M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A CD: “+ DO QUE PARECE” Gravadora: FLAUTIM 55 Será que alguém já ouviu falar em duas compositoras chamadas Heloísa Orosco Borges da Fonseca e Lúcia Helena Carvalho e Silva? Muito provavelmente, não! Mas se for dito que esses são os nomes de batismo de Luli e Lucina, dupla musical que se formou na década de setenta e se consolidou nas seguintes, muita gente irá cair em si e recordar sucessos gravados, entre outros, por Ney Matogrosso, Joyce e Nana Caymmi. Pesquisadoras de ritmos e instrumentos de percussão, elas moraram durante anos em um sítio, onde promoviam oficinas e shows musicais. Em 1997, no entanto, resolveram se separar e, de lá para cá, cada uma a sua maneira vem continuando a compor e a lançar discos com regularidade. Lucina, em especial, mergulhou de cabeça na carreira solo. Dona de um belo timbre grave (ainda em perfeita forma, diga-se de passagem), ela acaba de lançar um novo CD através da gravadora Flautim 55. Intitulado “+ do Que Parece”, trata-se de um trabalho especialmente compacto, já que composto por apenas nove faixas, e que registra apenas parcerias feitas por ela com Zélia Duncan. A admiração recíproca é antiga e o emocionado (e emocionante) texto de apresentação contido no encarte do disco denota o quanto a amizade de Lucina é, de fato, especial para Zélia. Esta escreveu todas as letras do projeto e se mostra (como em geral) uma especialista em elucidar experiências amorosas. Suas constatações nessa seara não caem no lugar comum; muito pelo contrário, em várias passagens beiram a genialidade. Ela nunca se faz totalmente óbvia: as emoções que pretende retratar se esboçam através das diversas nuances contidas nos versos que, via de regra, não são construídos de forma convencional. Lucina, por seu lado, comprova ser uma ótima construtora de melodias. Sobre as ideias da parceira, ela se derrama com talento, fugindo dos refrões sorrateiros e das pegadas fáceis. Complexo seria aqui tentar explicar o porquê de terem sido somente nove as canções escolhidas (seis delas são inéditas) e também o motivo de terem sido essas as selecionadas, uma vez que existem muitas outras belas canções criadas por ambas (os sucessos “Coração na Boca” e “Miopia” são alguns exemplos). Mas o fato é que o trabalho (embora deixe, ao final, um gostinho de “quero mais”) se revela coeso. A direção musical de Ney Marques soube captar a essência artística de Lucina e o disco apresenta uma sonoridade simples, porém eficiente. Acusticamente concebido, é um dos melhores produtos da já considerável discografia individual de Lucina, a qual também se mostra virtuosa como instrumentista, já que executa o violão base em todas as faixas, guiando, certeira, o caminho dos arranjos. Desta forma, um sensível mosaico sonoro emoldurado por um espírito folk é exposto com segurança e graça, o que já se constata desde a primeira faixa, a suave “Olhos de Marte”, registrada originalmente pelo cantor Marcos Assumpção em 1999. Há momentos deliciosos, como a inteligente “Dias e Noites”, a bonita “Hora Marcada” e a surpreendente “Tom Zé” (de pegada afro), composta em homenagem a um gatinho que Zélia encontrou na rua e, por tangente, ao irrequieto compositor baiano. E enquanto as tarimbadas irmãs Alzira E e Tetê Espíndola surgem nos vocais da mediana “Na Areia”, as vozes das novatas Anelis Assumpção e Luz Marina conferem um molho todo especial à instigante “Sem Suspiros”, um dos melhores momentos do álbum, ao lado da delicada “Fim” que fecha o disco com beleza ímpar, adornada por apropriada kalimba a cargo do músico Décio Gioielli (ambas estas canções já foram gravadas anteriormente por Verônica Sabino em 1995). Completam o repertório o tema bluesy “Meu Amor, Você Sabe” e a poética “Há Tempos”. Enfim, o novo CD de Lucina é uma pequena joia rara que, como tal, deve ser admirada. E que venham novas parcerias entre ela e a sempre talentosa Zélia Duncan! N O V I D A D E S · No dia 07 deste mês (sexta-feira próxima, portanto), a dupla Chiko Queiroga & Antônio Rogério estará lançando oficialmente o primeiro DVD em um show especial que se realizará no Teatro Tobias Barreto a partir das 21 horas e contará com as participações das bandas Alapada e Reação e dos cantores Jorge Papapá e Gladston Rosa. A gente se vê por lá! · O cantor carioca Fabio Luna está trabalhando o seu CD homônimo, o qual foi efetivamente lançado no final do ano passado. Composto por dez faixas autorais, trata-se de um disco de sambas, produzido pelas mãos competentes de Eduardo Neves. Fabio canta bem e se mostra um compositor inspirado, merecendo destaque as faixas “Vai, Filhão!”, “Deixa Essa Mágoa Pra Lá” e “Eu Vou”. · A cantora capixaba Tamy certamente tirou a sorte grande quando teve “Vem Ver”, canção de sua própria autoria, escolhida para fazer parte do volume dois da trilha sonora da telenovela global “Viver a Vida”. Sempre executada quando se mostra uma panorâmica da cidade de Búzios onde reside um dos núcleos de personagens da trama, a música faz parte do segundo CD da artista, o qual é composto por onze faixas autorais e acaba de chegar ao mercado de forma independente. Tamy faz um som basicamente calcado na ambiência bossa-novista, mas modernizado por conta das programações eletrônicas que recheiam o repertório. Embora as músicas em si possuam um certo charme, no final paira uma sensação um tanto monocórdia. No entanto, a artista se mostra uma boa cantora, segura e de timbre agradável, mesmo sendo mister reconhecer que não possui uma grande extensão vocal. Gravado entre Rio de Janeiro e Vitória (ES), o disco teve faixas produzidas por sete nomes: Marcel Dadalto, Donatinho, Wanderson Lopez, Felipe Gama, Janja Gomes, Rodrigo Sha e Marcelinho da Lua. Em tempo: Tamy já conquistou um fã famoso, Roberto Menescal, tanto que recentemente compôs com ele duas canções, as quais farão parte do próximo trabalho do famoso violonista. · O baixista Jorge Ailton está lançando “O Ano 1”, seu primeiro trabalho solo como cantor e compositor, o qual leva a assinatura de Alexandre Vaz na produção. Composto por dez faixas autorais (algumas delas assinadas com parceiros), o CD do artista (que atualmente integra a banda de Lulu Santos) é basicamente voltado para o pop rock. Com bons arranjos e uma pegada firme, destacam-se no repertório, além da canção-título, as faixas “Soliquida”, “O Óbvio” e “Atropelada”, esta também gravada pelo citado Lulu em “Singular”, seu mais recente álbum. · O paulistano cantor Thiago Pethit (que já se aventurou anteriormente na carreira de ator) lança o CD “Berlim, Texas”, um trabalho independente produzido por Yury Kalil, integrante do grupo Cidadão Instigado. São onze canções autorais de tons melancólicos e românticos, dentre as quais há espaço para um bom tema composto em francês (“Voix de Ville”). As demais faixas são divididas, meio a meio, entre letras em português e em inglês. Entre os destaques figuram “Não Se Vá”, “Outra Canção Tristonha” e “White Hat”, esta contando com a participação, nos vocais, de nomes emergentes do cenário musical atual, tais como Tiê, Tulipa Ruiz e Tatá Aeroplano. Já o cantor do grupo paulista Vanguart, Hélio Flanders, surge como parceiro e convidado especial em “Forasteiro”. RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
Cantora: LUCINA
· A cantora sergipana Tânia Maria (que já assinou Tânia Sevla) prepara-se para lançar o seu primeiro CD. Trata-se de um trabalho no qual a artista, que também é compositora e atriz, reunirá canções com as quais participou de diversos festivais de música. Uma das nossas maiores intérpretes, ela (que é dona de potente voz aguda e afinada) há muito batalha com talento e determinação, já tendo atuado como backing vocal junto a grandes expoentes da nossa música, tais como Amorosa, Tonho Baixinho e Mingo Santana. Quem viver, ouvirá!
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