Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

 

Cantora: LEILA PINHEIRO

CD: “MEU SEGREDO MAIS SINCERO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Leila Pinheiro é, sem sombra de dúvida, uma das cinco melhores cantoras da atualidade em terras brasileiras. Dona de uma técnica irrepreensível, ela também sabe fazer aflorar a emoção como poucas. Paraense de Belém, começou a estudar piano aos dez anos, largando a faculdade de Medicina uma década depois para mergulhar de cabeça no mundo da música. Seu primeiro show teve o sugestivo título de “Sinal de Partida” e, logo no ano seguinte, em 1983, ela se mudou para o Rio de Janeiro onde gravou o seu primeiro disco de maneira independente, contando com as participações de Tom Jobim, Francis Hime e João Donato. Dois anos se passaram até que ela veio a conhecer o sucesso nacional ao defender a canção “Verde” (de Eduardo Gudin e Costa Netto) no Festival dos Festivais realizado pela Rede Globo. Em 1987, gravou o álbum “Olho Nu” e daí em diante vem colecionando ótimos trabalhos, a exemplo de “Bênção, Bossa Nova” (1989), “Catavento e Girassol” (1996) e “Na Ponta da Língua” (1998).

A admiração de Leila por Renato Russo vem de muito tempo. Já em seu disco “Alma” (1988) ela interpretou de maneira bastante pessoal o hit “Tempo Perdido”. Juntos, eles chegaram inclusive a compor a canção “Hoje”, lançada por ela no disco “Nos Horizontes do Mundo” (2005). A vontade de homenagear Renato de uma forma mais completa, no entanto, só se concretizou agora, no ano em que se comemoram cinco décadas de seu nascimento. E tal se dá com o lançamento do CD “Meu Segredo Mais Sincero”, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino.

Produzido pela própria artista, esse novo projeto é composto por quinze faixas, dentre as quais as duas canções já acima citadas que se fazem presentes em novas versões. Exímia musicista, Leila toca piano em várias passagens. Aliás, é esse instrumento a base dos arranjos do álbum que, minimalista, conta com as frequentes intervenções de Cláudio Faria (no teclado, violão e programações) e Webster Santos (na guitarra e no violão). Há, ainda, as participações especiais de Herbert Vianna (guitarra em “Quando Você Voltar”) e Dado Villa-Lobos (guitarra em “Andrea Doria” e “Daniel na Cova dos Leões”, de cuja letra, aliás, consta o verso que dá título ao disco).

Dentre as várias canções de Renato que se tornaram sucesso, Leila teve ter tido certo trabalho para pinçar as que compõem o álbum recém-lançado. Algumas, inclusive, já haviam sido registradas com êxito por outros artistas, como é o caso de “Ainda é Cedo” e “Eu Sei”, gravadas por Marina Lima e Cássia Eller, respectivamente.  Elas são dois dos melhores momentos do CD que também se mostra aberto a outras canções que fazem parte do inconsciente coletivo de toda uma geração. Nítido exemplo disso é “Índios”, canção de construção arrastada, que ganha novas tintas com a inclusão, em sua base, de um coro infantil composto por indiozinhos da tribo Guarani. Outras muito conhecidas que identicamente se transformam em destaque são “Angra dos Reis” e, em especial, “Há Tempos”. Por outro lado, Leila também selecionou alguns bons lados B que revelam, nas letras, a inquietude e angústia do compositor. É o caso de “O Teatro dos Vampiros” e “Metal Contra as Nuvens”.

Coeso, o disco se fecha com a interpretação a capella de “Perfeição”, inserida como vinheta no apropriado set list que inclui também um dueto póstumo de Leila com o homenageado em “La Solitudine”, música italiana que ficou famosa na voz da cantora Laura Pausini e que foi gravada por Renato em seu segundo CD solo, “Equilíbrio Distante” (1995).

Leila Pinheiro segue, certeira, sua trajetória singular ao lançar mais um produto que se firma como outro grande título de sua discografia. Mesmo para aqueles que nunca foram aficcionados pela obra de Renato Russo, faz-se super aconselhável conhecer esse belo CD.

 

 

N O V I D A D E S

 

· A italiana Chiara Civello tornou-se conhecida aqui no Brasil quando, no ano passado, a cantora Ana Carolina incluiu, no seu CD “N9ve”, três canções feitas entre elas. Essas e mais oito músicas compõem o repertório do álbum “7752” que Chiara faz chegar agora às lojas através da gravadora Sony Music. Trata-se de um disco trilíngue, posto que a artista canta em português, inglês e italiano. Dona de voz macia e afinada, Chiara conta com a presença da parceira Ana Carolina nos vocais da faixa “Resta”, além de dividir a autoria de mais duas canções e executar o característico violão em outras. Todos os temas apresentados são de autoria da própria Chiara, com exceção de “Un Uomo Che Non Sa Dire Addio”, da lavra de Antonio Villeroy.

 

· O gaúcho Vitor Ramil já demonstrou ser um ótimo compositor, tanto que artistas de ponta como Maria Rita, Gal Costa, Ney Matogrosso, Carlos Navas e Verônica Sabino, dentre outros, gravaram canções de sua autoria. Artista geralmente inspirado, ele lançou recentemente um novo CD (que vem acompanhado de um DVD que documenta a fase de gravações, traz depoimentos dos artistas e técnicos envolvidos e apresenta o clipe da canção “Querência”, adicional ao repertório) intitulado “Délibáb” (que vem do húngaro e quer dizer “miragem”), o qual é composto por uma dúzia de faixas e foi gravado no ano passado em Buenos Aires. São melodias delicadas que Ramil pôs sobre poemas do argentino Jorge Luis Borges e do brasileiro João da Cunha Vargas, transformando-as em milongas de clima soturno. Os únicos instrumentos utilizados são o violão de nylon de Carlos Moscardini e o violão de aço do próprio Ramil, o que conferiu ao trabalho um clima bastante linear. Não são definitivamente canções que irão tocar nas rádios, mas há bons momentos. Os melhores ficam por conta das faixas “Deixando o Pago”, “Tapera” e “Um Cuchillo en el Norte”. Caetano Veloso surge como convidado especial da faixa “Milonga de Los Morenos”.

 

· Com voz doce e afinada, a cantora Marcia Lisboa lança de maneira independente o CD “Nós e o Rio”. Produzido por Marcelo Pfeil (que, aliás, assina quatro das doze faixas do repertório, dentre elas as boas “Conversa Mole” e “Morena da Saia”), o trabalho é calcado no samba e suas variações. Dois dos destaques do disco ficam por conta de “Teu Sorriso” (de Fábio Moreno) e “Tem que Ser Samba” (de Janaína Azevedo). As duas únicas regravações (“Acertei no Milhar”, de Wilson Batista e Geraldo Pereira, e “Com que Roupa”, de Noel Rosa) comprovam, no entanto, que a parte inédita poderia ser bem mais interessante, haja vista a qualidade vocal da artista.

 

· Gravado em maio do ano passado durante apresentação no Cinemathèque (casa de espetáculos moderninha do Rio de Janeiro), o CD “Ao Vivo” de Hyldon somente agora chega ao mercado. Disponível também no formato DVD, o trabalho agrega os maiores sucessos do artista, tais como “Na Sombra de uma Árvore”, “Velho Camarada”, “Quando o Amor Chegar”, “As Dores do Mundo” e – é claro! – “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”. Há as participações especiais de Bebeto, Carlos Dafé e Michael Sullivan, entre outros. Alguns bons momentos ficam por conta de “Cuidado Pra Não Virar Jazz”, “Sábado e Domingo” e “Vamos Passear de Bicicleta?”.

 

· A gravadora Sony Music repõe em catálogo o CD “Meu Fado”, lançado por Fafá de Belém no Brasil em 1992, depois de obter uma receptividade fora de série em Portugal. Com a voz então em seu apogeu, a visceral intérprete entregou-se a treze temas passionais, entre eles “Nem às Paredes Confesso”, “Só à Noitinha”,“Olhos Castanhos”, “Só Nós Dois” e “Tudo Isto é Fado”. A canção brasileira “Memórias”, grande sucesso da cantora em 1986, também foi incluída no repertório com um arranjo devidamente adaptado ao conceito do álbum.

 

· “Lembranças Cariocas” é o título do belo CD lançado originalmente em 2002 e que agora volta ao catálogo, em reedição da gravadora Biscoito Fino. Produzido por Lefê Almeida, o álbum reúne as vozes de Nilze Carvalho, Pedro Miranda e Pedro Paulo Malta num agradável passeio musical que põe o ouvinte em contato com pérolas atemporais de autoria de Dorival Caymmi, Cartola e Lupicínio Rodrigues, entre outros. O disco é todo ele um primor, mas não dá para deixar de destacar algumas músicas, tais como “Amargura” (de Radamés Gnattalli), “Coração” (de Alberto Ribeiro), “Poeira no Chão” (de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti), “Mundo de Zinco” (de Wilson Batista e Nássara) e “Estrela do Mar” (de Paulo Soledade e Marino Pinto). Há as participações vocais de Cristina Buarque em “Me Deixe em Paz” (de Monsueto e Airton Amorim) e de Paulão em “Barão das Cabrochas” (de Bide e Marçal). Ao final, Chico Buarque surge recitando o poema “Canto do Rio em Sol”, de Carlos Drummond de Andrade, feito em tributo à cidade do Rio de Janeiro.

 

·   Sérgio Mendes está lançando no Brasil o CD duplo “Bom Tempo”. Músico bastante reconhecido no exterior, ele reúne grandes temas do nosso cancioneiro, como “Maracatu Atômico”, “Caminhos Cruzados”, “Caxangá”, “País Tropical” e “Mas Que Nada”, entre outros. O CD 1 apresenta arranjos recheados de programações e diversos convidados, tais como Carlinhos Brown, Seu Jorge, Gracinha Leporace e Milton Nascimento. Já o CD 2 traz praticamente as mesmas canções em azeitadas versões remix.

 

· Segundo colocado na edição 2009 do programa “Ídolos”, o ótimo cantor Diego Moraes estreia no mercado fonográfico com o CD intitulado “Meus Ídolos”, um lançamento da gravadora EMI. O eclético repertório traz, em sua maioria, canções bastante conhecidas, a exemplo de “Punk da Periferia” (de Gilberto Gil), “As Rosas Não Falam” (de Cartola) e “Explode Coração” (de Gonzaguinha), mas também apresenta uma inspirada criação do talentoso Maurício Baia (“Lembrei”) e um tema assinado pelo próprio Diego (“Muderno”). A cantora Paula Lima participa da faixa “Partido Alto” (de Chico Buarque).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

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