Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

 

Cantores: VÁRIOS

CD: “EMOÇÕES SERTANEJAS”

Gravadora: SONY MUSIC

 

É muito difícil, em meio a uma constelação de artistas de todos os tipos, alguém se destacar a um nível que se possa catalogar como genial. Até porque gosto de gente é algo muito pessoal e entram, na formação desse quesito, coisas mais complexas que a origem do universo. Mas o fato é que, no Brasil, temos alguns exemplos. Pouquíssimos, é verdade, mas temos. No tocante ao esporte, Pelé é incomparável. Silvio Santos, no que tange à área da comunicação, já faz parte da história nacional. E na seara musical, objetivo maior desta Coluna, difícil não se deixar levar pelo carisma de Roberto Carlos. Pode-se ou não apreciar as suas canções (e – claro! – há que se constatar que, de uns tempos para cá, ele vem levando a carreira em banho-maria), mas o fato é que nenhum outro astro da música chega perto do Rei (alcunha que lhe é por demais merecida), seja em quantidade de discos vendidos, seja no enorme número de admiradores que parece aumentar a cada geração.

Menino pobre de Cachoeiro do Itapemirim, cidade do interior do Espírito Santo, ele, desde cedo, revelou aptidões artísticas. O destino lhe reservou o estrelato (iniciado com o boom da Jovem Guarda), mas também vários dissabores, como a perda, ainda na infância, de parte de uma das pernas, o problema de visão do filho Segundinho, as separações de suas duas primeiras mulheres e o falecimento precoce da terceira. Religioso, o artista resiste bravamente a tantos dissabores e mantém uma postura única: reservado como pessoa, prefere mergulhar em uma intensa rotina anual de shows dentro e fora do país, o que sempre o coloca na mídia de forma positiva.

Desde o ano passado que ele vem comemorando os cinquenta anos de uma carreira mais que vitoriosa. Realizou uma mega turnê, após dividir o palco com Caetano Veloso homenageando a Bossa Nova, e recebeu várias cantoras da nossa MPB em espetáculo que ganhou registro áudio-visual. Em março deste ano, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, foi a vez de os chamados “sertanejos” se reunirem para prestar reverência ao Rei. É o registro desse espetáculo que a gravadora Sony Music acaba de pôr no mercado, nos formatos CD duplo e DVD, sob o título de “Emoções Sertanejas”. O show terminou elastecendo o conceito inicial para abrigar nomes como Elba Ramalho e Dominguinhos, por exemplo (típicos representantes da música nordestina), além de Martinha e Nalva Aguiar (cantoras ligadas às já antigas ‘jovens tardes de domingo’, as quais cantaram “As Curvas da Estrada de Santos” e “Alô”, respectivamente).

Diferente do que aconteceu no supracitado show com as cantoras em que algumas delas optaram por interpretar canções que ficaram famosas na voz do Rei, mas não necessariamente foram por ele criadas (o que soou estranho, revelando, de certa forma, uma direção frouxa), neste, ora em análise, apenas Elba resolveu sair da obra autoral da dupla Roberto e Erasmo Carlos, escolhendo “Esqueça” (versão de Roberto Côrte Real para tema de Mark Anthony).

Os demais artistas, ancorados por arranjos de Eduardo Lages (que conhece como poucos o cancioneiro de Roberto, uma vez que é seu maestro há anos), mergulharam em vários dos maiores sucessos compostos pelo Rei ao lado do Tremendão, tendo somente quatro deles optado por músicas menos conhecidas. Nesse rol, encaixam-se Sérgio Reis (“Todas as Manhãs”), Almir Sater (“O Quintal do Vizinho), Roberta Miranda (“Eu Disse Adeus”) e Leonardo (“Por Amor”), consolidando-se como destaques. Outros bons momentos ficaram por conta de Gian & Giovani  (“Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo”), Victor & Léo (“Jesus Cristo”), Milionário & José Rico (“A Distância”) e Chitãozinho & Xororó (“Eu Preciso de Você”). O próprio Roberto dá o ar da graça ao entoar “Como É Grande o Meu Amor Por Você” (devidamente acompanhado pelo público presente), antecipando o grande final que acontece quando todos juntos cantam “Eu Quero Apenas”.

Certamente, esse é um projeto que irá vender muitíssimo bem. Põe o repertório do Rei a serviço de várias duplas de sucesso e de artistas de forte apelo comercial. As canções de Roberto e Erasmo, recheadas de um romantismo exacerbado, são, de fato, um prato cheio para interpretações grandiloquentes, encaixando-se perfeitamente naquilo que anseiam os milhares de corações apaixonados. E é por isso que Roberto continua sendo o Rei!  

 

 

N O V I D A D E S

 

· Após o encontro de amigos que haviam enveredado por caminhos profissionais diferentes, mas que possuíam em comum a paixão pela música, surgiu a banda Pense N’eu, eminentemente sergipana e formada por Marcelo Maia na voz, Moabe Hasem no baixo, Fred na guitarra, Mimi e Junior nas sanfonas e Josimar na bateria. Desde o ano passado ela está na ativa, mostrando um trabalho de categoria que vem se destacando pela qualidade ímpar em meio a tantas outras que adotam um formato pasteurizado e descartável. Para o São João deste ano (que, aliás, está batendo às nossas portas), a banda já está com a agenda lotada com vários shows fechados em diversos municípios sergipanos, o que já a credencia como uma das grandes revelações juninas dos últimos tempos. Objetivando apresentar o seu som a uma fatia cada vez maior de público e poder divulgá-lo de forma eficiente, foi gravado um CD ao vivo contendo vinte e duas faixas através das quais os ouvintes podem se deleitar com o melhor do forró. São xotes e baiões que dão o tempero certo para um rola-coxa arretado. Há a participação especial de Anderson (baterista que trabalhou na Banda do Faustão e hoje acompanha a dupla Bruno & Marrone) e o repertório é composto por várias regravações, algumas trazendo para o clima junino sucessos originalmente registrados em outros ritmos, mas é necessário destacar que os integrantes da banda também compõem e o fazem de maneira muito legal. É nesse campo autoral que são apresentados os temas “Todo Dia”, “Casar Pra Que”, “Jogo do Amor”, “Mulher Filé”, “Xamegar da Sanfona” e “Balanço da Rede”, os quais terminam por se consubstanciar como os grandes destaques do álbum (as duas primeiras, inclusive, são as chamadas músicas de trabalho). A distribuição do disco e o projeto de execução junto às rádios fica sob o comando do competente radialista e empresário John Kleber. Vale super a pena conhecer o ótimo trabalho da galera!   

 

· “Zé Ramalho Canta Jackson do Pandeiro” é o título da homenagem que o artista paraibano presta ao mestre da divisão rítmica. Nas lojas através do selo Discobertas, o CD une seis faixas gravadas anteriormente por Zé a seis outras registradas especialmente para o projeto (“Quadro Negro”, “Lá Vem a Boiada”, “Forró na Gafieira”, “Cabeça Feita”, “Forró de Surubim” e “Lamento Cego”).

 

· A gravadora Coqueiro Verde presta uma homenagem à cantora Astrud Gilberto (que recentemente completou sete décadas de vida e decidiu encerrar sua carreira em 2001) e acaba de lançar o DVD “Festival” que exibe show feito pela baiana (radicada nos Estados Unidos desde 1963) no Lugano Jazz Festival. No repertório de clássicos, destacam-se “Canto de Ossanha” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), “Águas de Março” e “Dindi” (ambas de Tom Jobim).

 

· O compositor Mombaça reedita o seu CD “Afro Memória + Pretinhosidade”, agora pela gravadora Biscoito Fino. O trabalho foi remasterizado e ganhou nova capa, bem como a adição de três novas faixas (“Pra Viver ou Morrer de Amor”, “Denegrir” e “Obnubulado”, respectivamente com as participações vocais de Lokua Kanza, Maria Hime e Mart’nália).

 

· Produzido pelo sambista Leandro Sapucahy, já começa a ser formatado o próximo CD de Marcelo D2, o qual será inteiramente voltado para regravações de canções originalmente registradas por Bezerra da Silva.

 

· O exímio violonista Arthur Nestrovski revisita o repertório de Chico Buarque no belo CD instrumental intitulado “Chico Violão”, um lançamento da gravadora Biscoito Fino. São quinze faixas, formatadas em arranjos para violão solo, que traçam um painel da obra do compositor de olhos cor de ardósia. Dentre os melhores momentos estão “Soneto”, “Embebedado” e “Tatuagem”.

 

· Lançado pela Prefeitura de Fortaleza (CE), o CD “Quando Fevereiro Chegar” é um tributo à obra do compositor e poeta Fausto Nilo. Produzido por Robertinho de Recife, o disco traz doze faixas contendo regravações inéditas de grandes sucessos letrados pelo artista, a exemplo de “Pão e Poesia”, “Chão da Praça” e “Chorando e Cantando”. As interpretações ficaram a cargo de um elenco estelar composto por Elza Soares, Fágner, Caetano Veloso, Ivan Lins, Zeca Baleiro, Carlinhos Brown, Zé Ramalho, Moraes Moreira, Fernanda Takai, Geraldo Azevedo e Jorge Vercillo.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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