M U S I Q U A L I D A D E
R E S E N H A
Cantora: ISAAR
CD: “COPO DE ESPUMA”
Gravadora: INDEPENDENTE
Boa cantora que vem merecendo crescente espaço nos meios de comunicação, a pernambucana Isaar lançou recentemente, de maneira independente, o seu segundo disco. Intitulado “Copo de Espuma”, trata-se de um CD muito interessante que dá um salto substancial na carreira da artista, até agora mais associada a temas folclóricos e experiências eletrônicas quando em participações feitas para trabalhos alheios.
Isaar canta bonito, de maneira malemolente. Pronuncia as palavras como se estivesse a mastigá-las. Seu canto não possui vícios nem ela busca impressionar se utilizando de excessos interpretativos. Ao contrário, parece buscar a canção simples e limpa. Neste trabalho em especial, a opção por uma mixagem que sempre deixa sua voz em plano preponderante ao da base deixa clara esse intento. Com um timbre forte (que, em algumas passagens, evoca o da maranhense Rita Ribeiro e, em outras, o da cearense Amelinha), ela possui uma melancolia característica, talvez oriunda do gene africano que lhe corre às veias, mas que em momento algum cansa o ouvinte.
A cantora está completando dez anos de carreira. Ela integrou, durante o período de 1999 a 2004, o grupo Comadre Fulozinha e, desde então, é uma das cantoras preferidas do famoso DJ Dolores, o que tem ajudado a projetar o seu nome fora do Brasil.
O álbum recém-lançado é mais um dos contemplados na última leva do Projeto Pixinguinha. A considerável verba que cada um dos artistas selecionados recebeu foi muito bem usada pela artista. E isso é plenamente constatável já quando se depara com o belíssimo invólucro do disco. O projeto gráfico esmerado, com a utilização inclusive de verniz na capa e adjacências, vem adornado com fotos coloridas, onde predomina uma luminosidade amarela (cor de referência do trabalho) e merece registro especial, vez que não é com frequência que temos um produto assim às mãos.
Produzido pela própria cantora e com a musicalidade ancorada basicamente no tripé formado por Gabriel Melo na guitarra, Lito Viana no baixo e Sid3 na bateria (com intervenções de Fred04 no cavaquinho e Alessandra Leão e Ganga na percussão), o disco apresenta uma sonoridade bem interessante. No entanto, não se espere ouvir arranjos grandiloquentes, posto que eles estão lá para embalar as canções, sublinhando de forma apropriada várias de suas passagens, nunca tentando mascarar suas linhas nascedouras.
São dez faixas nas quais o tema predominante é o mar, com sua vastidão, seus mistérios e as metáforas que lhe cabem ser feitas. Isaar assina sozinha duas delas (a contagiante faixa-título) e “Caminho da Tarde”. Com o baixista Lito ela compôs “Olho d’Água” e “Onda Vem, Onda Vai” e com o guitarrista Gabriel ela criou “Olhos de Dendê”, o momento mais suave do trabalho. Ao lado dos dois e mais Sid 3, ela assina “A Fuga do Cangaceiro”. O restante do seleto repertório se completa com quatro canções alheias. Uma é “Ode Marítima” (melodia de Lito sobre poema de Fernando Pessoa); outra é a regravação de “Palhaço do Circo Sem Futuro” (de Lirinha e Clayton Barros), música que deu nome ao CD lançado em 2003 pelo hoje extinto grupo Cordel do Fogo Encantado, um dos melhores momentos do disco. Outros destaques são a ciranda “Preta Cirandeira” (de Nery e Saúde), oportuna homenagem à já histórica Lia de Itamaracá, e o frevo “É de Amargar” (de Capiba, composto em 1934) que fecha o álbum em grande estilo.
Para quem ainda não a conhece, trata-se de uma excelente oportunidade de ouvir Isaar, uma cantora que sabe valorizar a cultura de sua terra sem precisar fazer panfletagem. Sua escolha se apresenta verdadeira. Sua arte vem das raízes, mas não soa datada. Sua preocupação musical surge genuína, fugindo dos rasos modismos. Um CD obrigatório em toda e qualquer cedeteca que se preze!
N O V I D A D E S
· Chegou recentemente às lojas, através da gravadora Scubidu Records, o CD “Vol. 2”, o segundo álbum da cantora e compositora paulista Andreia Dias (que, antes de se lançar em carreira solo, participou das bandas Dona Zina e Glória, bem como do grupo Farofa Carioca). Ótima intérprete, ela peca por assinar como autora todas as onze faixas do repertório, o que termina por fazê-lo soar um tanto repetitivo, embora não se possa negar que sua arte possui personalidade. A sonoridade tenta transitar entre a vanguarda e o kitsch, voltando-se para um brega elegante, e os arranjos, muito bem executados, ficam a cargo da excelente banda que a acompanha (Ricardo Prado nos teclados, Luque Barros no baixo, Estevan Sinkovitz nas guitarras e Guilherme Kastrup na bateria – aliás, os dois primeiros são os responsáveis pela produção do disco, ao lado da própria artista). Há as participações especiais de Zeca Baleiro (em “Pomba Gira”), Arrigo Barnabé (em “Astro Rei”), Marcelo Pretto (em “Joia Rara”), Alzira E e Iara Rennó (em “Os Porcos Estão no Poder”). Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta das faixas “Nós Dois”, “Espelho da Alma” e “Noites”.
· Já se encontra disponível o CD de estreia do cantor e compositor brasiliense Túlio Borges, que vem sendo muito bem recebido por grandes críticos como Zuza Homem de Mello e Tárik de Souza. Intitulado “Eu Venho Vagando no Ar”, a produção independente inteiramente autoral é composta por uma dúzia de faixas das quais se destacam “Trem”, “Sua” e “Cicatriz”. Túlio canta bem legal e conta com as participações especiais de Fred Martins (em “Altar”) e de Vytória Rudan (em “Zorro”).
· O cantor Nasi (ex vocalista da banda Ira!) acaba de lançar, nos formatos CD (com quatorze faixas) e DVD (com três números a mais) e através da gravadora Coqueiro Verde Records, o projeto “Vivo na Cena”, o qual foi gravado ao vivo em São Paulo em setembro do ano passado. Com voz rouca e estilo underground que transita entre o blues e o rock, o artista alia temas inéditos (“Ogum” e “Aqui Não É o Meu Lugar”, por exemplo) a regravações como “Verdades e Mentiras”, do repertório dos Voluntários da Pátria, e “Carne e Osso”, esta gravada originalmente pelos Picassos Falsos. Entre os destaques estão “Desequilíbrio” (do grupo pernambucano Eddie) e “Bala com Bala” (de João Bosco e Aldir Blanc). A cantora Vanessa Krangold, do Ludov, divide os vocais da faixa “Por Amor”.
· No próximo ano, se vivo estivesse, Mário Lago estaria a completar cem anos. Para homenageá-lo, será lançado um CD que trará poemas do artista a serem musicados por nomes da música brasileira atual, tais como Lenine, Pedro Luís e Frejat. Deve vir coisa bem legal por aí!
· O terceiro e aguardado CD do cantor Fênix estará disponível no próximo mês. Intitulado “Ciranda do Mundo”, foi gravado ao vivo em novembro de 2008 durante show realizado na sala Baden Powell no Rio de Janeiro. No repertório bastante eclético, o talentoso artista inclui, entre outros, temas de Caetano Veloso, Zé Ramalho e Lula Queiroga.
· Michael Sullivan (autor que, ao lado de Paulo Massadas, dominou as paradas de sucesso dos anos oitenta com hits populares como, entre outros, “Deslizes”, “Estranha Loucura” e “Um Dia de Domingo”, gravados por Fágner, Alcione e Gal Costa, respectivamente) revê sua trajetória através de dois CD’s (vendidos separadamente) e um DVD, os quais acabam de aportar no mercado sob o título de “Na Linha do Tempo”. Bom cantor, ele revisita temas como “Leva”, “Amor Perfeito”, “Amanhã Talvez”, “Talismã”, “Me Dê Motivo” e “Retratos e Canções”. Há as participações especiais de Jorge Aragão, Arnaldo Antunes, Martinho da Vila, Daniel Jobim, Roberto Menescal e Carlinhos Brown.
· A banda Kid Abelha começará em breve a ensaiar show inédito que vai gerar provável registro ao vivo a ser editado em CD e DVD. Um novo álbum de inéditas também está nos planos do trio, só que para 2011.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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