MUSIQUALIDADE

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

Cantores: VÁRIOS

CD: “RENATO RUSSO – DUETOS”

Gravadora: EMI

 

Se vivo estivesse, Renato Russo teria completado seu cinquentenário no mês de março próximo passado. Para não deixar passar em branco essa data fechada, várias homenagens estarão sendo feitas no decorrer de 2010, entre lançamentos de livros, vídeos e até filmes que remeterão ao líder da banda Legião Urbana, responsável por fazer a cabeça de toda uma geração.

A década de oitenta do século passado foi dominada, em todo o território nacional, pela explosão das bandas de rock. Várias delas se deram muito bem durante aquele período e exemplos disso são Barão Vermelho, RPM, Ultraje a Rigor, Kid Abelha e Os Paralamas do Sucesso. No entanto, não há como deixar de ressaltar que dois artistas cristalizaram, cada um a sua maneira, as idiossincrasias de uma juventude tanto fascinada quanto perplexa com as descobertas de um novo mundo. De um lado estava Cazuza, com suas letras regadas a dores de amores e contundentes petardos de ironia e sarcasmo; do outro, Renato Russo que falava como ninguém a linguagem libertária dos adolescentes. Ambos, infelizmente, foram pegos pela AIDS prematuramente, mas suas canções continuam por aí, mostrando-se, em sua grande maioria, atemporais.

Renato nasceu Renato Manfredini Junior e se transformou em Renato Russo para homenagear de uma só vez o iluminista suíço Jean-Jacques Rousseau, o filósofo inglês Bertrand Russel e o pintor francês Henri Rousseau. Em 1978, ainda um comum professor de inglês, ele criou em Brasília o Aborto Elétrico, grupo diretamente influenciado pelo punk rock inglês. Quatro anos após, montou a banda Legião Urbana que conseguiu, de imediato, sedimentar uma carreira de grande sucesso. Nos anos finais de vida, ele gravou concomitantemente, alguns discos solo, também recebidos com efusividade por público e crítica, através dos quais mergulhou em standards dos repertórios italiano e americano (ele era descendente de italianos e morou por um certo período nos Estados Unidos). Assumidamente bissexual, Renato possuía uma voz afinada e grave (que muito lembrava o timbre do cantor de hits populares Jerry Adriani) e teve suas composições regravadas por grandes nomes da nossa música brasileira, o que lhe credenciou como compositor.

Acaba de chegar às lojas através da gravadora EMI (a detentora de todo o acervo fonográfico de Renato) o CD “Duetos” no qual os seus milhares de fãs poderão conferir a voz do artista unida a quinze outros intérpretes. Como se poderia prever em um projeto como esse, o resultado não soa homogêneo, muito pela disparidade dos registros apresentados (alguns deles foram colhidos de gravações feitas ao vivo, sem grande apuro técnico). Entre encontros reais e outros virtuais, devem ser registrados o esforço do pesquisador e produtor Marcelo Froes e o acerto da masterização levada a cabo por Ricardo Carvalheira. Há grandes momentos como “Like a Lover”, versão do clássico “O Cantador”, de Dori Caymmi e Nelson Motta (em que a voz de Fernanda Takai, embora pequena, se sobressai com naturalidade), “Celeste” (com Marisa Monte deixando o homenageado brilhar) e “La Solitudine” (na qual Leila Pinheiro esbanja a técnica e a emoção costumeiras). Pinçadas de algumas participações especiais feitas ao longo da carreira de Renato, surgem “Mais Uma Vez”, “A Carta” e “A Cruz e a Espada”, respectivamente divididas com o grupo 14 Bis, Erasmo Carlos e Paulo Ricardo. Resgatados de registros praticamente caseiros estão lá quatro momentos que valem a pena pelo que apresentam de inusitados: “Só Louco” (com Dorival Caymmi), “Esquadros” (com Adriana Calcanhotto), “Nada Por Mim” (com Herbert Vianna) e “Summertime” (com Cida Moreira). Num trabalho louvável de restauração que certamente exigiu paciência e boa vontade em doses cavalares, também se ouve a voz de Renato unida a gravações já existentes de Cássia Eller e Zélia Duncan (em “Vento no Litoral” e “Catedral”). Completam o repertório registros recentes, especialmente feitos para o projeto por Caetano Veloso (“Change Partners”), Célia Porto (“Como uma Onda”) e Laura Pausini (“Strani Amori”).    

Renato Russo, se ainda permanecesse entre nós, decerto que estaria a produzir canções condizentes com o momento atual. Sua obra marcou muito e está aí para quem quiser ouvir. Trata-se de um mergulho nas angústias de um artista que soube se fazer eterno. Vale a pena conferir!

 

 

N O V I D A D E S

 

 

· Nesta terça-feira, dia 20 (véspera de feriado), a banda Maria Scombona estará realizando no bar Capitão Cook, na Coroa do Meio, um show em que homenageará Jackson do Pandeiro. Os cantores Alex Sant’anna e Ivan Reis são os convidados da noite. Só não vai quem for louco…

  

· O documentário “Filosofia de Vida”, que traça um perfil biográfico de Martinho da Vila, será brevemente lançado em DVD pela gravadora MZA Music. Simultaneamente, chegará também às lojas muito em breve a trilha sonora do filme em CD. Ana Carolina é a única convidada especial.

 

· Gilberto Gil promete, ainda para este ano, o lançamento de um novo disco voltado para o mercado junino, o qual aliará clássicos da música nordestina com canções autorais inéditas. Intitulado “Fé na Festa”, o projeto precederá o alardeado (e por diversas vezes adiado) CD de sambas que o artista tenciona gravar já há um certo tempo.

 

· O incansável pesquisador Rodrigo Faour encontrou recentemente, nos arquivos da gravadora Universal, gravações ao vivo de três shows antigos da cantora Gal Costa. São eles: “Índia”, “Cantar” e “Gal Canta Caymmi” (este contou, inclusive, com a participação especial do próprio Dorival), respectivamente realizados em 1973, 1974 e 1976. A ideia é, após trabalhar na depuração do som dos mesmos, lançá-los em CD já no próximo ano.

 

· E falando em Gal, a baiana parece que resolveu acordar do sono profundo em que se encontra já há algum tempo e promete não somente estrear um show este ano, o qual terá um caráter retrospectivo, contendo sucessos de sua carreira, como também lançar um novo CD em 2011 com produção assinada por Caetano Veloso.

 

· “Passageiro” é o sugestivo título do segundo CD do cantor e compositor Rodrigo Maranhão (um dos queridinhos de Maria Rita, Roberta Sá e Anna Ratto, entre outras). O produto estará chegando às lojas no próximo mês através do selo MP,B e terá a distribuição da gravadora Universal.

 

· O Trio de Câmara Brasileiro (formado por Caio Cezar, Alessandro Valente e Pedro Amorim) está lançando, através do selo Crioula Records, o CD intitulado “Saudades de Princesa” através do qual são resgatados dez temas de autoria de Canhoto da Paraíba, grande compositor e músico que se notabilizou nas rodas de chorinho. Imperdível!

 

 

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br   

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