Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

Cantor: CARLOS NAVAS

CD: “TECIDO”

Gravadora: LUA MUSIC

 

O cantor paulistano Carlos Navas é hoje, sem sombra de dúvida, uma das vozes masculinas mais bonitas do nosso imenso Brasil: de tessitura grave, possui grande extensão, permitindo-o atingir belos e precisos agudos.

Ele começou seu namoro com a música em 1986, inicialmente como divulgador e, logo em seguida, atuando como agente e divulgador de Alaíde Costa e Tetê Espíndola. Foi em 1992 que subiu ao palco pela primeira vez, soltando seus trinados. É que a cantora Alzira E estava para fazer um show e, afônica, recebeu o auxílio dele nos vocais. A partir daí, Carlos começou a desenvolver trabalhos em jingles e coros, até que, em 1996, montou o elogiado espetáculo “Canções e Momentos” com o qual percorreu diversos espaços em São Paulo. O primeiro álbum foi lançado no ano seguinte e de lá para cá ele vem desenvolvendo uma carreira ascendente que é marcada também por incursões na seara da música infantil, a exemplo dos discos “Algumas Canções da Arca…” e “Canções de Faz de Conta” em que revisitou temas assinados por Vinicius de Moraes e Chico Buarque, respectivamente, criados especialmente para a garotada. Em 2007, Carlos pôs no mercado aquele que, até hoje, é o seu disco mais comentado e elogiado: trata-se de “Quando o Samba Acabou”, um tributo dedicado ao cancioneiro gravado por Mario Reis, este um ícone do cancioneiro nacional.

É de forma alvissareira, pois, que acaba de chegar às lojas, através da gravadora Lua Music, o seu novo trabalho, o ótimo CD intitulado “Tecido”. Com a direção musical a cargo do exímio violonista Ronaldo Rayol e arranjos eficientes levados a cabo por músicos de ponta, tais como Eric Budney no baixo acústico, Nahame Casseb na bateria, Ubaldo Versolato nos sopros, Dino Barioni no cavaquinho, Moisés Alves no piano e Mario Manga no violoncelo, Carlos apresenta um trabalho coeso, composto por dez faixas que priorizam canções assinadas por jovens autores, os quais vêm despontando no cenário atual da nossa MPB.

E, como todo intérprete que não compõe, ele também tem alguns compositores preferidos. São nomes que ele geralmente grava, talvez porque tenham visões de mundo semelhantes, mas decerto porque conseguem dizer as coisas da forma como ele as entende. Estão nesse rol o grande Itamar Assumpção, presente com a deliciosa “Isso Não Vai Ficar Assim” (que conta com a participação especial de Lady Zu), Alzira E com a bossa “Quem Sabe” (parceria com Arruda) e a dupla Fred Martins e Marcelo Diniz (com “Contramão”, um dos pontos altos do repertório).

Antenado, Carlos selecionou outras músicas bem interessantes, como é o caso de “Onde o Vento Se Inventou” (de Paulo Padilha), “Hino dos Palhaços de Semáforo” (de Kleber Albuquerque) e “Deus Conserve Pra Sempre Meu Bom Senso Temperado a Pitadas de Loucura” (graciosa criação constante do primeiro álbum de Edu Krieger). Há ainda dois belos resgates: “Nove Luas” (de delicada teia melódica urdida por Mário Gil e que recebeu os versos sempre inspirados de Paulo César Pinheiro) e “Vôo de Coração” (grande sucesso oitentista de Ritchie que surge em impagável registro intimista urdido somente com piano e sax). A atriz Clarisse Abujamra aparece como convidada na introdução da faixa-título (uma parceria de Clarisse Grova e Léo Saramago), declamando fragmento de seu poema “Na Artéria”. Completa o set list a inusitada “Sequestraram Minha Sogra” (de Rodi do Jacarezinho, Sarabanda e Barbeirinho do Jacarezinho), um bem-humorado samba que se tornou conhecido na interpretação de Bezerra da Silva.

O talentoso Carlos Navas, um entusiasta da qualidade, faz de seu novo CD um belo exemplo de como se pode concretizar arte com classe e bom gosto. Imperdível!

 

 

N O V I D A D E S

 

· O cantor Fênix põe, enfim, nas lojas, através da gravadora Sala de Som Records, o seu terceiro CD (intitulado “Ciranda do Mundo”), o qual foi gravado ao vivo em novembro de 2008 durante show na Sala Baden Powell (RJ). Excelente intérprete, o artista pernambucano coloca sua voz extremamente aguda e afinada a serviço tanto de canções já bastante conhecidas (“Vaca Profana”, de Caetano Veloso, “Feira Moderna”, de Beto Guedes, Fernando Brant e Lô Borges, e “Sonho de Ícaro”, de Pisca e Cláudio Rabello) quanto de ótimos temas ainda pouco batidos (a exemplo de “Nhen, Nhen Nhen”, de Totonho, e “Forró dos Infernos S/A”, de Lula Queiroga). Em ambos os casos, ele se arrisca em versões bastante pessoais, marcando o trabalho com sua marca indelével. Também compositor, Fênix assina “Zapping”, “World”, “Marfim” e “Migalhas no Altar” (as duas últimas em parceria com Carlos Henrique e João Gaspar, respectivamente). Há as participações especiais de Zé Ramalho (em “Avohai”, de sua própria autoria) e de Silvia Machete (em “É Luxo Só”, de Ary Barroso e Luiz Peixoto). Muito legal!

 

· Estará chegando ao mercado na próxima semana o novo CD da banda mineira Pato Fu. Intitulado “Música de Brinquedo”, esse décimo trabalho trará algumas canções bastante conhecidas envolvidas em atmosfera lúdica, já que foram gravadas com a adição de instrumentos de brinquedo, além da participação vocal de crianças. Entre os temas selecionados estão “Primavera” (de Tim Maia), “Live and Let Die” (de Paul McCartney) e “Frevo Mulher” (de Zé Ramalho).

 

· A trilha sonora da telenovela “Ti-Ti-Ti” começa a tomar forma. Além de contar com uma nova versão da música homônima especialmente feita pela sua autora Rita Lee, também os Titãs retornaram ao estúdio para registrar, mais uma vez, a canção “Go Back”. No repertório estão ainda presentes, entre outras, “Seu Tipo” com Ney Matogrosso, “Crença” com Lenine, “Rapte-me Camaleoa” com Maria Gadu e “O que Eu Não Conheço” com Maria Bethânia.

 

·  Cibelle é cantora brasileira que, após dois CD’s voltados principalmente para o mercado europeu, já conseguiu certa visibilidade lá fora. Paulista atualmente radicada em Londres, ela acaba de fazer chegar ao Brasil, através da gravadora ST2, o seu mais novo álbum intitulado “Las Vênus Resort Palace Hotel”. Nele, a artista assume o papel de Sonja Khalecallon, hostess de um cabaré futurista situado em um mundo pós-tropicalista e que surge acompanhada pelo grupo Los Stroboscopious Luminous, o qual mistura músicos estrangeiros com brasileiros, dentre estes o baterista Pupilo (da Nação Zumbi) e o guitarrista Fernando Catatau (da banda Cidadão Instigado), além do tecladista Apolo Nove. Cibelle tem voz pequena, mas muito bem colocada (cujo timbre lembra, em várias passagens, o de Marisa Monte), fazendo-a soar apropriada com o auxílio de diversos efeitos. Apenas duas das quatorze faixas são cantadas em português: “Escute Bem” (com pegada que flerta com as canções de cunho popularesco) e “Sapato Azul” (que traz nítida influência dos Novos Baianos). Entre os melhores momentos estão a interessante “Underneath the Mango Tree” (tema do filme “007 Contra o Satânico Dr. No”), a delicada autoral “Sad Piano” e a quase latina “Frankenstein”. Para quem gosta de coisas exóticas é um prato cheio… 

 

· Fernando Salem lançou-se no mercado fonográfico em 1986 e, de lá para cá, vem atuando com frequência no cenário musical brasileiro. Atuou na banda Vexame (sucesso na década de noventa, ao lado da também atriz Marisa Orth), produziu vários álbuns infantis e foi o responsável por diversos roteiros e trilhas sonoras para programas televisivos. É esse compositor e cantor ainda pouco conhecido que acaba de pôr no mercado, de maneira independente, o CD intitulado “Rugas na Pele do Samba”, produzido por ele próprio e cujo repertório apresenta treze canções, onze delas autorais. Salem faz um trabalho que tem (conforme já ressaltado em seu título) como base condutora o samba, mas não se trata daquele samba tradicional. É um samba novo, recheado de programações eletrônicas e de samplers, muitas vezes entrecortado por citações e frases faladas. As regravações ficam por conta da obra-prima “Palhaço” (de Nelson Cavaquinho, Oswaldo Martins e Washington Fernandes) e da hilária “Olha o Padilha” (de Moreira da Silva, Ferreira Gomes e Bruno Gomes). Há as participações especiais de Caetano Veloso (na faixa-título), de Arnaldo Antunes (em “Odalisca”) e do titã Paulo Miklos (em “Transfiguração”).

 

· A cantora Luna Messina lança de maneira independente o CD “À Vontade”. Contando com as participações de Paulo Malaguti no piano, Domingos Teixeira no violão de sete cordas e Joca Perpignan na percussão, a artista realizou um trabalho simples, porém muito bacana. São dez faixas que alternam canções bem conhecidas (a exemplo de “Luz Negra”, de Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, “A Banca do Distinto”, de Billy Blanco, e “Feitiço da Vila”, de Noel Rosa e Vadico) com outras pinçadas de lados B das obras de compositores como Baden Powell (“Paciência”, parceria com Paulo César Pinheiro), Dominguinhos (“Contrato de Separação”, feita com Anastácia) e Moacyr Luz (“Só Dói Quando Eu Rio”, composta ao lado de Aldir Blanc). Vale a pena conhecer!

 

· Com o objetivo de comemorar quarenta anos de carreira, a cantora Célia está lançando até o final deste mês o CD “O Lado Oculto das Canções” através da gravadora Som Livre. O eclético repertório contempla, entre outras, Ana Carolina (“Aqui”, parceria com Antonio Villeroy), Biafra (“Vinho Antigo”) e Zélia Duncan (“Desejo de Mulher”, composta com Hamilton de Holanda), além de “Vidas Inteiras”, tema inédito de Adriana Calcanhotto que faz parte da trilha sonora nacional da telenovela global “Passione”. Ney Matogrosso é o convidado especial da faixa “Não Se Vá”, o maior hit da dupla Jane & Herondy.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

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