R E S E N H A
Cantor: EDELSON PANTERA
CD: “BELAS IMAGENS”
Gravadora: MINAS RECORDS
Dentro do cenário da música sergipana, Pantera é sinônimo de qualidade há exatos vinte e seis anos. É, o tempo corre rápido e nem parece que já se passaram mais de duas décadas e meia desde que o artista alto, magro e esguio lançou-se no mundo da música ao participar da 1ª versão do Festival de Música Estudantil “Novo Canto”, realizado no Teatro Lourival Baptista em 1984! Talentoso ao extremo, ele conseguiu classificar-se em terceiro lugar com a canção “Lume”, lançada somente à época em vinil no formato de compacto duplo. A bela música (de delicada tessitura e construção harmônica eficiente) já dava pistas de que Sergipe estava por conhecer um músico de raras qualidades. Nascido em São Paulo, Pantera veio para Aracaju ainda criança e foi aqui decerto que ele formatou a base do que viria a sedimentar a sua obra.
Tendo participado, em seguida, de outros diversos festivais, ele consolidou de fato sua carreira durante as duas décadas seguintes cantando em diversos barezinhos locais. O sonho de lançar um CD com suas criações foi sendo empurrado e, mesmo com a cobrança de seus vários admiradores, precisou de seu tempo certo de maturação para chegar ao mundo.
A verdade é que as coisas acontecem quando têm de acontecer e o paciente Pantera precisou ver realizar o desejo antigo de conhecer o músico mineiro Toninho Horta (autor de “Beijo Partido” e “Manuel, o Audaz”, entre outras pérolas) para encontrar o anjo da guarda que o iria guiar na concretização de seu primeiro álbum. Foi quando Toninho veio, há poucos anos, se apresentar nesta Capital e, em meio a uma dúzia de artistas que se lhe apresentaram, caiu de amores, de pronto, pelas canções de Pantera, que tudo começou a fluir. A partir dali, a ideia de gravar um CD de Pantera sob sua produção veio-lhe à cabeça. Inicialmente, as gravações se deram por aqui, no Estúdio Capitania do Som, e com músicos sergipanos, mas o desejo de cristalizar um som eminentemente mineiro para o trabalho fez com que o produto final viesse a ser registrado quase em sua totalidade no Estúdio Bemol, em Belo Horizonte.
Através de show recentemente realizado no Teatro Tobias Barreto, fez-se lançado, então, de forma oficial, o primeiro CD de Pantera, intitulado “Belas Imagens” e que vem a ser também o lançamento inaugural da gravadora Minas Records (de propriedade de Toninho). Naquela oportunidade, Pantera explicou o porquê de, doravante, passar a se chamar artisticamente de Edelson Pantera (“Pantera em todo canto tem um, né? E se eu tinha que escolher um nome, por que não o meu, já que minha mãe tanto gosta?”). Encontrava-se visivelmente feliz e iluminado. E isso se justifica não somente pela realização de um sonho, mas também porque o fez com uma qualidade pouco antes vista por aqui.
O som do CD é realmente de primeira qualidade. Acompanhado por músicos de ponta como Cláudio Faria nos teclados, Esdra ‘Neném’ Ferreira na bateria, Lena Horta na flauta, Ricardo Cheib na percussão, Yuri Popoff no baixo e Chico Amaral no sax, entre outros, Pantera, que sempre se mostrou um exímio violonista, interpreta suas canções com uma apropriação peculiar. Ele gosta realmente do que faz e isso se torna nítido da primeira a ultima das quatorze faixas. Destas, treze são de autoria do próprio artista que se abre para apenas duas parcerias com o jornalista Ronaldson Souza: a já antológica “Oratório” (que conta com a participação especial do Coral Mater Ecclesiae) e “Maria Feliciana”. A única incursão por seara alheia se dá em “Velhas Serenatas”, de João Mello e Ismar Barreto, através da qual Pantera homenageia os dois saudosos artistas sergipanos.
O CD é aberto com a bonita e singela “Cantar É Dom de Deus” e segue nas mesmas tintas com a sutil “Chorando”. Além de dois temas instrumentais (“Arleide” e “Ploct Que Plon!”), há ainda outras homenagens explícitas: a Toninho Horta (na faixa “Toninho”), à terra natal (em “Matão”) e ao filho único João Mário (na deliciosa “My Baby The Sun”, um dos melhores momentos do álbum, ao lado da inspirada “Vai Barco”).
Quanto ao canto de Pantera, geralmente tão característico, esse termina soando bem mais plural, o que não deixa de ser um ganho, e o ouvinte mais atento irá encontrar ecos vocais até de outros dos nossos nomes, como Paulo Lobo (em “Maria Belas Imagens”) e Marco Vilane (no contagiante reggae “Submarina”). A única falta sentida no repertório é a da valsa “Cantando”, uma das obras-primas mais recentes criadas pelo artista.
Com seu esperado e belo CD em mãos, Edelson Pantera tem agora a chance de ver o seu trabalho reconhecido além fronteiras. O que lhe será muito merecido!
N O V I D A D E S
· O próximo filme do cineasta Paulo César Saraceni será baseado em “O Gerente”, um conto de Carlos Drummond de Andrade, e contará, em sua trilha sonora, com três gravações inéditas feitas por João Gilberto: um tema autoral inédito e duas releituras (para “Louco”, de Wilson Batista e Henrique de Almeida, e “Insensatez”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes).
· “Alborada do Brasil” é o novo CD de Carlos Núñez, uma das referências atuais da música celta. O álbum foi parcialmente gravado no Brasil e conta com as participações especiais de Dominguinhos, Carlinhos Brown, Yamandu Costa, Luiza Maita, Wilson das Neves, Lenine, Fernanda Takai e Adriana Calcanhotto.
· Alcione realizou recentemente um belo show em sua terra natal, São Luiz do Maranhão, o qual foi devidamente registrado para se transformar em um novo DVD que mostrará a cantora em encontros com vários artistas conterrâneos.· Chegará às lojas, ainda neste primeiro semestre, “D.N.A.”, o novo CD de Jorge Vercillo e que marcará sua estreia na gravadora Sony Music. O repertório é praticamente inédito e autoral, mas trará as versões do artista para as canções “Um Edifício no Meio do Mundo” (parceria com Ana Carolina e gravada anteriormente pela cantora) e “O Que Eu Não Conheço” (composta por Vercillo ao lado de J. Veloso e lançada por Maria Bethânia no recente “Tua”).
· O novo álbum do grupo Os Mutantes (intitulado “Haih… or Amortecedor”), até agora somente lançado no exterior, chegará ao mercado nacional em maio próximo através da gravadora Coqueiro Verde e incorporará algumas faixas inéditas.
· Chegará ao mercado no comecinho do próximo mês o CD “Vivo na Cena” que marcará a volta do cantor Nasi (ex grupo Ira!) ao mercado fonográfico nacional. Também disponível em DVD, o projeto juntará canções inéditas a músicas já bastantes conhecidas de nomes como João Bosco, Cazuza e Raul Seixas.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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