Cantor: WADO
CD: “ATLÂNTICO NEGRO”
Gravadora: INDEPENDENTE
Foi quando se desligou da banda Santo Samba, em 2000, que o catarinense Wado estreou de maneira solo no mercado fonográfico nacional com o disco “O Manifesto da Arte Periférica”. Alagoano de coração (ele, já há algum tempo, reside em Maceió), foi muito bem recebido pela crítica especializada, tanto que, dois anos após, já lançava um segundo trabalho intitulado “Cinema Auditivo”. Em 2004, chegou ao mercado “A Farsa do Samba Nublado”, completando de certa forma uma trilogia inicial através da qual o artista ainda formatava a sua obra, entre boas ideias e fartas doses de experimentalismo. E é assim, com inventividade ímpar, que ele vem seguindo, tanto que seu nome já é tido como um dos mais respeitados da cena indie atual. A cada novo trabalho ele consolida sua carreira, vendo se multiplicarem os admiradores, especialmente desde o lançamento de seu quarto trabalho, o amadurecido “Terceiro Mundo Festivo”.
Acaba de chegar às lojas (de forma independente) o seu quinto e ótimo CD, o qual recebeu o título de “Atlântico Negro”. Em formato SMD (comercializado, portanto, a R$ 5,00) e já disponibilizado para download gratuito no site oficial do artista, foi um dos projetos contemplados pela última edição do Projeto Pixinguinha. Nele (assim como no disco anterior), Wado se faz acompanhar por talentosos músicos, todos da cena local alagoana: Dinho Zampier no piano, Rodrigo Peixe na bateria, Bruno Rodrigues no baixo e Pedro Ivo Euzébio nas programações eletrônicas, este também o responsável pela produção do trabalho.
A faixa de abertura (“Estrada”) dá pistas de que o leque musical de Wado vem sendo aberto de forma salutar e corajosa. Trata-se de um afoxé estilizado que conta com um belo apoio vocal e tem, em seu início e no fim, versos recitados por Helder Monteiro, nativo de Guiné Bissau. Aliás, uma das características do som de Wado é a utilização de recursos os mais variados. Neste sentido, as letras curtas e marcantes surgem adornadas pela pegada de grooves espertos e o ouvinte mais atento identificará timbres ousados que conferem um molho todo especial a várias passagens do trabalho.
Enquanto compositor, o leque estilístico do artista se abre tanto para um samba de fina estirpe (“Martelo de Ogum”, que conta com a participação especial, nos vocais, de alguns artistas emergentes, tais como Rômulo Fróes, Curumin e Vera Marinho) como para uma balada de comovente inspiração (“Pavão Macaco”), dois dos melhores momentos do álbum.
No quesito voz, Wado possui um timbre pra lá de agradável e canta de uma maneira bastante peculiar sem se deixar influenciar por maneirismos que possam macular suas interpretações. É daqueles raros artistas que soam verdadeiros – e isso é artigo de luxo nos dias atuais!
Das onze faixas, nove são autorais (criadas ao lado de parceiros como o escritor moçambicano Mia Couto, Beto Brito, Fernando Coelho, Alvinho Cabral, Eduardo Bahia e o já citado Dinho Zampier). As outras duas são a folclórica “Boa Tarde, Povo” (de Maria do Carmo Barbosa) e a ácida e sarcástica “Rap Guerra do Iraque” (do MC Gil do Andaraí). Outros destaques são as canções “Jejum” (que cita “Cavaleiro de Aruanda”, de Tony Osanah, hit originalmente gravado por Ronnie Von e recentemente revisitado por Rita Ribeiro e Ney Matogrosso), “Frágil” (instante suave do CD) e o medley contagiante que reúne “Feto” e “Sotaque”.
Cruzando o oceano de sons que liga África e Brasil (o título do disco traz a lume o termo usado pelo antropólogo inglês Paul Gilroy para se referir à cultura mestiça nascida da ligação africana com as Américas), Wado dá voz a ritmos vários e passeia por levadas bem bacanas que transformam esse CD no melhor de sua discografia. Corra e ouça!
Cantores: SÁ, RODRIX & GUARABYRA
CD: “AMANHÔ
Selo: ROUPA NOVA MUSIC
Sá, Zé Rodrix e Guarabyra chegaram a formar, durante os primeiros anos da década de setenta, um trio, o qual lançou os discos “Passado, Presente & Futuro” e “Terra”, sendo considerado como o responsável pelo surgimento do chamado rock rural.
Antes disso, no entanto, os dois primeiros já atuavam como músicos e compositores individualmente: Sá tinha sido gravado por alguns cantores e Guarabyra havia ganhado um famoso festival de música com sua canção “Margarida”. Já Rodrix, que estudou no Conservatório Brasileiro de Música e na Escola Nacional de Música, havia integrado os conjuntos Momento Quatro e Som Imaginário, tendo obtido seu primeiro grande sucesso com a música “Casa no Campo” (parceria com Tavito) na interpretação definitiva de Elis Regina.
Quando, em 1973, Rodrix resolveu seguir carreira solo, os caminhos musicais dos três tomaram rumos bastante diferentes. Ele chegou a frequentar as paradas da época, com canções que ganharam o Brasil de norte a sul como “Soy Latino Americano” e “Quando Será?”, mas o fato é que conseguiu mesmo sobreviver através dos trabalhos de jingles que veio a fazer logo depois. Sá & Guarabyra, em dupla, também chegaram a emplacar diversos sucessos, os quais até hoje se encontram encravados no inconsciente coletivo nacional (“Sete Marias”, “Sobradinho” e “Espanhola” estão entre eles).
Mas como a vida é cíclica, há alguns poucos anos eles resolveram retomar o trabalho em trio e em 2008 entraram em estúdio para registrar uma nova safra de canções que resultaram no CD intitulado “Amanhã”, o qual acabou de chegar às lojas através do selo Roupa Nova Music. O que eles não contavam é que, antes mesmo do lançamento comercial do novo trabalho, Rodrix viria a falecer, o que aconteceu em maio do ano passado.
Assim sendo, o álbum ora em resenha foi o último gravado pelo artista, conhecido pela irreverência e bom humor. Com produção assinada por Tavito, é composto por doze faixas que são assinadas pelos três artistas, alternando-se em criações solo ou em parcerias que contam ainda com as colaborações de Pedrão Baldanza (em “Os Dez Mandamentos do Amor”) e Vitor Martins (em “Amanhece um Outro Dia”).
O resultado, musicalmente falando, soa de qualidade inquestionável, embora seja mister constatar que as canções apresentadas não possuem a força de algumas das compostas em épocas pretéritas. As interpretações, faixa a faixa, são soladas por um dos três artistas que, no quesito voz, se mostram em forma. Em várias passagens (geralmente nos refrões), ouve-se um trabalho voltado para a abertura de vozes e nos arranjos se destacam metais e cordas. E se na faixa “Sonho Triste em Copacabana” há a apropriada citação da famosa e bonita canção “Casaco Marrom”, em “Marina, Eu Só Quero Viver”, surgem vocais à la Golden Boys. “Novo Rio” mergulha no mesmo tema inaugurado por Chico Buarque em “Futuros Amantes”, embora sem roçar a inspiração desta e “Caminho de São Tomé” enfileira diversas mensagens de cunho positivista. Alguns dos melhores momentos do disco ficam por conta de “Nós Nos Amaremos”, “Cidades Meninas” e “Logo Eu, Saudade”.
Entre reminiscências interioranas e observações sobre o homem moderno, o CD relembra o talento de Zé Rodrix ao fechar um ciclo que, quem sabe, fará com que Sá & Guarabyra possam vir a construir um novo futuro musical.
N O V I D A D E S
· Não foi apenas Caetano Veloso quem gravou participação extra para o novo trabalho de Teresa Cristina (nas lojas muito em breve). O sambista Arlindo Cruz estará presente, dividindo os vocais de “Coisas Banais” (parceria de Paulinho da Viola e Candeia) e também Lenine, que surge como convidado especial da faixa “Trégua Suspensa” (inédita criação de Teresa com Lula Queiroga). Já Dona Hilda, mãe da cantora, soltou a voz na canção “Orgulho” (de Nelson Wederkind e Waldir Rocha).
· O carioca Marcelo Jeneci é ainda um nome pouco conhecido no circuito musical, embora já venha demonstrando inquestionável talento como compositor ao dividir parcerias com nomes como Vanessa da Mata (“Amado”), Zélia Duncan (“Todos os Verbos”) e Arnaldo Antunes (“Longe”). Agora, ele está se preparando para lançar o primeiro CD (atualmente em fase de produção), o qual se intitulará “Feito para Acabar” e virá recheado de canções inéditas.
· Como já possui um considerável número de temas compostos para trilhas sonoras de balés e de filmes, Zeca Baleiro tenciona lançar ainda este ano uma coletânea como os melhores momentos desses trabalhos. Outro projeto é o lançamento do recente registro do show “Concerto” em que o artista se fez acompanhar apenas pelos violões de Tuco Marcondes e Swami Jr. O repertório contempla revisitas a canções alheias e temas autorais inéditos.
· O compositor mineiro Sérgio Santos lança “Litoral e Interior”, seu mais novo CD que ganha caráter sinfônico em algumas faixas. Com três temas instrumentais, o repertório apresenta bons momentos com o baião “Zabumba” e o frevo “Sombrinha Branca”. A faixa-título é dedicada a Dori Caymmi e o álbum conta com a participação especial da cantora Mônica Salmaso.
· Os fãs da banda Titãs foram recentemente surpreendidos com a decisão do baterista Charles Gavin de bater em retirada. O grupo que surgiu, nos anos oitenta, com oito integrantes segue agora como quarteto já que, antes de Gavin, haviam decidido pela carreira solo Arnaldo Antunes e Nando Reis e Marcelo Fromer passou precocemente para o andar de cima em 2001. Seguem agora apenas Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto. Mario Fabre é o baterista contratado que substitui Gavin nos shows, mas sem ser oficializado no grupo.
· Outra notícia que deixou muita gente chateada foi o fim do grupo Cordel do Fogo Encantado, o que se fez motivado pela saída de Lirinha, o vocalista e mentor da galera, o qual planeja abraçar carreira solo. No entanto, a derradeira apresentação do Cordel, realizada e gravada ao vivo no Marco Zero, no Centro Histórico de Recife (PE) no mês passado, deverá ser lançada muito em breve nos formatos CD e DVD.
· Já está em fase de pré-produção o novo CD que a cantora e compositora Alzira E (irmã de Tetê Espíndola) prepara para ser lançado este ano. O repertório priorizará canções inéditas, dentre as quais “Olhos de Chico Buarque” e “Nosso Presente”, parcerias com Arruda e Alice Ruiz, respectivamente.
· E a Fundição Progresso realizou mais uma vez, no Rio de Janeiro, o Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas (que já está na quinta edição). A final teve direito a votação do público através do programa “Fantástico” da Rede Globo e ganhou a canção “Bom Dia”, do compositor estreante Renato Torres. O CD com o registro das dez melhores classificadas acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino e traz também duas faixas em que são reunidas criações de João Roberto Kelly, o homenageado do ano, interpretadas pelo próprio e por Marcos Sacramento. Dentre os destaques estão as canções “Vou Entrar no Seu Orkut”, “Dançando o Mar” e “Disfarça”. Muito bacana!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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