Já na faixa de abertura, “Proposta”, o ouvinte constata se tratar de um disco onde predomina a elegância musical. Seguem-se bons momentos como o dançante fox “Música Suave”, a bonita “Desabafo” (em registro puxado para o tango) e a inspirada “Olha”, na qual Cauby se faz acompanhar unicamente pelo piano de Keco Brandão. E se há espaço para a erótica “Os Seus Botões”, também se faz presente “De Tanto Amor”, canção de delicada tessitura harmônica. Ao final, quando entoa os versos de “O Show Já Terminou”, fica a certeza de que, num país de grandes vozes de mulher, Cauby Peixoto já tem lugar cativo no panteão das vozesmasculinas mais bonitas da história da nossa música popular. Corra e ouça! N O V I D A D E S · Nossa Coluna registra com pesar o passamento recente de João Mello, grande músico, compositor e produtor musical que deu vez e voz a nomes famosos, tais como Djavan e Jorge Ben Jor. Baiano de nascimento e sergipano de coração, ele deixou uma obra musical admirável. · Zeca Baleiro lança CD e DVD intitulados “O Coração do Homem-Bomba – Ao Vivo Mesmo”. Como o título já entrega, o produto tem seu repertório baseado nos dois volumes do seu projeto anterior. Das quatorze canções do disco, metade foi registrada durante a realização de show em Belo Horizonte (MG) e as outras sete resultam de gravação ao vivo ocorrida em estúdio. Dentre os destaques estão as faixas “Tacape”, “Você É Má” e “Era”, as duas últimas parcerias com Joãozinho Gomes e Wado, respectivamente. · Chegou recentemente às lojas, em dez volumes, a coletânea intitulada “Dois Gênios”. Cada CD reúne canções criadas por dois compositores nas vozes de diversos artistas da nossa música popular. Dentre os autores selecionados estão Caetano Veloso, Herivelto Martins, Ary Barroso, Cazuza, Luiz Gonzaga e Pixinguinha. Já entre os intérpretes podem ser encontrados Gilberto Gil, Marina Lima, Gal Costa, Maria Alcina e Zezé Motta. Trata-se de um lançamento da gravadora Warner Music. · A trilha sonora da recém-lançada telenovela global “Tempos Modernos” conta com vários fonogramas selecionados entre gravações mais antigas (“O Segundo Sol”, na voz de Cássia Eller) e recentes (“Inquieta, Tonta e Encantada”, com Maria Rita, pinçada do CD “Nego”). O tema de abertura ficou por conta de “Cérebro Eletrônico”, canção de Gilberto Gil regravada pela cantora Myllena, revelação do quadro “Garagem do Faustão”. · Se vivo estivesse, este ano Renato Russo estaria por completar cinquenta anos. Por conta dessa data fechada, algumas homenagens ao eterno vocalista da banda Legião Urbana já começam a ser formatadas, todas ainda correndo em segredo. Uma delas, no entanto, já se faz ventilada no meio musical: trata-se de um projeto de duetos do artista com outros nomes do nosso cancioneiro, logicamente criados virtualmente com recursos tecnológicos. · ”Do Mundo” é o título do primeiro CD do cantor Denilson Santos. Com um timbre de voz que lembra, em algumas passagens, Danilo Caymmi, e em outras, Oswaldo Montenegro, o artista realizou um trabalho bem bacana que alia bem-vindas regravações (entre elas “Caminhos do Coração”, de Gonzaguinha, e “Tranquilo”, de Kassin) a bons temas inéditos assinados por ele ao lado das parceiras Luhli (“Pelo Ar” e “Bate na Madeira”) e Maria Olívia (“Cuida de Mim”). Vale a pena conhecer! RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
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