Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

Cantor: ANDRÉ ABUJAMRA

CD: “MAFARO”

Gravadora: TRATORE

 

Dentre os nomes dos artistas que compõem a chamada “nova música brasileira” um dos que mais têm se destacado nos últimos anos, mesmo que em circuitos alternativos e junto a críticos especializados mais antenados, é o do paulista André Abujamra. Embora sendo constatável que seu nome ainda não se faz conhecido do grande público, sua obra é fartamente admirada por diversos colegas e por aqueles aficcionados em música inteligente.

Ele é, de fato, um cara polivalente: cantor, compositor, multi-instrumentista e ator, André traz no DNA a origem de seu carisma e de sua inquietude, posto que é filho do diretor de teatro e também ator Antônio Abujamra, o inesquecível Ravengar da telenovela global “Que Rei Sou Eu?”.

Na década de oitenta, André montou, junto com Maurício Pereira, a banda Os Mulheres Negras que se autodenominava a terceira menor big band do mundo e chegou a lançar dois discos recheados de um pop rock experimental com instrumentos eletrônicos. Depois disso, durante um considerável período, ele participou do grupo Karnak que chegou a emplacar algumas canções, como as interessantes “Alma Não Tem Cor” (posteriormente regravada por Chico César e Zeca Baleiro), “O Mundo” (revisitada mais tarde por Vange Milliet e Moska) e “Espinho na Roseira” (que ganhou impagável releitura feita pelo Bando de Maria).

Quando resolveu abraçar a carreira solo, André começou a vivenciar outras experiências, as quais se fizeram acompanhar por certas dificuldades. Nada, no entanto, que o fizesse desistir de prosseguir na estrada musical. Em sentido oposto, a qualidade de álbuns como “O Infinito de Pé” (lançado em 2004 e que trouxe, entre outras boas canções, a pérola “Elevador”, incluída na trilha sonora do filme “Do Começo ao Fim”) e “Retransformafrikando” (de 2008) o vêm consolidando como um criador inventivo, desses que podem até se equivocar, mas que quando acertam beiram a genialidade.

Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Tratore, o seu mais novo CD. Intitulado “Mafaro” (que, conforme se explicita no encarte, quer dizer “alegria” na língua do Zimbabwe), o trabalho é composto por uma dúzia de canções, todas elas compostas pelo próprio artista, algumas ao lado de parceiros como o já citado Baleiro, além de Luiz Caldas, Evandro Mesquita, Xis e Curumim, todos eles presentes em participações especiais. Gravado em diversos estúdios e com a produção assinada pelo músico Sérgio Sofflatti, o CD ressalta uma variedade de influências que resultaram no caldeirão sonoro próprio. Há nítido flerte com a música oriental, mas também fica clara, em algumas passagens, uma pegada bastante regional. E as programações eletrônicas, bem como a utilização de convincente naipe de metais, duas constantes na obra de André, servem para caracterizar ideias e cristalizar intenções.

Como cantor, ele não chega a fazer feio, embora, ciente de suas limitações, frequentemente conte com o apoio de coro e dobras. Como compositor, suas criações, especialmente na parte melódica, trazem uma impressão digital que o fazem facilmente reconhecível. E se os arranjos por vezes são superiores às canções em si (caso de “Origem” e “Uma a Uma”, ambas com introduções eloquentes), os ótimos achados que resultam em canções como “Imaginação”, “O Amor É Difícil” e “Lexotan” as transformam em alguns dos melhores momentos do álbum. Há ainda passeios pelas raízes africanas (na animada “Tem Luz na Cauda da Flecha” e na calminha “Logun Edé”) e pela brejeirice pseudo-sertaneja (na múltipla “Duvião”).

Trata-se de um CD repleto de informações que vem ratificar o talento de André Abujamra. Vale a pena conhecer! 

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Uma caixa contendo três CD’s foi recentemente lançada pela gravadora Warner com o objetivo de condensar grandes momentos da obra do compositor e cavaquinista Waldir Azevedo. Intitulada “Brasileirinho”, a compilação foi idealizada para lembrar as três décadas de falecimento de um dos ícones do chorinho. Imperdível!

 

·                     Se vivo estivesse, Renato Russo, o eterno líder da banda Legião Urbana, estaria completando cinco décadas de vida este ano. Enquanto o esperado tributo inédito gravado por Leila Pinheiro não chega às lojas, a gravadora EMI lança o CD “Duetos”, o qual, se aproveitando dos recursos digitais da tecnologia moderna, junta a voz grave do artista às de colegas como Adriana Calcanhotto, Dorival Caymmi, Fernanda Takai, Laura Pausini e Marisa Monte.

 

·                     Estreará em maio próximo em São Paulo o novo show de Marina Lima que se intitulará “Clímax” e trará, no roteiro, várias canções inéditas. A ideia é testar essas músicas para compor o repertório de um novo CD que deverá ser gravado ainda este ano.

 

·                     O terceiro DVD da carreira da cantora Mart’nália já está recebendo os últimos retoques a tempo de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, no próximo mês. Trata-se de “África”, um projeto dirigido por Roberto de Oliveira e gravado durante as apresentações que a filha de Martinho da Vila fez em Angola e Moçambique. Dentre os convidados há a cubana Mayra Andrade, o angolano Yuri da Cunha e o brasileiríssimo Carlinhos Brown.

 

·                     Geraldo Leite, ex integrante do grupo Rumo e intenso pesquisador musical, reuniu vários companheiros e alguns excepcionais músicos da atualidade e co-produziu, ao lado do violinista Swami Jr. e de Hélio Ziskind, o CD “Sopa de Concha”, o qual acaba de chegar ao mercado através da gravadora Biscoito Fino. São quinze faixas pouco conhecidas que foram pinçadas dos baús de, entre outros, Ary Barroso (“Meu Amor Não Me Deixou”), Lamartine Babo (“Menina das Lojas”) e Noel Rosa (“Não Resta a Menor Dúvida”, parceria com Hervê Cordovil). Além de Geraldo e Hélio, integram o time de intérpretes Ná Ozzetti, Luiz Tatit, Pedro Mourão, Akira Ueno e Paulo Tatit. Dentre os melhores momentos do disco estão as faixas “Fale Mal… Mas Fale de Mim” (de Ataulfo Alves e Marino Pinto), “Você Não Tem Razão” (de Pedro Caetano) e “Pão-duro” (insuspeita parceria entre Assis Valente e Luiz Gonzaga).

 

·                     Durante sua carreira, a cantora de jazz norte-americana Sarah Vaughan (que nos deixou em 1990) gravou três álbuns dedicados à música brasileira. O primeiro deles, “O Som Brasileiro de Sarah Vaughan”, lançado originalmente em 1978, acaba de receber nova edição dentro da série “Caçadores de Música” da gravadora Sony Music. No repertório (cantado em inglês) há canções de autoria de grandes nomes do cancioneiro nacional, a exemplo de Tom Jobim, Dorival Caymmi e Milton Nascimento. Um momento raro que merece ser conhecido por todos!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br   

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