Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

 

Cantora: TERESA CRISTINA

CD: “MELHOR ASSIM”

Gravadora: EMI

 

Quando, em 1998, a cantora Teresa Cristina começou a se apresentar em casas noturnas do bairro carioca da Lapa, talvez não esperasse que a receptividade para com seu trabalho fosse tamanha a ponto de, em 2002, ser convidada para gravar o CD duplo “A Música de Paulinho da Viola”, o qual terminou lhe rendendo o Prêmio TIM como cantora revelação daquele ano. Esse foi o pontapé inicial de uma carreira que começou a efetivamente ser reconhecida em 2004 com o lançamento do disco “A Vida Me Fez Assim”, em que Teresa se fez acompanhar pelo Grupo Semente e estreou como profícua compositora. No ano seguinte, veio “O Mundo É Meu Lugar” que se transformou em seu primeiro projeto ao vivo. Na atual gravadora, a EMI, ela debutou com “Delicada”, lançado em 2007, no qual aliou composições próprias com regravações pinçadas a dedo, o que vem se transformando em uma constante no seu trabalho. Ano passado, junto com Rita Ribeiro e Jussara Silveira, ela excursionou com o belo espetáculo “Três Meninas do Brasil” e também realizou, em outubro, no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, o show “Melhor Assim”, cujo registro ao vivo acaba de chegar às lojas nos formatos CD e DVD.

Constata-se que Teresa está cantando cada vez melhor. Com timbre agradável e divisão típica de quem sabe e gosta de cantar sambas (sua verdadeira praia), ela está bem mais solta no palco e se permitiu arriscar no repertório, pescando canções de nomes mais voltados para a MPB tradicional. É esse o caso de “A Voz de Uma Pessoa Vitoriosa”, canção escolhida para abrir o novo trabalho a cappella, pérola menos conhecida de Caetano Veloso. E de “A História de Lily Braun”, parceria de Chico Buarque e Edu Lobo, anteriormente já gravada por Gal Costa, Leila Pinheiro e Maria Gadu. Essa canção, aliás, faz parte somente do DVD (que traz vinte e seis faixas, enquanto o CD se restringe a quatorze), assim como também, dentre outras, “Maria Joana” (de Sidney Miller), “O Que Vier Eu Traço” (de Alvaiade e Zé Maria), “A Felicidade” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em que Teresa resgata versos pouco lembrados da letra que estão na gravação original de João Gilberto) e “Orgulho” (de Waldir Rocha e Nelson Wederkind, sucesso antigo de Ângela Maria, que conta com a insuspeita intervenção vocal de D. Hilda, a mãe de Teresa).

O lançamento contempla ainda canções de autoria da própria cantora, como as bonitas “Convite à Tristeza” e “Lembrança”, a sincrética “Morada Divina” (parceria com Arlindo Cruz) e a inspirada “Guardo em Mim” (criada ao lado de Edu Krieger), além de cinco memoráveis encontros, três gravados em estúdio. É assim que comparecem Caetano Veloso em “Festa Imodesta” (dele mesmo), Lenine em “Trégua Suspensa” (parceria de Teresa com Lula Queiroga) e o já citado Arlindo Cruz em “Coisas Banais” (esquecida criação de Candeia e Paulinho da Viola). No entanto, são os dois encontros registrados ao vivo que resultam nos melhores momentos: Seu Jorge encaixa com destreza sua voz grave ao timbre doce de Teresa em “Pura Semente” (de Arlindo Cruz e Acyr Marques) e Marisa Monte parece se sentir em casa ao dividir os vocais da melodiosa “Beijo Sem” (presente inédito de outra diva, a gaúcha Adriana Calcanhotto), cuja letra retrata uma mulher que celebra o lado bom da boemia.

Ao abrir o leque e desatar rótulos, Teresa conseguiu realizar um trabalho bem bacana que tem fôlego suficiente para se transformar em um dos álbuns mais vendidos deste ano. Com produção assinada por Paulão 7 Cordas e acompanhada por músicos que entendem do riscado, dentre os quais o cavaquinista João Callado, o flautista Alexandre Caldi e os percussionista Mestre Trambique, Pretinho da Serrinha e Marcos Esguleba, a artista acertou de verdade. Enfim, trata-se de um projeto à altura do talento de Teresa Cristina e que vem em muito boa hora, até porque, pelo menos até agora, 2010 tem se mostrado apático no que tange aos lançamentos nacionais. E no mais: viva o samba!

 

 

N O V I D A D E S

 

· Através do selo Discobertas, a banda Doidivinas lança o seu primeiro CD. Intitulado “Envenenada”, o trabalho é composto por dez faixas e apresenta, via de regra, um rock de pegada forte, construído pelos talentos de suas três integrantes (Flávia Couri nos vocais e guitarra, Luciana Morozini no baixo e Helga Balbi na bateria) e que traz como destaque a faixa-título, além de “Novelinha Devassa” e “Meu Novo Vício”. Há espaço ainda para incursões pelo country (“Country”) e pela música brega (“Vida de Cachorro Abandonado”).

 

· A alagoana Fernanda Guimarães está lançando seu primeiro CD através da gravadora Sala de Som. Produzido por André Agra e Norberto Vinhas, o álbum mostra uma cantora de voz segura e afinada, pronta para alçar vôos bem mais altos. É, de fato, uma grata revelação como intérprete, basta que se ouçam, por exemplo, as faixas “Bonita” (de Tom Jobim) e “De Que Callada Manera” (de Pablo Milanés e Nicolás Guillén, esta contando com a participação especial do cantor João Pinheiro). O trabalho, no entanto, perde um pouco o pique quando resvala para as canções inéditas, especialmente as assinadas pela própria Fernanda. Melhor resultado salta aos ouvidos quando ela mergulha nas obras de outros compositores emergentes, como é o caso das ótimas

“Tudo Embora” (de Fred Martins e Marcelo Diniz) e “Catarina Guerreira” (de Edu Krieger).

 

· Beatrice Mason é uma cantora carioca de timbre suave (que às vezes chega a lembrar Olívia Hime) pondo sua voz melodiosa a serviço do bom CD de estreia “Mosaico”, produzido por Rodrigo Campello, o qual chega às lojas através da gravadora Universal. Composto por onze faixas, o álbum é urdido com uma sonoridade delicada em meio a efeitos levados a cabo por programações, o que já se constata na faixa de abertura (“Samba Mínimo”, de Délia Fischer) que conta com a harpa mágica de Cristina Braga aliada a efeitos eletrônicos. O próprio Campello assina a autoria de “Algum Mistério” (ao lado de Marcelo Caldi e Mauro Aguiar), um dos destaques do repertório. Outros bons momentos ficam por conta de “Foi No Mês Que Vem” (de Vitor Ramil), “Oração Blues” (de Rodrigo Maranhão e Pedro Luís) e “Lilly Blonde” (do onipresente Edu Krieger, este presente em participação especial vocal na faixa “Canto Só”, canção de autoria de Raphael Gemal).

 

· Já se encontra disponível “Declaração”, o novo CD que une os talentos da cantora Wanda Sá e do violonista Roberto Menescal. Com ares minimalistas, o álbum é composto por quatorze faixas que alia canções inéditas a clássicos da bossa nova e da MPB, dentre criações assinadas por Chico Buarque, Ivan Lins e Oswaldo Montenegro.

 

· Enquanto se prepara para, dentro em breve, lançar o primeiro DVD solo da carreira (que traz a namorada e cantora Mallu Magalhães como convidada), o ex Los Hermanos Marcelo Camelo já se encontra em processo de gravação de seu segundo CD solo, o qual, da mesma forma que o anterior, contará com a participação do grupo Hurtmold, só que desta vez em todas as faixas.

 

· O cantor e ator João Sabiá está lançando seu novo CD. Intitulado “My Black, My Nega”, o trabalho apresenta doze canções autorais inéditas. A intenção do artista é evocar os grooves dos anos setenta através de um repertório que passeia por samba-rock, funk e soul.

 

· A banda de reggae Cidade Negra (já sem o guitarrista Da Gama e o vocalista Toni Garrido) acaba de lançar um novo CD. Intitulado “Que Assim Seja” e agora tendo à frente Alexandre Massau (permaneceram o baixista Bino Farias e o baterista Lazão), o trabalho foi produzido por Nilo Romero. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Vem Morar Comigo”, “Quem Diz que Homem Não Chora?” e “Sol de Verão”.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br   

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais