M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 CD: “UMA GERAL DO AZEVEDO” (em 2 volumes) Gravadora: INDEPENDENTE Pernambucano de Petrolina, Geraldo Azevedo fez parte do boom de artistas nordestinos que invadiram com força total a MPB no finalzinho da década de setenta. O Brasil ainda vivia os chamados anos de chumbo e a produção cultural era prolífica, especialmente na área musical. Foi nesse período de grande aceitação por parte de um público ávido para conhecer novidades que advieram, além dele (ou junto com ele), Fágner, Elba Ramalho, Ednardo, Amelinha, Alceu Valença, Belchior e Zé Ramalho, nomes que, cada um à sua maneira, souberam construir carreiras de maneira que até hoje, em maior ou menor grau, são lembrados por todos os que cultuam a música popular de qualidade. Geraldo mudou-se ainda jovem de sua terra natal para Recife (PE), onde integrou o grupo Construção do qual também faziam parte Naná Vasconcelos, Teca Calazans e dois dos membros do Quinteto Violado, Marcelo Melo e Toinho Alves. Em seguida, logo que chegou ao Rio de Janeiro, passou a fazer parte da banda que acompanhava o compositor Geraldo Vandré, uma das vozes de maior calibre que se insurgiu contra a ditadura (com ele compôs a obra-prima “Canção da Despedida”), até que, em 1972, gravou o seu primeiro disco, um trabalho dividido com o conterrâneo Alceu. A partir daí, teve várias de suas canções registradas por diversos intérpretes e algumas delas chegaram, inclusive, a fazer parte de trilhas sonoras de telenovelas, o que certamente ajudou a que ele obtivesse um reconhecimento maior. Algumas de suas criações – é fato – fazem parte do inconsciente coletivo e já têm lugar de honra dentre as top do cancioneiro nacional, como é o caso de “Dia Branco”, “Moça Bonita”, “Táxi Lunar”, “Caravana” e “Bicho de 7 Cabeças”. No quesito criação, ele tanto compõe sozinho quanto em parcerias e, quando assim o faz, tem os nomes de Geraldo Amaral, Fausto Nilo e Capinam como os colaboradores mais constantes. É esse artista que fez chegar recentemente às lojas, nos formatos DVD e CD’s (estes em 2 volumes vendidos separadamente) o seu mais novo projeto. Sugestivamente intitulado “Uma Geral do Azevedo”, trata-se de um trabalho de cunho revisionista em que ele faz um apanhado da carreira, registrando boa parte de seu repertório com novas roupagens. Do set list apresentado, apenas duas canções são inéditas: o xote “É Minha Vida” e o frevo “É o Frevo, É Brasil”. Gravado ao vivo durante show realizado em novembro de 2008 no Circo Voador (RJ), o projeto traz à tona o artista inspirado que contribuiu com sua arte caracterizada pela mistura de ritmos (samba, forró, frevo, bossa e música negra) para que a pluralidade musical se mantivesse entre os grandes atrativos da nossa cultura. Acompanhado por uma banda grande (composta por uma dúzia de músicos) e ainda que sua voz já não possua o brilho de tempos pretéritos, Geraldo mostrou ter o público às mãos, fazendo-o cantar, por vezes sozinho, alguns de seus maiores sucessos. O grande violonista que também é serve de porto seguro para ele se mostrar à vontade tanto em momentos mais românticos (como em “Chorando e Cantando”, “Tanto Querer” e “Você Se Lembra”) quanto naqueles em que a alegria surge como atração principal (caso de “Canta Coração”, “Dona da Minha Cabeça” e “Tempero do Forró”). Enquanto aguarda o momento certo de lançar um disco que já tem pronto, gravado ao lado de convidados e cujo mote é o Rio São Francisco, Geraldo Azevedo mata a saudade de seus inúmeros fãs e com um trabalho que, ao dar uma geral na sua carreira, comprova a sua importância como criador de belas músicas. Bem legal! R E S E N H A 2 CD: “SEM PENSAR NEM PENSAR” Gravadora: INDEPENDENTE Na história da música popular brasileira, não se pode falar em música de vanguarda sem se recorrer aos nomes de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. Decerto que o segundo conseguiu um reconhecimento popular maior, tanto que. mesmo não mais estando aqui entre nós (ele partiu para o andar de cima em junho de 2003), várias de suas canções vêm sendo revisitadas frequentemente por nomes como Ney Matogrosso e Zélia Duncan. A boa nova é que alguns de seus últimos textos receberam melodia do violonista Sergio Molina que convidou a cantora Miriam Maria para interpretá-las. Após um ano de ensaios (em 2006) e da realização de mais de vinte shows em São Paulo com o intuito de testar as músicas junto ao público, eles entraram em estúdio em 2008 e gravaram, “sem cortes e sem suturas”, o repertório que veio a formar o CD “Sem Pensar Nem Pensar”, o qual chegou ao mercado, de forma independente, no segundo semestre do ano passado. Molina é compositor, instrumentista e arranjador que trafega com habilidade entre a música popular e a erudita contemporânea. Já lançou anteriormente dois discos bastante elogiados (“Reflexo Futuro” e “Planos Opostos”) e teve peças escritas e encenadas nos Estados Unidos. Formado em composição pela USP, onde também concluiu mestrado, é fã da obra de Itamar desde que o assistiu pela primeira vez quando tinha quatorze anos. Já Miriam integrou, no começo de sua carreira, o grupo Orquídeas do Brasil, o qual chegou a acompanhar Itamar em shows e gravações na década de noventa. Em 2000, ela lançou o seu primeiro álbum CD, o belo “Rosa Fervida em Mel”, que reuniu canções assinadas por compositores à época emergentes e que hoje se consolidaram como respeitados talentos da nossa MPB (Chico César, Lenine e Zeca Baleiro). Versátil, Miriam também já participou, no teatro, de montagens como “Elas por Ela” (de Ivaldo Bertazzo, estrelada por Marília Pêra), além de ter sido uma das pastorinhas da Companhia Circo Branco, de Romero de Andrade Lima. Juntos e acompanhados por uma banda formada por Clara Bastos (contrabaixos acústico e elétrico), Mariô Rebouças (piano) e Priscila Brigante (bateria e percussão), os dois mergulharam de cabeça nesse projeto que resultou em um CD interessante que pode não agradar a todos facilmente, mas decerto se torna, desde já, um trabalho de fato importante. A obra musical de Itamar sempre oscilou entre canções mais palatáveis ao ouvido médio e outras com fortes tendências experimentais. Suas letras geralmente aliam fartas doses de inteligência e originalidade e oscilam entre versos curtos e diretos e achados poéticos que, baseados numa idéia única, desenvolvem-se como um novelo. Não deve ter sido tarefa fácil, portanto, para Molina musicar os escritos que a ele foram ditados pelo próprio Itamar ao telefone, mas o seu maior mérito reside exatamente na forma como ele o fez: conhecedor do estilo do ídolo, construiu melodias que, de uma forma ou de outra, terminam remetendo ao seu universo musical. O próprio Molina reconhece, elegante, que: “As surpresas poéticas que regiam a métrica irregularmente ritmada pediam diferentes processos de atrelação melodia-letra”. Miriam, por sua vez, intérprete talentosa e de fartos recursos vocais, afinadíssima e dona de belo timbre, se mostra segura, mesmo quando se depara com construções harmônicas que passam ao largo do óbvio. Ao final, o álbum apresenta ótimo material. Entre as dezesseis faixas merecem especial destaque: “Não Importa”, “Autorização”, “Ai de Mim!”, “Penso Logo Sinto” e “Prezadíssimos Ouvintes” (esta uma parceria de Itamar com Domingos Pellegrini). Um CD que merece ser conhecido com atenção! N O V I D A D E S · Mais uma edição da série “Letra & Música” do selo Discobertas chegou ao mercado. Desta vez, trata-se de uma compilação de artistas nacionais cantando o repertório de Stevie Wonder (seja em suas letras originais, seja em versões). Dentre os fonogramas selecionados estão “Pé na Tábua” (com Marina Lima), “O Espírito Secreto de uma Vida” (com Guilherme Arantes e Gilberto Gil), “Overjoyed” (com Alcione), “Nada Mais” (com Gal Costa) e “I Am Singing” (com Lia Sabugosa). · Compositor de sucessos como “Pra Você”, “O Moço Velho” e “Vamos Dar as Mãos”, o também cantor Silvio Cesar lançou recentemente, de maneira independente, um novo CD batizado com seu nome. Muito bem acompanhado por músicos como João Carlos Coutinho (teclados), Claudio Infante (bateria), Widor Santiago (sax), Rômulo Gomes (baixo) e Paulinho Trompete (flugelhorn), o artista reuniu onze composições com o objetivo de mostrar sua mais recente safra autoral. Dentre os destaques apresentam-se as faixas “Não Nasci Pra Jogador”, “Saudade do Futuro” e “Eu Estou Zen”, além da oportuna regravação de “Levante os Olhos”. O álbum conta com as participações especiais de Jorge Vercillo, Leny Andrade e Altay Velloso em “Você Sabe”, “Você Não Sabe Nada” e “Oração”, respectivamente. · Preparando-se para o Carnaval de Salvador, Carlinhos Brown tem encontrado tempo em sua atribulada agenda para compor a trilha sonora do filme “Capitães de Areia”, baseado no livro homônimo de Jorge Amado e que trará na sua direção Cecília, neta do famoso escritor baiano. · Mônica San Galo é irmã de Ivete Sangalo, mas é impressionante como em várias passagens de seu CD de estreia (intitulado “Confissões de Madame”), o qual chegou recentemente às lojas através da gravadora Universal, o seu canto lembra o de Fafá de Belém, não somente pelo timbre, mas pela forma como ela projeta a voz e prolonga as notas finais de cada verso, o que se constata, por exemplo, através de canções como “Proibido”, “Súplica” e “Exorcismo”. Gravado ao vivo no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), o álbum é composto por dezessete faixas, todas elas de autoria da própria artista, que se arrisca tanto na construção de melodias quanto na escrita das letras. Delas, apenas duas são parcerias: “Choro Novo, Amor Antigo” (com Duarte Velloso) e “Tango Para Madame” (com Saulo Gama). São em geral boas canções que resultam em um repertório eclético, o qual, se não chega a arrebatar o ouvinte, também não faz feio. Já na faixa de abertura, “Duas Mulheres”, a intérprete dá pistas do estilo over de cantar, explicitado também em “Jogar o Sério” e “Ânima”. O resultado, no entanto, soa melhor quando ela se faz mais contrita, como em “Serenata” e “Carta de Amor”. Mas é inegável que Mônica canta com sentimento e que possui voz com bom alcance. Se, em futuros trabalhos, vier revestida por uma produção mais caprichada, decerto que poderá conquistar o seu público particular. Alguns dos destaques do CD ficam por conta de “Samba da Vizinha”, “Rio Vermelho” e “Contradança”. · Sambista de carteirinha e fornecedor de canções para vários dos novos nomes do cenário atual da nossa música, Toninho Geraes lança, de maneira independente, o seu primeiro CD. Intitulado “Preceito” e produzido por Milton Manhães, o álbum é composto por quatorze faixas, sendo que a única não autoral é “Oxossi” (unicamente de Roque Ferreira, que também comparece como colaborador em outros momentos). As demais são assinadas pelo próprio Toninho ao lado de diversos parceiros, tais como Sergio Caetano, Paulinho Rezende, Nelson Rufino, Adalto Magalha e Serginho Meriti. Moacyr Luz é o convidado especial em “De Bar em Bar” e Dunga comparece em “Partido Remendado”. Entre os destaques estão a deliciosa “São Longuinho”, a inspirada “Pago Pra Ver”, o batuque “De Maré” e a bonita “Choro de Alegria”. É samba de raiz de primeira qualidade emoldurado por voz e estilo característicos! RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
Cantor: GERALDO AZEVEDO
Artistas: MIRIAM MARIA e SERGIO MOLINA
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