L A N Ç A M E N T O 1 Cantor: NEY MATOGROSSO CD: “CANTO EM QUALQUER CANTO” Gravadora: UNIVERSAL Ney Matogrosso é um dos nomes de ponta da nossa música popular brasileira. Inquieto, nunca se acomodou e está sempre pronto a incorporar ao seu canto criações de compositores ainda não tão conhecidos. Tal característica, aliada à ousadia inata, remonta ao início de sua carreira quando surgiu, seminu e fantasiado de penas multicoloridas, como vocalista do grupo Secos & Molhados. De lá para cá, Ney já lançou diversos discos, alguns voltados para as obras de grandes artistas como Chico Buarque, Tom Jobim e Cartola. No ano passado, juntou-se à banda Pedro Luís e a Parede e lançou um álbum sensacional. Agora, acaba de chegar às lojas o seu mais novo trabalho, um CD extraído do especial de fim de ano levado ao ar pelo Canal Brasil. Gravado ao vivo no SESC Pinheiros, em São Paulo, trata-se de um trabalho simples e arrebatador em iguais proporções. Simples porque Ney mostra o seu canto da forma mais pura possível, cercado apenas por cordas (violão, viola, guitarra e alaúde) executadas magistralmente pelos exímios músicos Marcello Gonçalves, Pedro Jóia, Ricardo Silveira e Zé Paulo Becker. Arrebatador porque empolga da primeira à última faixa, seja através de canções mais suaves, seja através de músicas mais impactantes. Ney tem o dom de se agigantar no palco e isso passa para o CD de forma inconteste. Também é sua característica a sabedoria quanto à escolha do repertório. Desta forma, ele consegue passear por várias etapas de sua vitoriosa carreira e dosa com maestria, emolduradas por novos arranjos, tanto hits como “Tanto Amar” (de Chico Buarque), “Bandoleiro” (de Luli e Lucina) e “Bamboleô” (de André Filho), como alguns deliciosos lados B, tais como “Ardente” (de Joyce), “Dos Cruces” (de Carmelo Lorrea) e Retrato Marrom (de Rodger Rogério e Fausto Nilo). Mas, esperto que é, dá vida também a duas canções anteriormente gravadas pelas cantoras Ná Ozzetti e Rita Lee, transformando-as nos dois melhores momentos do disco: a bela faixa-título (uma parceria da própria Ná com Itamar Assumpção) e a deliciosa “Já Te Falei” (de Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown e Dadi Carvalho). Para completar, há ainda duas boas inéditas, ambas de autoria do violonista Pedro Jóia em parceria com o poeta Tiago Torres da Silva: “Uma Canção Por Acaso” e “Duas Nuvens”. O CD resulta em um registro memorável do grande artista que parece não cansar de se reinventar e torna-se obrigatório em qualquer cedeteca que se preze! próximo… L A N Ç A M E N T O 2 Cantora: CECÍLIA LEITE CD: “CECÍLIA LEITE” Gravadora: INDEPENDENTE A garota canta bem pra caramba! E veio cercada de feras… Em seu primeiro CD, gravado de maneira independente, Cecília Leite conta, pra começo de conversa, com a participação especial de Chico Buarque que, não somente cantou com ela a versão de “Eu Te Amo” (parceria dele com Tom Jobim), como também transportou, ele próprio, para o francês a bela letra da canção que virou “Dis-mois Comment”. Mas não é só! Acompanhada com músicos do calibre de Leandro Braga (piano), João Lyra (violão), Guello (percussão) e Lui Coimbra (cello), entre outros, Cecília construiu um disco simplesmente adorável. O bom gosto musical ressalta da primeira à última faixa. A cantora escolheu a dedo os compositores por cujas obras fez passear a sua clara e melodiosa voz, malemolente nos momentos certos, criativa e cheia de ginga quando lhe pediu a emoção, colocando, desta forma, o repertório como o ponto alto desse seu trabalho inaugural. Assim, entre mais duas belas obras do poeta maior do nosso cancioneiro (“A Mais Bonita” e “Choro Bandido”, esta em parceria com Edu Lobo), Cecília empresta sua precisa interpretação aos emocionantes versos de Zé Miguel Wisnik (“Assum Branco”), ao balanço de César Nascimento (“Fogueira”) e à pluralidade rítmica de Amado Régis (“O Samba e o Tango”), todas elas em inspiradas releituras. Em outros dois ótimos momentos do disco, resgata o bem-humorado maxixe “Na Cabecinha da Dora” (Antônio Vieira e Pedro Giusti) e traz de volta para a linha de frente a memorável “Daquele Amor, Nem Me Fale” (rara parceria de João Donato com Martinho da Vila, gravada anteriormente por Elza Soares). Mas se nenhum outro mérito tivesse, o CD de Cecília Leite já teria valido a pena por ter revelado um novo e excelente compositor. Trata-se de Bruno Batista, o qual comparece com duas canções (“Já Me Basta” e “Aço”), justamente elas os dois maiores destaques deste surpreendente álbum. Um excelente começo! N O V I D A D E S · Na próxima quinta-feira, a partir das 21 horas, no Capitão Cook, estará se apresentando o trieto Café Pequeno. Em apresentação especialíssima, o grupo instrumental formado pelos músicos Guga Montalvão (no violão), Júlio Vasconcelos (na gaita) e Pedrinho Mendonça (na percussão) estará mostrando o seu belo trabalho, o qual alia a execução de músicas conhecidas (mas revestidas de arranjos personalíssimos) com a de outras da própria autoria dos rapazes. Imperdível! · Na próxima sexta-feira, na cidade de Pirambu, estará se iniciando o novo Projeto Assaim de Música. Todas as sextas-feiras (até o mês de fevereiro do próximo ano) dois artistas sergipanos estarão no grande palco armado na orla, mostrando os seus trabalhos. A iniciativa (que conta com o apoio do Banese e da Prefeitura daquele Município) veio em boa hora para movimentar o marasmo em que se encontra o cenário atual da música sergipana. A apresentação de estréia vai contar com as participações da cantora Amorosa e do cantor pirambuense Décio. Concomitantemente, haverá feira de artesanato e exposições de telas e esculturas. Se eu fosse você, já estava lá! · Juliana Diniz é a nova grande aposta do samba. Com o DNA no sangue (já que é neta de Monarco e filha de Mauro Diniz), está lançando o seu primeiro CD pela gravadora Universal. A moça se configura numa ótima revelação: com sua voz doce e afinada, parece talhada para cantar as canções escolhidas para o repertório que conta, inclusive, com presentes inéditos que ganhou de “feras” do gênero, como as boas “Coração aos Saltos”, de Paulinho da Viola, “Nunca Mais Ter Que Sentir Saudade”, parceria de Zeca Pagodinho (um dos produtores do disco) com Jorge Aragão, e “Eu Sonhei Com Você”, de Marisa Monte e Arnaldo Antunes. Mas há outros grandes destaques. Exemplo disso é a belíssima “Amor Proibido”, de Manacéa, primeira faixa de trabalho e que já toca nas rádios mais antenadas. A envolvente “Nos Braços da Batucada”, de Arlindo Cruz, e a singela “Para Ficar”, de Rildo Hora (o outro produtor do álbum) também se mostram canções muito bacanas. · Também via Universal termina de chegar às lojas mais um CD de Orlando Morais. Casado com a atriz Glória Pires, o cara é muito bom compositor, conforme já ficou comprovado através de belas canções incluídas em alguns de seus trabalhos anteriores, como “Logrador” e “O Circo”, ambas também já gravadas pela voz poderosa de Maria Bethânia. Com parcerias com nomes como Caetano Veloso e Cazuza, o artista, todavia, deu uma derrapada neste novo álbum. O repertório é bastante irregular e, atirando em todas as direções sem contar com um resquício de unidade, alterna bons momentos com faixas apenas banais. Entre homenagens explícitas ao filho Bento e à enteada Cléo e participações especiais do competente Lui Coimbra (cello na regravação de “Paciência”), do mestre João Donato (piano em mais um registro de “Até Quem Sabe”) e da afetada Cláudia Leite, vocalista da banda baiana Babado Novo (na inspirada “Amor de Carnaval”), o cantor de voz rouca mas timbre agradável, terminou construindo um disco que fica aquém de seus trabalhos anteriores. Entre as inéditas, merecem destaque “Esqueça” e “Diferença”, ambas de autoria do próprio Orlando, a segunda delas em parceria com o tecladista Ricardo Leão. · Fernanda Porto vai registrar show ao vivo que se transformará em CD e DVD. Estará, assim, inaugurando a série “Trama Estúdios” que a gravadora homônima pretende viabilizar, gravando discos e vídeos no estúdio como se fossem ao vivo, com custos reduzidos. · O CD de estréia do grupo Toque de Arte, que será lançado ainda este mês, conta com duas pomposas participações especiais: nada mais nada menos que os bambambãs Chico Buarque e Martinho da Vila. Um começo muito bem abençoado! · Inaugurando o Projeto “Poetas da Canção”, o SESC do Rio de Janeiro está colocando no mercado o CD “Um Pouco de Mim” do letrista Sérgio Natureza, através d qual o artista, numa espécie de songbook, mostra diversas parcerias suas com vários nomes da nossa MPB, dentre eles: Paulinho da Viola, Tunai, Sérgio Sampaio, Cristóvão Bastos, Rosa Passos e Guinga. O time de intérpretes convidados também é estelar: Zeca Baleiro, Luiz Melodia, Leny Andrade, Ná Ozzetti, Lenine e Mônica Salmaso são alguns dos presentes. Há canções mais conhecidas (“Frisson”, “Vela no Breu” e “Eternamente”, já gravadas por Ivete Sangalo, Cida Moreira e Gal Costa, respectivamente), mas os maiores destaques ficam por conta das faixas “Roda Morta”, “Interiores” e “À Margem”. No final, Sérgio Natureza declama os versos daquela que é talvez o seu maior sucesso, a canção “As Aparências Enganam”, gravada magistralmente por Elis Regina, em meio a trechos cantados pela própria Pimentinha. Uma bela iniciativa! RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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