M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 CD: “SAMBA VALENTE” Gravadora: BISCOITO FINO É, é mais um disco de samba, sim! E é de mais um filho de artista também! Agora, trata-se da cantora Dora Vergueiro, filha do cantor e compositor Carlinhos Vergueiro (parceiro, dentre outros, de Chico Buarque, Adoniran Barbosa e Toquinho), que acaba de pôr nas lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o seu novo CD intitulado “Samba Valente”, o qual foi maturado durante dois anos. É o terceiro trabalho da intérprete que aportou no mercado fonográfico em 1997 com o confuso álbum de estreia “Leve” e que, quatro anos depois, aproveitando-se da onda levantada por um programa que apresentava no Canal SporTV, lançou o equivocadamente descolado disco “Pé na Estrada”. O CD recém-lançado é, sem sombra de dúvida, o mais interessante dos três. Muito pela boa safra de onze músicas inéditas (nove delas assinadas em parceria com o pai e com Afonso Machado; as outras duas faixas, “Sem Refrão” e “Segura”, são assinadas somente por ela e Carlinhos) e também porque a cantora já se mostra bem mais segura musicalmente falando, embora não seja dona de um timbre exatamente peculiar. Não obstante esse detalhe, ela canta bem com seu sotaque fartamente carioca, soa afinada e decerto que sua presença loira de olhos claros e esguia poderá ajudá-la a, desta vez, encontrar o almejado lugar ao Sol (não foi assim que aconteceu com Diogo Nogueira?), mas é claro que para isso de fato acontecer, além também de uma boa dose de sorte, ela precisará contar ainda com um esperto e maciço apoio de marketing já que os tempos modernos assim o exigem. No entanto, mesmo sendo justo reconhecer a qualidade do novo álbum, também se faz mister constatar que o resultado soa um tanto quanto homogêneo, talvez por culpa de uma produção que não se mostrou aberta à ousadia. As músicas são bem construídas com ótimas letras (todas estas de autoria de Dora) e melodias agradáveis. Mas os arranjos que as emolduram terminam por lhes conferir um desnecessário clima repetitivo, o que, decerto, poderia ter sido evitado. Entre uma explícita e merecida homenagem ao sambista João Nogueira (em “João Mandou”) e uma ode tradicional ao ato de cantar (a faixa-título, que conta com um apropriado e adicional coro), o disco encontra os seus melhores momentos na animada “Fui”, na inspirada “Noites Frias” e na dolente “Túnel”. Dora Vergueiro apresenta um CD que, no geral, tem tudo para dar um upgrade na sua carreira. Ouça sem receio de ser feliz! R E S E N H A 2 Gravadora: UNIVERSAL O cantor e compositor Pedro Luís vive merecidamente um momento muito especial em sua carreira. Nome principal da banda PLAP (Pedro Luís e a Parece) que vem crescendo consideravelmente a cada novo trabalho, já tendo, inclusive, dividido um belo CD com Ney Matogrosso (“Vagabundo”, de 2004), ele também é um criador compulsivo de canções, seja sozinho ou ao lado de parceiros, tendo várias delas sido registradas por nomes importantes da nossa MPB. Casado com a cantora Roberta Sá, certamente a mais cultuada da geração atual de intérpretes brasileiras, Pedro também é um dos líderes do Monobloco, um grupo carioca que anualmente vem aquecendo as festes pré-momescas, ajudando a fomentar a redescoberta dos blocos carnavalescos. Composto pelos integrantes do PLAP e mais um punhado de gente boa, o Monobloco é hoje muito requisitado para eventos mesmo fora do período de Carnaval e vem ganhando fãs aos borbotões, além de estar despertando seguidores em vários Estados (no Rio mesmo está em ascensão o Bangalafumenga, capitaneado por Rodrigo Maranhão, o qual, guardando diferenças isoladas, segue estilo quase idêntico). É esse grupo que, através da gravadora Universal, fez chegar às lojas, poucos dias antes do recém-findo Carnaval (numa pouco inteligente jogada de marketing, vez que o interessante seria que o produto tivesse sido lançado com pelo menos um mês de antecedência, o que decerto lhe alavancaria as vendas), o CD intitulado “Monobloco 10” (uma alusão a uma década de existência), terceiro álbum do grupo e indubitavelmente o mais bem acabado sob todos os aspectos (antes, havia saído, em 2002, o primeiro disco gravado em estúdio e, em 2006, o segundo trabalho, um registro colhido ao vivo). Supostamente oriundo de registro feito durante show realizado em outubro do ano passado na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, o CD traz uma sonoridade bastante equilibrada. Um ponto a se destacar é que a forte e característica camada percussiva em nenhum momento duela com as vozes, o que – ressalte-se – já é um ganho e tanto. O CD (que também já se encontra disponível no formato DVD) é composto por quatorze faixas, as quais condensam, no total, vinte e cinco canções. E não se espere que o repertório contemple apenas temas nitidamente ligados à folia carnavalesca e que têm como base samba e frevo. Estes, é claro, se fazem presentes em alguns momentos como, por exemplo, “Vai Vadiar” (grande sucesso de Zeca Pagodinho), “Aquele Abraço” (música atemporal de Gilberto Gil), “Festa do Interior” (hit gravado por Gal Costa) e “Frevo Mulher” (pérola inesquecível na voz de Amelinha). Mas o set list é muito mais abrangente e inclui ainda músicas originalmente nascidas como forró (“Isso Aqui Tá Bom Demais” e “Eu Só Quero um Xodó”), rock (“Pro Dia Nascer Feliz”), balada (“Gostava Tanto de Você”), pop (“Pescador de Ilusões”) e até funk (“Festa no Morrão”). Plural, a galera ainda reservou espaço para canções ligadas a escolas de samba (“Exaltação a Mangueira” e “Peguei um Ita no Norte”) e abriu espaço também para marchinhas de tempos pretéritos (“Máscara Negra” e “Mulata Yê Yê Yê”). A única convidada especial do projeto é a cantora Elba Ramalho que se mostra totalmente à vontade, ajudando com sua energia única a incendiar a festa. Mesmo sem canções inéditas e agregando um repertório aparentemente tão díspar, o Monobloco conseguiu um resultado bastante legal que o ajuda a se firmar como um grande divulgador da alegria. É para dançar muito! N O V I D A D E S · Quem aprecia música instrumental de primeiríssima qualidade não deve deixar de conhecer o CD “Candeias” que a pianista Heloísa Fernandes lançou em 2009. São seis belos temas de autoria própria nas quais a exímia instrumentista se faz acompanhar pelo baixo acústico de Zeca Assumpção e pela percussão de Ari Colares. Imperdível! · Mesmo ainda sendo pouco conhecido fora do eixo Rio-São Paulo, é inegável que naquelas praças o cantor Jay Vaquer, que é filho da grande intérprete Jane Duboc, já tem um público considerável. Isso fica comprovado através do entusiasmo com que a plateia acompanha o artista em grande parte das dezenove faixas que compõem o CD “Alive In Brazil”, nas lojas desde o final do ano passado. Gravado ao vivo durante show realizado na casa de espetáculos Vivo Rio, no Rio de Janeiro, este é o quinto disco de Jay que despontou para a carreira artística quando estrelou o musical “Cazas de Cazuza”. Todas as canções são de sua própria autoria e seu som é, na maioria das vezes, marcado por arranjos bem pesados. Ele canta legal, embora soem exageradas, na impostação, as influências norte-americanas. Sua assinatura mostra-se mais nítida nas letras, geralmente vorazes e contundentes. Dentre os melhores momentos estão a inteligente “Mondo Muderno”, a ácida “Cotidiano de um Casal Feliz” e a quase romântica “Preciso Poder”. A cantora Megh Stock comparece como convidada especial na faixa “Estrela de um Céu Nublado”. · No dia 21 de março, durante as comemorações do aniversário de Recife (PE), a paraibana Elba Ramalho realizará um show no Marco Zero, o qual será devidamente registrado para se transformar em DVD. O projeto já tem confirmadas as presenças de Chico César, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. · Claudia Dorei lançou, no final do ano passado e de maneira independente, o CD “Respire”, composto por onze canções com clima que oscila entre o lounge e o trip hot tropical, como ela própria explicita na espécie de subtítulo do trabalho. Cantora de voz suave e compositora mediana, ela encontra em “Pérolas” a melhor faixa desse seu trabalho inaugural. · Nicolas Krassik é violinista francês radicado no Brasil há quase uma década. Fera no seu instrumento, ele, que já participou de vários discos, está lançando o CD intitulado “Odilê, Odilá” através do qual mergulha no universo musical de João Bosco, conferindo tintas novas a doze de suas inspiradas composições. Dentre elas estão “Linha de Passe”, “Corsário” e a pouco conhecida “Depois da Penúltima”. O homenageado participa da faixa-título e do afro-samba “Da África à Sapucaí”. · O show feito pelo grupo O Rappa, em agosto do ano passado, na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, chegará ao mercado no próximo mês, através da gravadora Warner, inicialmente somente no formato DVD. Intitulado “Registro”, trará as músicas mais conhecidas pelo grande público jovem. · A cantora norte-americana Esperanza Spalding, em alta no Brasil desde que participou do CD “N9ve” (de Ana Carolina), contará com a participação especial de Milton Nascimento na faixa “Apple Blossom” que fará parte do repertório de seu terceiro disco, o qual será duplo. O tema foi composto pela própria artista em homenagem a Bituca de quem se diz fã há muito tempo. · Chegará às lojas em abril o novo e aguardado CD do cantor Carlos Navas que trará no repertório canções assinadas, entre outros, por Fred Martins, Edu Krieger, Kleber Albuquerque e Alzira E. Intitulado “Tecido” (canção assinada por Clarisse Grova e Léo Saramago) o disco contará com a participação especial da cantora Lady Zu na faixa “Isso Não Vai Ficar Assim” (de Itamar Assumpção). · O esperado novo trabalho da sambista Teresa Cristina deve chegar ao mercado já no próximo mês através da gravadora EMI. Tendo como base o registro do show realizado pela cantora no espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, em outubro do ano passado, o projeto (que sairá nos formatos CD e DVD) contará com o auxílio luxuoso de Caetano Veloso que gravou em estúdio a sua participação vocal na faixa “Festa Imodesta”, de sua própria autoria. · A gravadora Lua Music lançará brevemente o CD que a extraordinária Elza Soares gravou ao vivo (em dezembro do ano passado no Teatro Fecap, em São Paulo) ao lado do violonista João de Aquino. No repertório, registros impagáveis para pérolas do nosso cancioneiro, tais como “Vida de Bailarina”, “Juventude Transviada”, “Cobra Caninana” e “Faceira”. RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
Cantora: DORA VERGUEIRO
Grupo: MONOBLOCO CD: “MONOBLOCO 10”
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